Publicamos aqui uma carta aberta em vários idiomas de Frei Betto sobre a situação dramática do Brasil com crimes de lesa-humanidade e de risco de genocídio de povos indígenas por parte do Presidente Jair Bolsonaro. O desprezo pela vida e a irresponsabilidade de não ter políticas públicas adequadas para sustar a propagação do Covid-19 não tem paralelo no mundo. Estamos diante de uma figura que ama mais a morte que a vida, que, indiferente, vê milhares de seus compatriotas falecerem sem se importar e sequer se solidarizar com os que choram seus entes queridos levados pelo terrível vírus. A reação interna é desorganizada e frágil. As autoridades oficiais que deveriam agir, não estão tomando as medidas necessárias. Podemos estar diante de uma tragédia humanitária, com vítimas cujo número ultrapassa qualquer guerra dos últimos tempos, uma verdadeira dizimação de pessoas, a maioria delas acima de 35 anos. Publicamos este texto de Frei Betto como um grito profético de alerta, movido pela indignação face à insensibilidade reinante e pelo amor aos cerca de dois milhões de afetados e dos parentes das vítimas que já se aproximam dos 80 mil. Este apelo à humanidade configura um imperativo humanitário, ético e espiritual. Temos que agir em nome da vida e para salvar vidas contra quem não cultiva a biofilia mas a necrofilia. L.Boff
Frei Betto: crimes do Presidente Jair Bolsonaro de lesa-humanidade
Queridos amigos e amigas do mundo inteiro
No Brasil ocorre um genocídio! No momento em que escrevo, 16/7, a Covid-19, surgida aqui em fevereiro deste ano, já matou 76 mil pessoas. Já são quase 2 milhões de infectados. Até domingo, 19/7, chegaremos a 80 mil vítimas fatais. É possível que agora, ao você ler este apelo dramático, já cheguem a 100 mil.
Quando lembro que na guerra do Vietnã, ao longo de 20 anos, 58 mil vidas de militares usamericanos foram sacrificadas, tenho o alcance da gravidade do que ocorre em meu país. Esse horror causa indignação e revolta. E todos sabemos que medidas de precaução e restrição, adotadas em tantos outros países, poderiam ter evitado tamanha mortandade.
Esse genocídio não resulta da indiferença do governo Bolsonaro. É intencional. Bolsonaro se compraz da morte alheia. Quando deputado federal, em entrevista à TV, em 1999, ele declarou: “Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, se um dia partirmos para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil”.
Ao votar a favor do impeachment da presidente Dilma, ofertou seu voto à memória do mais notório torturador do Exército, o coronel Brilhante Ustra.
Por ser tão obcecado pela morte, uma de suas principais políticas de governo é a liberação do comércio de armas e munições. Questionado à porta do palácio presidencial se não se importava com as vítimas da pandemia, respondeu: “Não estou acreditando nesses números” (27/3, 92 mortes); “Todos nós iremos morrer um dia” (29/3, 136 mortes); “E daí? Quer que eu faça o quê?” (28/4, 5.017 mortes).
Por que essa política necrófila? Desde o início ele declarou que o importante não era salvar vidas, e sim a economia. Daí sua recusa em decretar lockdown, acatar as orientações da OMS e importar respiradores e equipamentos de proteção individual. Foi preciso a Suprema Corte delegar essa responsabilidade a governadores e prefeitos.
Bolsonaro sequer respeitou a autoridade de seus próprios ministros da Saúde. Desde fevereiro o Brasil teve dois, ambos demitidos por se recusarem a adotar a mesma atitude do presidente. Agora, à frente do ministério, está o general Pazuello, que nada entende de questão sanitária; tentou ocultar os dados sobre a evolução dos números de vítimas do coronavírus; empregou 1.249 militares em funções importantes do ministério, sem a requerida qualificação; e cancelou as entrevistas diárias pelas quais a população recebia orientação.
Seria exaustivo enumerar aqui quantas medidas de liberação de recursos para socorro das vítimas e das famílias de baixa renda (mais de 100 milhões de brasileiros) jamais foram efetivadas.
As razões da intencionalidade criminosa do governo Bolsonaro são evidentes. Deixar morrer os idosos, para economizar recursos da Previdência Social. Deixar morrer os portadores de doenças preexistentes, para economizar recursos do SUS, o sistema nacional de saúde. Deixar morrer os pobres, para economizar recursos do Bolsa Família e de outros programas sociais destinados aos 52,5 milhões de brasileiros que vivem na pobreza e aos 13,5 milhões que se encontram na extrema pobreza. (Dados do governo federal).
Não satisfeito com tais medidas letais, agora o presidente vetou, no projeto de lei sancionado a 3/7, o trecho que obrigava o uso de máscaras em estabelecimentos comerciais, templos religiosos e instituições de ensino. Vetou também a imposição de multas para quem descumprir as regras e a obrigação do governo de distribuir máscaras para os mais pobres, principais vítimas da Covid-19, e aos presos (750 mil). Esses vetos, no entanto, não anulam legislações locais que já estabelecem a obrigatoriedade do uso de máscara.
Em 8/7, Bolsonaro derrubou trechos da lei, aprovada pelo Senado, que obrigavam o governo a fornecer água potável e materiais de higiene e limpeza, instalação de internet e distribuição de cestas básicas, sementes e ferramentas agrícolas, para aldeias indígenas. Vetou também verba emergencial destinada à saúde indígena, bem como facilitar o acesso de indígenas e quilombolas ao auxílio emergencial de 600 reais (100 euros ou 120 dólares) por três meses. Vetou ainda a obrigação de o governo oferecer mais leitos hospitalares, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea a povos indígenas e quilombolas.
Indígenas e quilombolas têm sido dizimados pela crescente devastação socioambiental, em especial na Amazônia.
Por favor, divulguem ao máximo esse crime de lesa-humanidade. É preciso que as denúncias do que ocorre no Brasil cheguem à mídia de seu país, às redes digitais, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, e ao Tribunal Internacional de Haia, bem como aos bancos e empresas que abrigam investidores tão cobiçados pelo governo Bolsonaro.
Muito antes de o jornal The Economist fazê-lo, nas redes digitais trato o presidente por BolsoNero – enquanto Roma arde em chamas, ele toca lira e faz propaganda da cloroquina, remédio sem nenhuma eficácia científica contra o novo coronavírus. Porém, seus fabricantes são aliados políticos do presidente…
Agradeço seu solidário interesse em divulgar esta carta. Só a pressão vinda do exterior será capaz de deter o genocídio que assola o nosso querido e maravilhoso Brasil.
Fraternalmente,
Frei Betto
PS: esta Carta circula também em inglês, francês, espanhol e italiano.
Frei Betto é frade dominicano e escritor, assessor da FAO e de movimentos sociais.
Onde está a versão em Inglês?
Gustavo, está neste blog. É só olhar mais abaixo. lb
Pela graça do Bom Deus, Frei Betto, repleto de sensibilidade e competência, ergue um grito de socorro para as vítimas da TERRA DE SANTA CRUZ, nosso amado Brasil! A misericórdia de Deus tarda mas não falha! Tenho certeza de que , finalmente, vão começar a surgirem providências adequadas para tirar-nos de mãos tão insensíveis e incompetentes!
Não entendo o silêncio, a falta de socorro para o Brasil, verdade que bolsonaro foi eleito, mas provou ser incapaz de governar e a falta de autoridades oficiais com poder para fazer alguma coisa não têm dignidade e boa vontade! Precisamos urgentemente de socorro internacional.
Esse presidente é uma história que teremos vergonha de contar
Falta honestidade ao não ser considerado pelo subscritor que o Supremo, através do ministro Alexandre de Morais, determinou que as ações sobre os efeitos da pandemia seriam prioridade dos governadores e prefeitos, as responsabilidades deveriam ser também e principalmente creditadas aos governadores e prefeitos… E pensar que a atitude do Supremo, ou monocraticamente do ministro Alexandre tinha o objetivo principal de tirar o protagonismo do presidente, o que teve objetivo negativo no início se tornou uma situação favorável no fim. Apesar de matérias com viés distorcido como esta…
Governadores e prefeitos têm mais possibilidades de atuar no combate à pandemia por estarem mais próximos do problema. No entanto, Bolsonaro não deixou de ser presidente, e responsável pelos rumos da nação. Podia colaborar com governos e prefeituras, mas é beligerante, preferiu gerar a confusão e dar os piores exemplos.
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Publicamos aqui uma carta aberta em vários idiomas de Frei Betto sobre a situação dramática do Brasil com crimes de lesa-humanidade e de risco de genocídio de povos indígenas por parte do Presidente Jair Bolsonaro. O desprezo pela vida e a irresponsabilidade de não ter políticas públicas adequadas para sustar a propagação do Covid-19 não tem paralelo no mundo. Estamos diante de uma figura que ama mais a morte que a vida, que, indiferente, vê milhares de seus compatriotas falecerem sem se importar e sequer se solidarizar com os que choram seus entes queridos levados pelo terrível vírus. A reação interna é desorganizada e frágil. As autoridades oficiais que deveriam agir, não estão tomando as medidas necessárias. Podemos estar diante de uma tragédia humanitária, com vítimas cujo número ultrapassa qualquer guerra dos últimos tempos, uma verdadeira dizimação de pessoas, a maioria delas acima de 35 anos. Publicamos este texto de Frei Betto como um grito profético de alerta, movido pela indignação face à insensibilidade reinante e pelo amor aos cerca de dois milhões de afetados e dos parentes das vítimas que já se aproximam dos 80 mil. Este apelo à humanidade configura um imperativo humanitário, ético e espiritual. Temos que agir em nome da vida e para salvar vidas contra quem não cultiva a biofilia mas a necrofilia. L.Boff