Silhueta se Deus é um livro singular de alguém que tem um pé no meio do povo e dos pobres e outro pé na universidade e na academia. Fernando Altmeyer Junior é bem conhecido na PUC de São Paulo e em Sapopempa e outras localidades da periferia onde viveu ou trabalhou e ainda trabalha. Possui rigorosa formação acadêmica unida a um sério compromisso com os direitos humanos e a justiça social. Foi importante assessor do Cardeal Dom Paulo Evaristo e move-se bem nas entrevistas em rádios e em programas de televisão. É fascinado por números da história da Igreja antiga e moderna.Para as grandes festas litúrgicas prepara excelentes subsídios numa linguagem que todos entendem e situada na realidade de hoje. Onde aparece traz sorriso, alegria,senso de humor e é capaz de despertar a esperança do mais prostrado. Escrevi o prefácio ao seu livro, que publico aqui. Recomendo vivamente este belo livro por seu conteúdo moderno e especialmente por sua linguagem clara, leve e até poética: SILHUETAS DE DEUS, Vozes 2019. Lboff
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Eis o meu prefácio:
Finalmente um livro sobre o Deus cristão: a Trindade de Divinas Pessoas em eterno amor e infinita comunhão. O autor Fernando Altmeyer tem toda as virtudes para escrever este livro em três partes: Um grande diálogo com o Deus-Abbba; uma prosa com Jesus, o Filho amado e uma carícia do Espírito de Amor, o Espírito Santo.
A singularidade deste livro reside nisso: não aborda como os manuais as reflexões sobre o Deus cristão que é sempre a Trindade de Divinas Pessoas em comunhão e amor. Ele escreve como ele pessoalmente é: um teólogo e pastor que tomou a sério a opção pelos pobres e sua inserção no meio popular. E encontrou um meio de expressão adequado ao espírito de hoje.
Seus textos mostram alguém que frequentou a academia e ainda frequenta, como professor da PUC-SP mas nunca tirou os pés do meio do povo e da pastoral popular.
O livro revela grande erudição, mas não ostensiva que ofusca o olhar do leitor e da leitora, mas ela está a serviço da mensagem. Frequenta a literatura antiga do Padres da Igreja, dos filósofos gregos e dos escritores romanos. Visita os autores modernos, não só teólogos e pensadores, mas também escritores da literatura universal e valoriza enormemente as histórias e os diálogos com gente do povo que ele bem conhece.
Não faz grandes tratados como os já clássicos. Toma temas da vida cotidiana como a festa, a alegria, a felicidade, o silencio interior, as virtudes, a biografia de santos, santas e figuras seminais que nos inspiram até hoje e até um belo comentário à oração antes de dormir “Santo Anjo protetor, meu zeloso guardador…”
Não se recusa a tratar temas espinhosos como o do mal, do ateísmo, de gênero, mas sempre deixando as portas abertas e uma aura de esperança. Belíssimo é o ultimo capítulo dedicado a São Francisco de Assis e à Senhora Pobreza, possivelmente em homenagem ao Papa Francisco. Há de se sublinhar seu gosto pessoal pelas datas exatas, atrás de cada autor citado e de fatos do passado, com o dia e o ano.
Em tudo há leveza e jovialidade, próprias da personalidade de Altmeyer. Quando chega, traz sorriso, humor inteligente e uma irradiação de alegria de viver, mesmo quando se indigna sobre os escândalos da política e da própria Igreja.
Vale citar um texto que ele toma de um grande teólogo espanhol, Antônio Pagola, que escreveu um dos mais belos livros sobre Jesus de Nazaré e que mostra bem a linha de pensamento e a linguagem de Altmeyer:
“É muito raro em nossos dias ouvir pregar sobre a felicidade. Há tempos que ela desapareceu do horizonte da teologia. Ao que parece, esqueceu-se daquela explosão de júbilo que viveu nas origens o cristianismo e acabamos ficando exclusivamente com as exigências, a lei e o dever. A impressão global que os cristãos dão hoje é de uma fé que estreitaria e angustiaria a vida do homem, que aliena sua ação e mataria seu prazer de viver. A acusação de F.Nietzsche, em geral, é correta: não temos feições de redimidos, parecemos pessoas acorrentadas do que libertadas por seu Deus“(p.38).
Vale ler e meditar este livro, pois passa pelos principais temas da vida cristã com uma linguagem fluente, elegante e cheia de belos exemplos e metáforas criativas.
Destes escritores precisa o cristianismo de hoje. Temos teólogos e teólogas das várias igrejas cristãs que escrevem de forma erudita, mas que dificilmente chegam aos leitores e às leitoras da base. Este livro pode significar um desafio aos colegas para que sigam esta linha: sem diminuir a teologia e a reflexão séria, chegar finalmente, pela linguagem fácil e sugestiva, ao coração das pessoas.
Leonardo Boff
Petrópolis 12 de outubro, festa da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida
El libro do Altmeyer, poso congeguir no espanhol? E donde?
Obrigada
Farisca
Rosa,el libro acaba de salir en portugues, pero creo que saldrá pronto en español, creo por DABAR de Mexico.
um abrazo lboff
Tenho grande interesse em obras dessa natureza, interesse que, infelizmente, vi desaparecendo nos últimos anos pela teor proselitista daquelas que ganharam o mercado. Esta, pois, que o professor Boff apresenta, se fizer jus às suas palavras, prevejo que muito me alegrará a àqueles que pensam igual. O homem interior de todos nós, que expressa a vida espiritual que nos foi dada, reclama reflexões, carece de alimentos que vêm na forma de símbolos que devemos apreender, que ocorre no reforçar da esperança que ocasionalmente nos é arrancada, enfraquecendo nosso já frágil elo com a essência divina oculta nas coisas que nos passam despercebidas. A vida quase mercadológica que cultivamos nos cega para as pistas que o divino espalhou pela realidade humana a fim de dar-lhe um pouco de si mesmo, o que seria o suficiente para não sucumbírmos à lógica fria que termina por desmerecer até emoções nobres como o amor. Sorte ainda termos vozes como a dos professores Altmeyer Júnior e Boff. Grande abraço!
Ricardo, acho que vc vai se reencontrar lendo o livro do Fernando Altmeyer. É leve e profundo.
Encantadora a apresentação , irei imediatamente adquirir na nossa Editora Vozes!
Interessantíssimo e instigante tema,com certeza será uma palestra a ser estudada no meio universitário, é constitucionalíssima. Abraço, Isabel