Encontraram um testa de ferro, educado fora do país, para desempenhar esta nova tipologia de golpe: um justiceiro, juiz federal de primeira instância, Sérgio Moro e sua equipe de jovens peocuradores, infantilmente exibicionistas. Imbuídos de convicções messiânicas de limpar o país da corrupção – todos queremos – direcionam as investigações unicamente a um partido, ao PT. Desprezandos até agora todas as demais agremiações, com não menos atos de corrupção, concentram o foco nas figuras referenciais como o ex-presidente Lula, vários ex-ministros entre outros. Bem disse o ministro Marco Aurélio Mello:”Moro deixou de lado a lei, isso é escancarado”.
O novidade deste teatro político é a desfasatez do juiz e dos policiais federais de passar por cima de direitos, consagrados na constituição e em todo o mundo, como a presunção de inocência, aplicação da prisão preventiva ou coercitiva, sem qualquer necessidade, o intencional e irresponsável vazamento de gravações, sequer respeitando a suprema autoridade do país, como foi o caso da presidenta Dilma Rousseff, a delação premiada, conseguida sob forte pressão psicológica e a especialmente perversa espetacularização das ações policiais, avisando previamente meios de comunicação massivos em concluio com esses desmandos.
O mais grave é que o juiz Moro, sob os olhos complacentes e quem sabe cúmplices, do STF, criou uma nova figura juridica ao arrepio da Constitição: o tribunal de exceção. Afirma “que o processo não precisa seguir as regras dos processos penais comuns porque traz problemas inéditos que exigem soluções inéditas”. Em outras palavras: não precisa se subordinar à Constitição e às leis como todos. Cria uma soberania própria e um tribunal inédito, cujo nome verdadeiro é tribunal de exceção.
Pareceria que o juiz Moro tanto estudou a máfia italiana e os métodos norte-americanos que se tornou ele mesmo um mafioso da justiça ou um seguidor do jurista Carl Schmitt que, no tempo do nazismo, defendia uma soberania absoluta, conforme a vontade do “Führer” ou do “Ducce”(“o Führer e o Ducce sempre têm razão”, se dizia). Segundo este jurista, é a decisão do chefe que funda o direito e não ao contrario: é o direito que limita a decisão do chefe (cf.O conceito do político, Vozes 1992).
Entre muitas razões subjacentes a este golpe de classe enfatizo apenas duas: o ódio que a classe dominante tem e sempre teve da população pobre e negra. Não sou eu quem o diz. Denunciou-o recentemente Jessé Souza em seu livro A estultície da inteligência brasileira (Leya 2015) e anteriormente o grande historiador e acadêmico José Honório Rodrigues em seu clássico: Conciliação e Reforma no Brasil (Civilização Brasileira 1965):”a maioria foi sempre sofrida e sempre viu desfeita sua esperança de melhoria;…as oligarquias negaram seus direitos, arrasaram sua vida, conspiraram para colocá-la de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”(pp. 14 e 31). Ocorre que um representante destes desprezados, que não foi educado na escola do faraó, chegou a ser presidente e transformou profundamente a vida de milhões de pobres.
Isso é intolerável para as oligarquias, habituadas a ocupar o Estado e seus aparatos não em vista do bem de todos, mas de seus interesses particulares. Lula e seus assemelhados são odiados por isso. Elas nunca apreciaram a democracia os mas regimes fortes e ditadoriais que lhes facilitam a acumulação, uma das mais altas do mundo. Jamais entenderam o poder como expressão jurídico-política da soberania de um povo, mas como dominação em função do enriquecimento. Sérgio Moro forneceu o enquadramento jurídico canhestro para dar vazão a este ódio de classe.
Um segundo fator cabe ser ressaltado: a estratégia de reconquista por parte das oliguarquias, aquele punhado de famílias de super-ricos (0,05 da população) que controlam grande parte da renda nacional e que possuem imenso poder econômico, político e mediático. Visam voltar ao lugar que ocuparam por séculos mas que, agora com a situação histórica mudada, jamais chegariam por via democrática, expressa pelo voto popular. Mas o fazem com a trama de um golpe parlamentar vergonhoso.
Essas oligarquias representam a ordem e acultura do capital, cruel e desumano, que nunca mostraram solidariedade para com as grandes maiorias sofredoras. Praticam uma economia altamente concentradora e predatória de bens e serviços naturais, produzindo externalidades, quer dizer, injustiças sociais graves e ambientais altamente danosas, das quais se eximem de responsabilidade e jogando ao Estado o ônus de sua reparação. Um grupo deles pratica ainda trabalho semelhante ao escravo, levando os trabalhadores a um verdadeiro extermínio físico e psicológico.
Eles agora voltaram para realizar a sonhada reconquista só possível à revelia da constituição. Aplicam medidas neoliberais das mais deslavadas, atropelando conquistas históricas dos trabalhadores e enxovalhando a inteligência brasileira. E o fazem com furor, respaldados por um tribunal de exceção e pela leniência do STF.
Esperamos a rejeição desta reconquista, pelos movimentos sociais, quiçá os únicos, nas ruas e nas praças de todo o país, capazes de inviabilizar esse retrocesso histórico infame.
Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu:A grande transformação, Vozes 2015.
Date: Sun, 2 Oct 2016 12:08:26 +0000 To: [email protected]
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Date: Sun, 2 Oct 2016 12:08:26 +0000 To: [email protected]
Prezado Frei,
Gosto muito dos seus artigos, mas as vezes o acho um pouco centrado em suas convicções e pouco aberto ao que as contraria. Porque não criticar duramente o “representante dos desprezados” que perdeu uma enorme chance de mostrar às oligarquias e ao povo como se faz, sem se contaminar com as benesses da mesma oligarquia outrora endemonizada.
Eu acredito muito que podemos fazer diferente, porém, o que Lula e sua turma fez destruiu a esperança do povo. Terá que aparecer outro projeto para reestabelecer a confiança novamente.
Esses ex-presidentes (as) que o senhor sempre defende como a bandeira da democracia e da salvação dos pobres e negros, pisou na esperança do povo, melando-se dos pés à cabeça, enibriado com o luxo e poder, bem antes de assumir o governo, em 2003, que só piorou. Quem conheceu os bastidores das negociações sindicais que diga.
Por isso, vejo esses artigos como as notícias editadas pelas grandes mídias, apenas o lado que é diferente.
Fraterno abraço!
Lula nunca viveu em luxo e cheio de poder. Isso são os detratores que o dizem, como a Veja, Epoca, Globo et consortes. Pergunte aos 36 milhões que sairam da fome ou os milhares que se beneficiaram com o Luz para Todos e Minha Casa Minha vida e os negros e pobres que chegaram à universidade, muitos deles foram meus alunos na UERJ e hoje são médicos e advogados,ouvirá outra história. Quem na história, que presidentes fizeram isso para os mais pobres? Pensei nisso e melhore seu juizo sobre a politica.
Essa história de negros e pobres chegando à universidade é boa, conheço alguns (Eu, como sou pobre, mas branco, tive que pagar a minha). Porém, é como se isso justificasse a podridão institucionalizada. Na verdade é muito pouco pelo estrago feito ao país.
Será que os 36 milhões (como o próprio Lula já disse uma vez, número se inventa) se mantiveram na condição pós fome, como se prega, ou, com o desastre na área econômica, onde os estados não tem dinheiro nem para pagar os míseros salários da polícia, voltaram a sua antiga condição.
Pense nisso, apesar da sua inteligência e experiência e dos belos artigos, ainda não atingiu o nível de imparcialidade que se espera de um formador de opinião, que é.
Anete,há uma imparcialidade que é cinismo pois deixa de escutar os gritos dos famintos que são milhões. Essa realidade eu conheço pelas minhas andanças pelo Brasil e pelos quase 20 anos trabalhando nas favelas. Há momentos que a razão e o coração que se comociona com o sofrimento do outro deve ser parcial, do lados dos sofredores e não, com a pretensa imparcialidade, acabando ficar do lados dos que produzem o sofrimento. Jesus morreu porque entendeu nem tudo vale neste mundo e há coisas pelas quais vale gastar tempo e a própria vida. lboff
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OPÇÃO MINHA COVA, MINHA MORTE
Na altura de minha experiência e convivência chego à
ousadia de afirmar que um médico que não tenha conhecimentos de geografia e outras ciências pode ser considerado curandeiro, pois a medicina precisa de
ciências auxiliares, assim como, as outras ciências. Isto se comprova com Josué de Castro que escreveu a GEOGRAFIA E GEOPOLÍTICA DA FOME e que foi médico e professor de Geografia.
No nordeste dos anos cinquenta a morte e vida Severina se espalhava como a rama de batata pelo chão.
Os cadáveres eram deixados a céu aberto ou em covas rasas sem caixão.
Francisco Julião se empenhou em conseguir recursos para que as pessoas se
apresentassem melhor diante de Deus e fossem enterrados em caixão.
Depois passaram a pensar que as pessoas poderiam viver melhor aqui na terra e procuraram direitos nas LIGAS CAMPONESAS.
Josué de Castro escreveu sobre isto na obra SETE PALMOS DE TERRA E UM CAIXÃO.
No século XXI do terceiro milênio o Brasil e o mundo passam pela mesma
problemática de decisão entre os instintos de vida e de morte. Vida e morte estão sempre diante de nós para nossa opção. Forças que levam à alegria e à dor até os fins dos tempos dos relógios e da racionalidade humana e terrena. Outros tempos se preparam para superação.
Os aperitivos e sobrevivências dos novos tempos chegam até nós e se expandem pelos universos de nossas esperanças. Abs. adenir
Se não é de acordo com seu pensamento, está errado! Você não erra?
Caríssimo Leonardo Bof Li muito e gosto muito da maioria de seus livros e de sua trajetória corajosa. Mas ultimamente percebo que o senhor ou eu estamos muito errado. Creio que ideologias cegam. Acredito em utopias que você me ensinou a valorizar, mas não consigo entender a cegueira dos que aceitam que o fim justifica os meios. Fora os exageros da mídia ao espetacularizar tristes desmandos, vamos somar e ficar vigilantes para que comece a renascer a ética que nós imaginávamos que o seu amigo LULA iria resgatar. Grande abraço