Há muitas formas de se falar do Natal. A maioria se prende ao ideário religioso e cristão. Mas há também formas seculares e poéticas como fez Manuel Bandeira em seu comovedor “Canto de Natal”e de forma, a meu ver insuperável, por Fernando Pessoa. Agora temos a reflexão política, supreendente do jornalista e entrevistador de televissão de Mario Sergio Conti. De modo secular nos comunica a mensagem de Natal que tem inspirado uma das lideranças mais combativas que é João Pedro Stédile do MST. Vale seguir seu raciocínio estimulante. Lboff
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Quando menos se espera, o Natal está aí: calorão, filas, tempestades, engarrafamentos, dinheiro curto, sofreguidão de última hora para comprar presentes. Ainda assim, o Natal é um convite à pausa, à reflexão.
Como o ano foi de tumulto, de luta acre no Parlamento e fora dele, de ações espetaculosas da Lava Jato, de xilindró cheio de nababos em Curitiba, a meditação é política.
É tempo também de reflexão religiosa porque a fé fere cada vez mais o coração da política. As labaredas da jihad, as matanças na França, no Líbano, no Iêmen, no Egito e na Tunísia, fizeram terror e islã fermentar num mesmo caldeirão.
Distante do belicismo redivivo das Cruzadas, nem por isso o Brasil está infenso ao sagrado. Aqui, é a vaga evangélica que transtorna a política. Tanto que Eduardo Cunha, um pentecostal que exala enxofre ao ouvir falar de aborto e casamento gay, quis impor sua dúbia carolice à nação laica.
O Brasil é o país que abriga o maior rebanho católico do mundo. Entre eles está João Pedro Stedile, dirigente do Movimento dos Sem Terra. Ele é primo de Dom Orlando Dotti, bispo de Vacaria, no Rio Grande do Sul, e de vários frades capuchinhos. Os primos párocos marcaram a sua formação franciscana, que considera “mais atual do que nunca”.
Stedile sustenta que o líder religioso da hora, o papa Francisco, “tem um comportamento revolucionário”. O pontífice, disse ele no intervalo de uma peregrinação pelo interior paulista, “teve uma experiência política no peronismo, é um nacionalista que defende os pobres e é contra o abuso do capital”.
Para ele, a encíclica papal sobre o meio ambiente “é uma obra histórica maior do que dez COP21, a conferência da ONU sobre o clima, que não serviu para nada”.
O MST se atualizou na teoria e na prática nos últimos anos. O movimento, diz Stedile, é contra a “reforma agrária burra”, que só se preocupa com a divisão dos latifúndios. Advoga que a agricultura produza alimentos saudáveis para o povo, em vez de exportar commodities. Prega a “agroecologia”, técnicas de cultivo que não vitimem a natureza.
Ele também se insurgiu contra o machismo, disseminado no meio rural, inclusive no MST. O movimento conseguiu que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, passasse a entregar títulos de propriedade a casais de sem-terra gays.
Neste Natal, Stedile vê o Brasil numa encruzilhada política, econômica, social e ambiental. A destituição de Dilma Rousseff veio para o primeiro plano: “a pequena burguesia reacionária das grandes cidades quer o impeachment, mas ele não resolve as dificuldades nem representa uma saída para as massas”.
Economista, Stedile não acredita em Papai Noel. Vaticina que “a crise será longa porque, para sair dela, precisamos de um projeto que unifique a maioria das forças sociais. E nenhuma força está conseguindo isso”.
A sua esperança natalina é matizada: “toda crise é positiva, por obrigar a mudanças. Elas podem demorar, mas virão, e espero que sejam a favor do povo. Serão anos de luta”.
Com prenome dos apóstolos João e Pedro, Stedile parece se nortear pelo Cristo do evangelho de Mateus, aquele que disse: “não vim trazer paz, mas a espada” (10, 34). Ele nasceu no mesmo dia do Nazareno; fará 62 anos na sexta-feira.
Um feliz Natal a todos.
www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2015/12/1721915-o-natal-de-stedile.shtml
Lindo comentario, meu irmão.
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Meus Deus, Leonardo Boff. Fiquei tocado com o artigo do Conti. Muito bom, mas… não esperava isso vindo do Mário Sérgio Conti. João Pedro Stédile, na minha opinião, é também um expoente da Teologia da Libertação. Após a leitura do artigo, como admirador da psicanálise junguiana, fiquei pensando em duas frases do C.G. Jung: “Nós precisamos das nossas dificuldades para termos saúde”; e a outra: “…mais tarde ou mais cedo tudo se transforma no seu contrário.” Feliz Natal Leonardo Boff. Obs; No meu aniversário desse ano meu filho me presenteou com seu livro “A cruz nossa de cada dia”. A primeira coisa que li foi (e cito de memória): “Todos carregamos alguma cruz ou nas costas ou no coração. E toda cruz, por menor que seja, é onerosa. Ela pode ser vivida como tribulação ou libertação. Depende de como a enfrentamos e a assumimos.” L. Boff
O cidadão parece ser interessante! O que surpreende é a imensa capacidade de se hoipocritizar, para manter seu ganha pão, fazendo pífios pograminhas de entrevista, na televisão destinada aos reacionários emburrecidos que pagam regiamente, tais canaizinhos privês, como se fossem de pornografia, só que nesse caso, prolatando obscenidades jornalísticas! Pela recuperação da dignidade jornalística, nesse país!
Paulo, sua observação é pertinente. Porém, às vezes percebo que em programas com cunho neo-liberal entrevistas boas (apesar de ser raridade). Cito-lhe uma que gostei muito. Foi quando do Conti entrevistou Ricardo Semler , o qual apesar de ser um empresário filiado ao PSDB (eu não voto nesse partido), várias vezes discordou do entrevistador e disse coisas muito incômodas à direita brasileira. Abraço. Segue link: https://www.youtube.com/watch?v=6jscnlmfCrQ
boa tarde!
De: "Leonardo Boff" <[email protected]> Enviada: 2015/12/23 00:04:38 Para: [email protected] Assunto: [New post] O Natal de Stedile por Mario Sergio Conti
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Leonardo Boff posted: "Há muitas formas de se falar do Natal. A maioria se prende ao ideário religioso e cristão. Mas há também formas seculares e poéticas como fez Manuel Bandeira em seu comovedor "Canto de Natal"e de forma, a meu ver insuperável, por Fernando Pessoa. Agora te"
Que bom, ainda se encontra alguns textos que se pode ler no Facebook, mas me só me deixa triste quando pessoas que não concordam com o conteúdo se escondem atráz de um apelido ou um nome que nao identifica ninguem, os que criticam Leonardo Boff não viveram 1% do que ele passou e viveu. Feliz 2016 a todos, Fraternalmente Luiz Plinio Miranda
Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
Compartilhando em total concordância: Há muitas formas de se falar do Natal. A maioria se prende ao ideário religioso e cristão. Mas há também formas seculares e poéticas como fez Manuel Bandeira em seu comovedor “Canto de Natal”e de forma, a meu ver insuperável, por Fernando Pessoa. Agora temos a reflexão política surpreendente do jornalista e entrevistador de televisão de Mario Sergio Conti. De modo secular nos comunica a mensagem de Natal que tem inspirado uma das lideranças mais combativas que é João Pedro Stédile do MST. Vale seguir seu raciocínio estimulante. (Leonardo Boff)