LADISLAU DOWBOR é um conhecido economista, professor catedrático da PUC-SP, que une eonomia com ecologia no quadro de um humanismo aberto e orientado pelos direitos humanos, especialmente,dos mais pobres. Possui uma vasta experiência internacional. Não apenas sabe muito, mas pensa no que sabe. Face à crescente violência no mundo e também no Brasil vale a pena ler este seu trabalho de reflexão antropológica e política sobre a praga da violência. Ela está se disseminando perigosamente no Brasil, particularmente pelas redes sociais. Nenhuma sociedade se constrói sobre a violência, a prolongada raiva e amargura que criam um caldo propício para mais violência e assim para a destruição dos laços de convivência social. O artigo apareceu no dia 26 de fevererio de 2015 no seu site:Site: http://dowbor.org
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Nunca subestime o poder de pessoas estúpidas em grandes grupos
Um aluno um dia me perguntou o que eu achava do homem: naturalmente bom mas pervertido pela sociedade, na linha do “bom selvagem” de Rousseau, ou esta desgraça mesmo que vemos por aí, em estado natural? Na realidade, não acho nem uma coisa nem outra. Acho que temos todos imensos potenciais para o bem e para o mal, para o divino e a barbárie. Cabe a nós, que trabalhamos com o estudo da sociedade e em particular das instituições, pensar o que faz a balança pender mais para um lado ou para outro. Pois deixando de lado alguns traumas e deformações individuais, domínio dos psiquiatras, aqui nos interessa a misteriosa bestialidade coletiva de grandes grupos sociais.
Muitos dizem que a solução está na educação e na cultura. Tenho minhas dúvidas, pois sou de família polonesa, e vi refletido nas angústias dos meus pais o que tinham vivido frente ao nazismo. Ninguém irá pensar que os alemães eram um povo de baixo nível educacional ou cultural. E no entanto, com que entusiasmo vestiram as botas e as camisas negras ou marrons, com que elevado sentimento de dever cumprido matavam pessoas por serem diferentes, por um critério real ou imaginário. Cerca de 50% dos médicos alemães aderiram ao partido nazista. Isto é que é realmente preocupante. Estupidez é uma doença que pega.
Poder dar vazão ao que há de mais podre dentro de nós, de mais escuro em termos de ódio contido, de mais baixo em termos humanos, em nome de elevadas aspirações éticas, parece ser muito satisfatório. Os nazistas agiam em nome da pureza da raça. E erguiam bem alto a bandeira do “Gott mit uns”, Deus está conosco. Tornar-se de certa maneira o braço executivo da cólera divina parece ser profundamente agradável. Há gente disposta a morrer por esta satisfação.
Quem não leu O Martelo da Feiticeira, manual de interrogatório dos inquisidores católicos perdeu uma importante fonte de conhecimento sobre os nossos lados escuros. O manual recomenda, por exemplo, que os religiosos encarregados de torturar as possíveis feiticeiras as torturassem nuas, pois se tornam mais frágeis, e de costas para os torturadores, pois a era tal a perversidade destas mulheres que de frente para os torturadores poderiam comovê-los com suas súplicas e expressões de desespero. Eram religiosos, e o faziam em nome de Cristo.
Somos hoje mais civilizados? Sinto-me profundamente abalado, chocado, pelo bárbaro assassinato dos jornalistas do Charlie Hebdo, em Paris, por profissionais da morte que matam em nome de Deus, e que claramente mostraram nos seus gritos que se sentiam como justiceiros que haviam cumprido o seu dever. São monstros? Se fossem, seria muito mais simples compreender e prevenir. Mas são seres humanos em torno dos quais se construiu uma muralha de valores que os protege de qualquer crítica. Se sentem pertencentes a uma comunidade que os apoia e recompensa, ou seja, praticam a barbárie em nome do bem. Podemos matar os terroristas, mas transformar a dinâmica que os forma é bem mais complexo.
Podemos tratar um psicopata, e proteger a sociedade dos riscos individuais. E uma sociedade doente? Quem não viu Os fantasmas de Abu-Ghraib, veja, é profundamente instrutivo. O documentário é montado a partir de selfies e de filmagens por celular de práticas de tortura no Iraque por jovens americanos, contra supostos inimigos. Tortura praticada no Iraque em nome da defesa dos direitos humanos, por um exército invasor, e por funcionários de empresas privadas de segurança terceirizadas para esta tarefa. Estes jovens são monstros? As imagens das torturas e dos risonhos rapazes circulam em todo o mundo islâmico. Com que impacto e efeito multiplicador?
Hoje temos tortura sistemática aplicada pelo sistema repressivo (Mossad, Shin Bet e outros) em Israel. Em Guantánamo quando os prisioneiros tentam morrer para escapar ao sofrimento se lhes introduz à força alimento pelo nariz ou pelo anus, tudo em nome do bem, como em nome de Deus os fanáticos do ISIS decapitam prisioneiros ou os do Boko Haram raptam crianças.
A maldade não está essencialmente nas pessoas, mas nos sistemas de organização social que a transformam em ódio coletivo e organizam a sua expressão em nome da justiça, de Deus, da pátria, da pureza racial ou o que seja.
Ladislau Dowbor
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Site: http://dowbor.org
Refletindo: “… A maldade não está essencialmente nas pessoas, mas nos sistemas de organização social que a transformam em ódio coletivo e organizam a sua expressão em nome da justiça, de Deus, da pátria, da pureza racial ou o que seja….” – No meu modo cartesiano de “acomodar” esse parecer encontro uma contradição, a saber: a de que uma sociedade constituída por pessoas boas não pode ser má. Tentar implicar culpabilidade individualmente coletiva a um substantivo “abstrato” como os “sistemas de organização social”, parece-me uma racionalização prematura. Freud, em “O Futuro de uma Ilusão”, explica os motivos pelos quais a neurose coletiva chamada religião religa os homens uns aos outros pelos vínculos de uma carência individual-coletiva que torna-se parte intrínseca da Kultur. E aí reside a causa da patologia. Somos internamente governados por uma pulsão que traduz-se na coletivização de uma neurose geradora da “teocracia sublimar e subjacente”. Tal neurose é a concepção matricial daquilo que Usted chamou de “sistemas de organização social”. Ou seja, a maldade (sic) está essencialmente nas pessoas, sim. Um outro produto da Kultur, a Biblia, tem um verbete muito abrangente para a situation: pecado. E foi o medo trazido pela percepção do erro, ou pecado, em que todos nós nos metemos o que embasou uma noção incipiente de crime contra o primeiro governante abstrato eleito pela neurose: O Pai. Mas esse pai está sendo desconstruído pela pulsão de Cain latente em nossa genealogia e os homens estão tentando emancipar-se da violência dessa neurose matando os Pais uns dos outros pelas simples recusa em aceitar os Pais uns dos outros. Meu deus tem todo o direito de ser diferente e até mais forte que o seu. Tá explicado? See You later, today is a workday and I have lots of things to think about, including your writings. Have a nice day.
Republicou isso em andradereginaldo.
Quer seja numa organização social ou não toda ideologia por ela é de alguma forma transmitida, ou seja dentro dos limites da instituição da educação ou fora, pois ambos são modos de educar. Sobre o nazismo sua exaltação é simples num momento histórico delicado a Alemanha sobre discursos inspiradores de um gênio em oratória. A mesma ideia de “plataformas políticas” que sucedem hoje pelo mundo todo, mas que na prática são engodo.
Tenho que discordar assim, as condições sociais associadas a uma ‘educação externa’ distorcida são fatores que alimentam tais sintomas comum a violência coletiva, quer sob forma de “revoluções” ou, principalmente, da decadência dos valores da sociedade. A culpa é dos que leva a premissa de Maquiável ao níveis extremos, tudo vale a seus fins, inclusive aniquilar os valores da sociedade por dentro, como cupins.
Mas é assim que sempre funcionou e funciona, parece até que é da natureza humana. O Brasil está a um passo da guerra civil, ou pelo menos civis atacando e matando outros por motivos banais como futebol, religião ou ideologias. Como prevenir contra isso? Mapear o que se faz não é difícil, o motivo porque se faz também não. Prevenir para que não se faça ninguém se arrisca a dizer como, e é disso que estamos precisando.
Não gosto de pesquisadores que dão por certo informações mal constatadas, isso não é pesquisa, isso é fé, porém ma fé. O assassinato de Hebdo bem pode ter tido um transfundo político, e ter sido orquestrado pelas potencias de ocidente com a finalidade de manipular a opinião pública, ganhar apoio na guerra contra oriente médio, e até criar uma crise interna na estrutura social de todo oriente médio. Quando falo em potencias, estou me referindo a OTAN, União européia e EUA, os mesmos que orquestraram a criação do EI, isso sim é um fato constatado. Então cuidado com o que se afirma apenas por ser visto na TV, sabemos muito bem que hoje na TV e na Internet a gente acha até dragões de sete cabeças. Concordo sim, com a última afirmação, de que a maldade não está no individuo mas na estrutura do sistema de organização social, só que essa estrutura sempre é controlada por grupos de poder, não podemos esquecer este ponto, “os verazes”, os criadores da verdade, os formadores de opinião, os educadores, os donos da educação, as religiões, adoutrinadores de todos os tipos, há muita gente envolvida na manipulação social no mundo inteiro ha séculos, há instituições dedicadas a dirigir o rumo das sociedades, as que vão sempre como levadas pelas orelhas, e o único que podemos fazer, aqueles que estamos conscientes disto, é estimular o desenvolvimento dos intelectos independentes e subjetivos na sociedade, ajudando as pessoas a pensar por elas mesmas, e tudo que fizermos nessa línea trará, ao longo prazo, uma mudança “benéfica” para o mundo.
Não adianta desabafar, vomitando desinformação, por mais que se faça com boas intenções, esta forma de expressão que cremos ser “informação” só confunde as mentes fracas, sujeitos cuja subjetividade está sendo enfraquecida constantemente pela cultura do entretenimento, pelos médios de comunicação, pela sociedade de consumo, pelos sacerdotes do santo mercado que governa o mundo globalizado.
Por último, como crítica ao texto, manifestar minha indignação com o fato de ver sujeitos que tem tido a oportunidade de se formar nas melhores instituições de ensino, ter feito mestrados e doutorados, ter tempo para se informar adequadamente, para logo serem tão pouco úteis a labor social, tão pouco profissionais na elaboração da suas pesquisas, fazendo eco do que já foi dito, escrito, filmado por mais alguém, de quem muitas vezes não se tem nem a fonte, nem se tem certeza de nenhum tipo sob as suas afirmações. Vergonha! Vergonha deveria ter de se chamarem a se mesmos de sociólogos, antropólogos, doutos, filósofos que só sabem citar outros que os precederam, que falam em “sociedade doente” como se não formassem parte da mesma! Ser civilizados? Isso é o que se pretende? Depois de toda essa analise ainda se pretende ser civilizados sem reformular o que entendemos por civilização? Que solução vocês propõem! Apenas críticas não aportam nada se não forem acompanhadas de uma proposta para resolver o assunto do qual se trata. Vivemos no mundo da crítica, do inconformismo complacente. Criticam e criticam, sempre com grande eloquência, mas continuam agindo a contribuir com o problema!
A Civilização está morta! E nós estamos pagando o seu enterro, nós estamos enterrando a nós mesmos ao querer insistir em civilizar sem compreender que a violência no homem tem sido potenciada por séculos de repressão dos nossos instintos humanos em prol da sociedade civilizada. Por citar um exemplo, Freud explica muito bem como a civilização, (como ato de civilizar), tem agido historicamente sob a psique dos membros das sociedades no seu célebre livro “O Mal estar na civilização”.
Quer acabar com a violência? Isto, a principio, é impossível! Pois a violência em todo animal é parte do seu instinto de sobrevivência, e como nós seres humanos, também somos animais, temos em nós este instinto como qualquer outro. O que deveríamos fazer se quisermos de fato compreender como dominar este instinto que tanto prejuízo trás, desde sempre, a todas as civilizações, é trabalharmos numa nova ciência educacional, numa ciência das emoções, aprendendo como controlar as nossas emoções nascidas dos instintos mais baixos e mais primitivos do homo sapiens. Algumas religiões ao redor do mundo oriental já têm começado esta empreitada como o caso do budismo. Nós, ocidentais, que temos perdido tanto tempo com o olhar abandonado no nosso próprio umbigo, principalmente os investigadores do comportamento humano, deveríamos aprender dos budistas, dos séculos de investigação destes no campo da mente e das emoções e o controle dos instintos, para assim, partindo dos seus estudos, criarmos uma nova ciência, sem dogmatismos, e assim conseguiríamos tal vez, canalizar a violência intrínseca do ser humano para um causal positivo comum a todas as sociedades. Assim devemos trabalhar fortemente, até o ponto de conseguirmos dominar por completo este instinto primitivo e re formular o conceito de civilização, para criar sociedades emocionalmente saudáveis com o foco nas relações humanas como princípio básico de toda educação.
Ou seja, o que abala o Brasil não é a ação da quadrilha que, há 12 anos, pilha a Petrobrás e ocupa, para proveito próprio ou do PT, cada escaninho possível da administração pública. Muito menos é a incompetência administrativa demonstrada pelos petralhas que sugam o Tesouro. É – no entender de Lula e companhia bela – a reação dos brasileiros honestos e indignados com a roubalheira e a desfaçatez.
http://m.estadao.com.br/noticias/opiniao,lula-estimula-o-conflito-social-,1639963,0.htm