Uma das demandas maiores atualmente nos grupos, nas escolas, nas universidades, nas empresas, nos seminários de distinta ordem é a questão da ética. As solicitações que mais recebo são exatamente para abordar este tema.
Hoje ele é especialmente difícil, pois não podemos impor a toda a humanidade a ética elaborada pelo Ocidente na esteira dos grandes mestres como Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant e Habermas. No encontro das culturas pela globalização somos confrontados com outros paradigmas de ética. Como encontrar para além das diversidades, um consenso ético mínimo, válido para todos? A saída é buscar na própria essência humana, da qual todos são portadores, o seu fundamento: como nos devemos nos relacionar entre nós seres pessoais e sociais, com a natureza e com a Mãe Terra. A ética é da ordem prática, embora se embase numa visão teoricamente bem fundada. Se não agirmos nos limites de um consenso mínimo em questões éticas, podemos produzir catástrofes sócio-ambientais de magnitude nunca antes vista.
Vale a observação do apreciado psicanalista norte-americano Rollo May que escreveu:”Na atual confusão de episódios racionalistas e técnicos perdemos de vista e nos despreocupamos do ser humano; precisamos agora voltar humildemente ao simples cuidado; creio, muitas vezes, que somente o cuidado nos permite resistir ao cinismo e à apatia que são as doenças psicológicas do nosso tempo”(Eros e Repressão, Vozes 1973 p. 318, toda a parte 318-340).
Tenho me dedicado intensamente ao tema do cuidado (Saber Cuidar,1999; O cuidado necessáro, 2013 pela Vozes). Segundo o famoso mito do escravo romano Higino sobre o cuidado, o deus Cuidado teve a feliz ideia de fazer um boneco no formato de um ser humano. Chamou Jupiter para lhe infundir espírito, o que foi feito. Quando este quis impor-lhe um nome, se levantou a deusa Terra dizendo que a tal figura foi feita com o seu material e assim teria mais direito de dar-lhe um nome. Não se chegou a nenhum acordo. Saturno, o pais dos deuses, foi invocado e ele decidiu a questão chamando-o de homem que vem de húmus, terra fértil. E ordenou ao deus Cuidado: “você que teve a ideia, cuidará do ser humano por todos os dias de sua vida”. Pelo que se vê, a concepção do ser humano como composto de espírito e de corpo não é originária. O mito diz:”O cuidado foi o primeiro que moldou o ser humano”.
O cuidado, portanto, é um a priorii ontológico, explicando: está na origem da existência do ser humano. Essa origem não deve ser entendida temporalmente, mas filosoficamente, como a fonte de onde permanentemente brota a existência do ser humano. Temos a ver com uma energia amorosa que jorra ininterrruptamente, em cada momento e em cada circunstância. Sem o cuidado o ser humano continuaria uma porção de argila como qualquer outra à margem do rio, ou um espírito angelical desencarnado e fora do tempo histórico.
Quando se diz que o deus Cuidado moldou, por primero, o ser humano visa-se a enfatizar que ele empenhou nisso dedicação, amor, ternura, sentimento e coração. Com isso assumiu a responsabilidade de fazer com que estas virtudes constituissem a natureza do ser humano, sem as quais perderia sua estatura humana. O cuidado deve se transformar em carne e sangue de nossa existência.
O próprio universo se rege pelo cuidado. Se nos primeiros momentos após o big bang não tivesse havido um sutilíssimo cuidado de as energias fundamentais se equilibrararem adequadamente, não teriam surgido a matéria, as galáxias, o Sol, a Terra e nós mesmos. Todos nós somos filhos e filhas do cuidado. Se nossas mães não tivessem tido infinito cuidado em nos acolher e alimentar, não saberíamos como deixar o berço e buscar nosso alimento. Morreríamos em pouco tempo.
Tudo o que cuidamos também amamos e tudo o que amamos também cuidamos.
Junto com o cuidado nasce naturalmente a responsabilidade, outro princípio fundador da ética universal. Ser responsável é cuidar que nossas ações não sejam maléficas para nós e para os outros mas, ao contrário, sejam benéficas e promovam a vida.
Tudo precisa ser cuidado. Caso contrário se deteriora e lentamente desaparece. O cuidado é maior força que se opõe à entropia universal: faz as coisas durarem muito mais tempo.
Como somos seres sociais, não vivemos mas convivemos, precisamos da colaboração de todos para que o cuidado e a responsabilidade se tornem forças plasmadores do ser humano. Quando nossos ancestrais antropoides iam em busca de alimento, não o comiam logo como fazem, geralmente, os animais. Colhiam-no e o levavam ao grupo e cooperativa e solidariemanete comiam juntos, começando pelos mais jovens e os idosos e em seguida os demais. Foi essa cooperação que nos permitiu dar o salto da animalidade para a humanidade. O que foi verdadeiro ontem, continua sendo verdadeiro também hoje. É o que mais nos falta no mundo que se rege mais pela competição do que pela cooperação. Por isso somos insensíveis face ao sofrimento de milhões e mihões de pessoas e deixamos de cuidar e de nos responsabilizar pelo futuro comum, de nossa espécie e da vida no planeta Terra.
Importa reinventar esse consenso mínimo ao redor desses princípios e valores se quisermos garantir nossa sobrevivência e de nossa civilização.
http://exupolitizado.wordpress.com/2014/10/16/forum-paranaense-de-religioes-de-matriz-africana-e-preconceito/
Belíssimo, como todos os seus textos! Avante, com cuidado!
Caro Leonardo, acho esse argumento do cuidado fundamental, não vejo como fortalecer a noção de ética e moral, sem esse gesto básico do cuidar. Eu, me preocupo, particularmente, com essa nova modalidade de existência, a vida ‘virtual’, pois vem crescendo e se desenvolvendo novas formas de violência e indiferença através dessas relações…É como se a internet fosse o novo território da barbárie, onde posso descuidar de qualquer coisa. Obrigada pelas reflexões! Um abraço!
Patricia Amaral Motta, concordo em quase tudo o que disse mas não posso estar de acordo qundo afirma que a net só faz mal. Se não fosse ela talvez nunca tivesse lido este belo texto.
Esse texto e mesmo de Leonardo Boff? Contraditório e estranho, esse senhor apoia esse governo corrupto e sem ética, portanto, esse texto só vem a confirmar que escrever e fazer discurso é muito fácil, difícil é viver o que se prega!
“A UNIVERSIDADE ESTÁ MORTA”
Em entrevista à História Viva, o professor da UFF Marcos Alvito, que recentemente antecipou sua aposentadoria, fez duras críticas aos rumos da academia. Para o antropólogo, “a graduação de história está abandonada” e a universidade se transformou em “espaço de oportunidade de negócios”. http://bit.ly/1oupXaJ.” facebook história viva. Muito bom…no amor somos únicos…abraço fraterno.
A UNIVERSIDADE ESTÁ NA U.T.I. DA HISTÓRIA.
A Universidade é um gueto burguês: é o cadinho que transforma a Teoria mais revolucionária em Positivismo sem transcendência. É protetora do Bloco Histórico Imperante; aparato ideológico de Estado. Os professores das Universidades públicas, pagas com o nosso dinheiro, ao formar-se nos traem – vão trabalhar para a classe abastada.
Precisamos urgentemente de uma mudança radical na Universidade. Precisamos unir o saber erudito ao popular. Essas, precisam ressarcir às comunidades das quais dependeram para se formar.
Hoje, precisamos colocar Ética na Universidade.
O bom pensador é sempre execrado pelas Universidades. Fazem tudo para destruir um aluno criativo. Porque o aluno criativo é duro e só faz suas teorias à marteladas, como diria Nietzsche. Por falar em Nietzsche, gosto muito de uma frase sua, que nos diz; “O filósofo assemelha-se a uma explosivo. E tudo o que está ao seu redor corre perigo.”
A universidade não forma pensadores, forma professores de Filosofia. O filósofo, o teólogo e o cientista já nasce com uma mente especulativa, cuja busca não termina com aposentadorias, irá até à Cicuta.
odécio mendes rocha
Mendes Rocha
desta vez concordo com vc.
lboff
Muito belo!
Homenagem postada no dia dos professores no meu facebook, e que estendo ao Mestre Leonardo Boff com o respeito e admiração de sempre!
AO MESTRE COM CARINHO – de Carmen “Gafanhoto” Poubel.
PROFESSOR: UM TITÃ, CONDENADO A LEVAR O MUNDO NAS COSTAS.
Homenagem ao professor Marcos Alvito
O mundo não é de hoje…não…o mundo é mundo desde que mundo é mundo. Atemporal, embora curiosos cientistas teimem em apontar seus inícios e suspeitar seus fins. E cada dia que passa, tá lá o mundo provando que ele é infinito, queimem os sóis que queiram… trás consigo todas as respostas, pretensiosamente, desafiando a quem quer que seja a desvendá-lo, como se esfinge fosse. E quem poderia abraçar essa causa? Advinha pra quem sobrou?…Ah, professores, já não bastava a existência humana curta e agreste? Lá foi o mundo para as costas do professor, condenado como Atlas, a suportar os céus sobre os ombros. Pensa que é moleza…veja as imagens à baixo. A não ser que Atlas tenha dado uma valorizada na pose, o troço é pesado. Pensa, na extensão do comprometimento do professor com o mundo, nas expectativas que lançam sobre seus ombros, nas respostas bate pronto que têm que dar…É…porque vai não responder, para não serem ardilosamente questionados sobre sua competência. E tentam, até, como no direito, dividir as várias faces do conhecimento em ramos, subdividindo-os e depois as partindo de novo, mas nós sabemos, o direito é uno, o mundo também, então tudo junto é um só que só pode ser compreendido quando aparelhados e correlacionados um no outro, o outro no um. Lembra?! Contém, tá contido. A simetria do homem venusiano, a beleza matemática da perfeição imperfeita. Essa é uma homenagem ao professore, único, o mártir, na acepção da palavra, … professor…homenagem àquele mártir, sim, aquele que sacrifica a si próprio em nome da causa, aquele que só descansa quando exausto, alcança o êxtase de reconhecer em seu aluno um ser pensante…É… eles são mágicos também…rsr
Não confundir com o seu oposto, o pseudoprofessor, o famoso “ isso”. Mas quem é isso: aquele que lança a informação ao aluno, e o pobre diabo, que se vire, o vendedor de periódico, jornal, mídia de informação; _ aquele que está mais interessado no seu brilho pessoal e imagem, o marqueteiro; _ aquele que impõe a sua opinião sobre ao aluno, o ditador; aquele que deixa claro que no desempenho do aluno será considerado a sua boa vontade em bajular e permitir contato físico, o assediador; _ aquele que impõe a sua vida como exemplo de comportamento, o moralista; _ aquele que deixa que a direção institucional interfira “ulterinamente” no seu método de ensino, sem pestanejar, e deixa seus alunos vulneráveis à experimentos ineptos, o membro de quadrilha, criador de frankenstein`s ; _ aquele que é capaz de não se emocionar e reagir ao ver que seus alunos, em razão de paralisações grevistas, regridem no seu desenvolvimento, o sindicalista manipulador de atividade essencial; _ aquele que orienta 5 vezes mais alunos que pode, em detrimento do desenvolvimento do orientando, o mercenário concursado; – que no final de ano para não ser apurrinhado, passa todos os alunos independente de seus graus de desenvolvimento, o estelionatário; _ que impõe um grau de dificuldade ao aluno que pressente alcançar destaque, o invejoso recalcado; _ aquele que é permissivo com os alunos que agem com artimanhas para fraudar resultados e não age com urbanidade e ética para corrigir o comportamento, o coautor criminoso; _ Aquele que mantém um bode expiatório na sala para crucificar, o bulidor ( bulling); _, aquele que matem sempre condescendência com alunos que possuem poder econômico e conhecidos abastados, o traficante …de influência…se deixar eu fico nomeando rsrs…A homenagem é para “o professor”, que nos transforma ou nos transformou em pessoas melhores independente do nosso caráter…é porque o caráter… o bom caráter pode até vir a ter vícios, mas o mal caráter, Ah, esse é sempre ele mesmo… RSS. Homenagem àquele professor, academicamente falando ou àquele professor oficioso que a gente tira uma casquinha dos seus conhecimentos e ele ainda se sente honrado…a todo professor que diz mansamente a seu aluno – Pense, você pode, você consegue!!
Professor MARCOS ALVITO, ex-professor ( 2014) de história da UFF – Rio de Janeiro, com 30 anos de magistério, que esclareceu em entrevista à revista História viva que a sua retirada da Universidade se deu por repudiar o “sistema” onde coabitam os chamados phDeuses, em detrimento de um comprometimento sincero com o ensino do pensar, isento e libertário, e que teve em consequência a sua aposentadoria pelo tempo de serviços prestados. Ele não tem facebook, só participa de grupos fechados para estudo, porque certamente o mais importantes é o NÒS e não o EU. De um humor que eu adoro, que faz com que temas desgastantes se tornem sátiras do cotidiano. Ao meu conterrâneo, ladinamente, dedico esta homenagem em nome de todos àqueles que são capazes de se dedicar em tornar um ser humano melhor. Aos seus alunos que postaram vídeos o entrevistando, hoje anarquizando, daqui à vinte anos vão chorar de saudade da integridade de intenções que pela “tenra” idade não puderam alcançar ! Acreditem…Ao mestre, meu carinho…Seguem as imagens o professor sustentando o mundo e o pseudo professor liquidando o próximo!
P.S. As fotos que não foram postadas aqui são do titã Atlas sustentando o mundo e de gladiadores em voraz luta.
Excelente texto muito pertinente… nossa crise humana não é política nem econômica é moral!! Só descobriremos e utilizaremos nossa verdadeira humanidade a partir da alteridade… olhar o próximo , com os olhos de amar e amar é cuidar! Bons sentimentos,pensamentos, palavras e ações a ética é movimento. Abraços.
Adriana Mengotti
Nossa crise, garota, é política, econômica, Ética, civilizatória … e uma poção de problemas.
Dr . Leonardo, Frente as dificuldades que se nos apresenta a vida devo dizer que me identifico plenamente com seu agir/pensar! Agradeço seus ensinamentos e sua dadivosa experiência derramada em suas escritas. Abraço fraterno, Graça
Enviado por Samsung Mobile
Senhor Leonardo Boff. Entendo que não precisamos tanto reinventar, mas praticar.
Temos uma ética e moral da espécie humana, e também a reconhecida e valorizada por cada grupo social; esta jamais pode ferir a da espécie humana. Vejo como solucionador básico o uso da máxima: “não faça ao outro o que não queres que o outro faça a ti”. Ser ético é isto essencialmente.
Também ser ético é obtermos obrigatoriamente três (3) “sim”s para as seguintes três (3) questões para regrar e motivar as nossas ações:
1) Eu quero ?
2) Eu posso ?
3) Eu devo ?
Se tivermos como resposta apenas um “não” já não estaremos sendo éticos. Meditemos.
É lamentável que o Governo e os políticos estejam muito descolados da ética e da moral. E, com respeitosa vênia ao senhor, é também igualmente lamentável que pessoas iluminadas pelo saber, que estão nos meandros e na base do poder constituído, não defendam VEEMENTEMENTE o cumprimento da ética e moral, tanto a maior que vale para espécie humana, como também a ajustada à nossa cultura e sociedade.
“Tudo precisa ser cuidado”.
Como sempre suas palavras acrescentam muito em minha vida! Obrigada pelas reflexões repletas de sabedoria e estudo! Um grande abraço!
Outro dia sai de uma reunião de escola pensando realmente isso. As discussões parecem tocar apenas a superfície ao redor do prato principal. O tema Ética precisa vir à tona para que possamos vivência-la com consciência em nosso dia a dia.
Boff : sempre um poço de lucidez.
Republicou isso em NUEVO AMANECER.
Republicou isso em cnlbbrasilandia.
Ética e moral.
A base de tudo(?).
Tu declaraste voto ao PT(?).
É desta plataforma que parto.
ESTÉTICA E TORPOR
A chegada do PT ao Governo Federal em 2002 revelou um partido personalista,
pragmático, populista, aparelhador e fisiológico, características da política contra as quais o Partido(?) sempre lutou.
E 12 ANOS SE PASSARAM…
Causas sociais foram esquecidas e serviram de escada para ambições pessoais.
Militantes premiados com espaços no governo esqueceram-se de revolucioná-lo e cargos continuam servindo para a manutenção de currais eleitorais.
E 12 ANOS SE PASSARAM…
As políticas públicas continuam sendo decididas em gabinetes e jogadas à população como migalhas se comparadas ao volume do orçamento nacional e aos financiamentos de bancos públicos para empresas escolhidas por troca de favores.
O elitismo destes financiamentos dá centavos para pequenos empreendedores e bilhões para projetos escolhidos por critérios de conveniência política(?).
E 12 ANOS SE PASSARAM…
A ideia de participação popular nas decisões de governo foi abandonada e hoje é lenda urbana e rural, letra morta no repertório teórico do Partido.
A política econômica resume-se a desonerações de automóveis, celulares, tablets e bugigangas que endividam a população, estimulam o consumismo, desindustrializam(?) o país e aumentam os índices de degradação do meio-ambiente. (GRAVÍSSIMO!).
E 12 ANOS SE PASSARAM…
A gestão caquética da saúde beira a crueldade e a ausência de políticas urbanas mantém nossas cidades pocilgas sem saneamento e com um gigantesco déficit habitacional.
E 12 ANOS SE PASSARAM…
Falar da qualidade do ensino, da segurança pública e das obras de infra-estrutura, é repetir argumentos de ineficiência, falta de qualidade e concentração de recursos.
E 12 ANOS SE PASSARAM…
Juízes do Supremo Tribunal Federal continuam sendo nomeados pelo executivo, a prática institucional das emendas parlamentares perpetua-se, incentivando o clientelismo e os políticos carreiristas e o instituto da reeleição completa nossa arcaica cena política. E 12 ANOS SE PASSARAM…
Em 12 anos a reforma política não aconteceu, a reforma administrativa não aconteceu, a reforma agrária não aconteceu, a reforma urbana não aconteceu, a reforma do judiciário não aconteceu, a reforma tributária não aconteceu e a reforma previdenciária não aconteceu.
E 12 ANOS SE PASSARAM…
O toma-lá-dá-cá fizeram do PT um Frankstein esquizofrênico e insaciável.
O país está maquiado e sonolento.
Ética…
Moral…
FALEMOS MAIS SOBRE ISSO.
Um abraço!
ESTÉTICA MIDIÁTICA E TORPOR IDEOLÓGICO…
…E 13 ANOS SE PASSARAM
Tenho debatido com Marco Magioli e com Leonardo Boff sobre a conjuntura política.
Para eles minhas palavras soam como uma “cantilena”.
Porém, o método da “cantilena” parece tê-los contaminado, afinal por várias vezes me respondem com o argumento de que os reajustes do salário mínimo, elevando-o a patamares nunca antes alcançados neste país, são a grande obra da coalizão que vem governando o Brasil há 13 anos. E mais, o referenciam ao dólar, moeda calibrada pela energia, pelo suor e pelo sangue de uma MAIORIA oprimida por necessidades impostas – psíquica e corporalmente – por mercados que não consideram o indivíduo e o planeta.
Sinceramente não estou preocupado com este salário mínimo de 788 Reais por sabê-lo inconstitucional e muito aquém dos 2.975,55 (valores de dezembro) do DIEESE, Departamento Intersindical de Economia e Estatística.
Estou preocupado, isto sim, com nossas gerações atuais e futuras.
É da “natureza” do dinheiro – ingrediente do Capital – circular. Não por engano os economistas referem-se a ele como “corrente”, no sentido de percurso, via, força de movimento. E não considero que ele – o Dinheiro – possua ideologia e tão pouco se submeta a qualquer uma neste seu movimento. É inútil controlar seu fluxo.
As ideologias têm a ver, isto sim, com a velocidade deste sistema, com sua direção, sentido e objetivos. É ai que minha “cantilena” serve de alerta e crítica.
Um salário mínimo de 788 Reais subverte o significado de “corrente” e, como no português esta palavra tem dois sentidos, acaba por aprisionar toda a Nação num calabouço de migalhas.
Menos de 5% do dinheiro dos capitais envolvidos em empreendimentos públicos e privados destina-se à remuneração da Força de Trabalho.
Isto é a contabilização de uma brutal concentração de renda pública e privada e o capital se estatiza e se oligopoliza, via de regra associados, na exploração, na corrupção e na acumulação. Pensadores, legisladores e operadores políticos de esquerda sabem disso.
É preciso fazer o dinheiro circular entre a população de forma caudalosa e não a conta-gotas, distribuindo migalhas.
Nós estamos fazendo com o fluxo do dinheiro o mesmo que fizemos com nossos arroios nas nossas cidades, transformando-os em valões assoreados e cheio de ligações clandestinas, quando não, represados para fins privados ou de políticas de drenagem equivocadas.
Tu podes dar vales, tickets, pensões, benefícios assistenciais ou qualquer outro crédito direto ou indireto e na verdade estarás dando continuidade e alimentando, com precisão cada vez mais cirúrgica, o processo de concentração e acumulação de capitais.
As pessoas precisam se alimentar, vestir-se, estudar, trabalhar, ter moradia, circular, cuidarem de si próprias e dos seus, se sentirem seguras e saudáveis e se divertir. Viver! Isto é fato.
Mas afinal, quantos e quais grupos de alimentação existem no país? Quantos e quais fabricantes de tratores, de lápis, de bacias de plástico?
Este é o nosso inimigo: a concentração que induz à acumulação e à exclusão!
Quantos e quais fabricantes de automóveis?
Quantos e quais fabricantes de remédios? De brinquedos?
Quantos e quais fabricantes de smarthphones? De telhas? De canos? Fios elétricos?
Quantas franquias nacionais estão entre as 50 maiores do mundo?
Quantas famílias ou grupo de famílias ou bairros de produção rural ou cooperativas populares ou agro-indústrias populares operam no país?
Quantos fabricantes de aviões?
Quantos desenvolvedores e fabricantes de células fotovoltáicas?
Quantos e quais fabricantes de cimento e aço? De plástico? De fibra de carbono?
Quantas construtoras e não empreiteiras mancomunadas com os eventualistas do poder?
Quantos filósofos, cientistas sociais, dentistas e psicanalistas?
Quantos arquitetos, urbanistas, geólogos, biólogos e engenheiros ambientais?
Quem olha para a indústria virtual, do turismo e do entretenimento? Atividadeslimpas que podem ser uma saída ambiental, afinal ao que TUDO está submetido e condicionado, embora eu considere que os caminhos para a inovação estejam despavimentados.
Quais destes setores e segmentos produtivos e genuinamente nacionais recebem apoio dos órgãos de financiamento e fomento públicos e que realmente necessitam e não se prestam ao pagamento de propinas ou não são exigidos burocraticamente em garantias discriminatórias?
O PAÍS SE ENTOPE DE QUINQUILHARIAS E TECNOLOGIAS IMPORTADAS E ENGASGA-SE COM SUA CRIATIVIDADE, INICIATIVA E INSIGHTS. A INDÚSTRIA SUCUMBE, OS EMPREGOS EVAPORAM-SE, OS SERVIÇOS SE DESQUALIFICAM E A AGRO-INDÚSTRIA SE OLIGOPOLIZA E FICAMOS REFÉNS DE COMMODITIES.
ATÉ QUANDO VAMOS NOS AUTOFAGIR EM DÉFICITS PÚBLICOS E ALIMENTAR OS PARASITAS INTERNOS E EXTERNOS COM SUPERÁVITS PRIMÁRIOS?
Agora estamos em meio a um Ajuste Fiscal, leia-se o PAGAMENTO DAS ELEIÇÕES. E esta conta não aparecerá na prestação de contas à Justiça Eleitoral. E vejam, não é uma conta partidária de Caixa2, é uma conta POLÍTICA e perversa.
Nossas áreas urbanas, no que diz respeito à habitação, circulação, saneamento básico e qualidade de obras de engenharia são o quadro do caos e da falta de qualidade mínima. Pelo mesmo motivo falo da saúde e da segurança, envolvendo a prevenção, o sistema prisional e as ações de segurança pública.
Quanto à educação me parece haver um esforço com cursos técnicos, acesso às universidades e à pós-graduações e mestrados. Mas o ensino infantil e fundamental são o caos, o que acaba por não alicerçar as medidas tomadas nesta área.
É neste sentido que afirmo: nossa “sociedade” está maquiada e sonolenta, apaziguada por um consumo inconsequente e gerador de desperdício. Ao mesmo tempo, um mínimo de carência material faz surgir em cérebros ocos saudades de regimes autoritários que ofereciam pequenas doses de conforto e ascensão social em troca de silêncio, ordem, obediência e conformidade. A repressão fez escola.
Por tudo isso considero os pensadores e tomadores de decisão do governo não producentes e desfocados de princípios populares e de base.
Se o sistema político é indutor de “coalizões” frankstenianas e se for isto que nos leva à excrescências programáticas, que se mude o sistema e não nos escondamos atrás de índices e porcentagens que na verdade mascaram a incapacidade ou a falta de coragem de formularmos políticas genuinamente populares e distributivas. Esta, afinal, considero a função primordial da política parlamentar, jurídica e administrativa, cujo caldo cultural deve ser o sistema participativo universal, sincera e honestamente convocado e com poder deliberativo, escopo de uma Esfera Pública Não-Estatal.
Doei mais de 35 anos da minha vida para levar ao poder uma ideia generosa e revolucionária porque, desde que me reconheço como um ser político, sonho com outro mundo e acredito que outro mundo é possível.
Mas eu quero ver este outro mundo. Quero que meus filhos vejam este outro mundo. Quero que meus netos, meus amigos reais e virtuais, vejam este outro mundo e mais, quero estar com eles neste outro mundo.
Nossa esperança precisa estar grávida!
Neste sentido considero a militância de esquerda sequestrada e possuída por uma variação da Síndrome de Estocolmo.
Não é possível que lutamos tanto a custa de vidas e de amores apenas para trocarmos as moscas.
Mas vejo o sol se por e estou certo de que a noite não será longa e que não será este o último Por-de-Sol dos séculos.
Reafirmo: O PAÍS ESTÁ MAQUIADO E SONOLENTO. A MILITÂNCIA DE ESQUERDA FOI SEQUESTRADA E ESTABELECEU-SE UMA SÍNDROME DE ESTOCOLMO COLETIVA..
Cito Lênin:
– “É preciso sonhar…mas com a condição de crer em nossos sonhos…de confrontar nossos sonhos com a realidade…de realizar ESCRUPULOSAMENTE nossa fantasia.”
…e contesto, de minha lavra:
Nem tudo o que é sólido se desmancha no ar. No máximo se dissolve no todo. E somos todos um.
Por fim, o Mestre Jesus:
“…EU VIM PARA QUE TIVÉSSEIS VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA.”
E 2015 anos se passaram…
Antes de mais nada quero agradecer à força criadora por estar vivenciando esta época.
Agradecer, também, pelas condições materiais existentes que nos proporcionam o poder da comunicação.
É uma época espetacular esta.
Sou um ser humano.
Trago no sangue traços brancos e negros vindos da península ibérica, do norte da Mãe África, da Europa setentrional e da América do Sul.
Nasci no sul do Brasil. No paralelo 30.
De mim e de gametas femininos, dois rebentos já circulam por estes pagos.
Além de Ser Humano sou um Ser Político por contingência cultural.
Minha opção consciente é pelo campo da esquerda política.
Desde 1981 sou uma referência política para meus círculos de relacionamentos.
Lutei por décadas, em parceria com meus semelhantes, para levar ao poder político-administrativo do Brasil uma ideia generosa e revolucionária porque, desde que me reconheço como um ser político, sonho com outro mundo e acredito que outro mundo é possível.
Mas eu quero ver este outro mundo. Quero que meus filhos vejam este outro mundo. Quero que meus netos, meus amigos materiais e virtuais, vejam este outro mundo e mais, quero estar com eles neste outro mundo.
Não é possível que lutamos tanto à custa de vidas e de amores apenas para trocarmos as moscas.
Amanhã eu vou pras ruas. Ah vou sim!
E vou com as mesmas armas e com minhas 52 estrelas de general, conquistadas uma a uma desde 8 de fevereiro de 1963, dia em que nasci a mando da força primordial.
E não vai haver Marimbondo, Pata-choca e muito menos Lula de 9 Dedos que sequestre minha consciência e que me impeça de realizar minha ESCRUPULOSA FANTASIA.
“Estes que aí estão, passarão. Eu, passarinho.”
ÀS RUAS. A LUTA CONTINUA!