WASHINGTON NOVAES é um jornalista que tem o dom de unir análise objetiva com síntese criadora. Neste artigo nos apresenta
o problema econômico brasileiro que se expressa pelo PIB pequeno. Em contrapartdida mostra que somos portadores dos princiapais bens e seviços naturais que serão de ora em diante fundametais para o sistema-Terra e para o sistema-Vida. Nossos governanentes não tomaram suficienemente a sério nossa importância para o equilíbrio do Planeta. Tal vantagem comparativa nos deve avaliar com outra ótica o nosso parco crescimento econômico. Poderemos ser a grande potência ecológica que nos vai beneficiar como país e também a inteira humanidade. Dai a nossa responsabilidade coletiva. Este artigo apareceu em O Estado de São Paulo no dia 7 de junho de 2012 sob o título “O PIB em crise e o mundo em crise”. LBoff
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Há uma intensa discussão em curso, na qual o governo federal parece quase isolado em suas posições. É a respeito do ritmo descendente de crescimento do Produto Interno Bruto – o PIB -, que no primeiro trimestre deste ano foi apenas 0,6% maior que o dos três meses anteriores. E levou a previsão de várias instituições para o ano a um aumento de apenas 2,4%, quando se calculava antes 3% ou mais. A própria OECD, que calculava esse crescimento em 2013 na faixa dos 4%, agora baixou para 2,9% e para 3,5% no ano que vem (antes, 4,1%), segundo noticiou este jornal no último dia 31. Diz o ministro da Fazenda que “criar empregos é mais importante que crescer o PIB”. Segundo ele, “a crise não afetou a maioria da população”.
É discutível. As faixas mais pobres no país cortaram em 11% suas compras de produtos básicos no primeiro bimestre do ano (ESTADO, 25/4). A inadimplência no país passou de 5,1% no ano passado para 6,49% em abril último (19/5); 18 milhões de pessoas trabalham sem carteira assinada, 15 milhões por conta própria (IBGE, 1/5); 90 mil crianças de 5 a 9 anos trabalham, 1,1 milhão entre 9 e 14 anos também. Se forem adotados os critérios da ONU, praticamente todas as pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família vivem “abaixo da linha da pobreza” (que é de 2 dólares ou pouco mais de 4 reais por dia).
O pessimismo mais recente diante das estatísticas brasileiras avança também pela área da dívida nacional, pois chegaremos a um “rombo” nas contas externas equivalente a 3% do PIB (23/5). As estimativas para a dívida pública estão em R$1,95 trilhão; ela exige juros de 9,74% ano (Agência Estado, 26/4), muitas vezes o gasto com todo o programa Bolsa Família. E a fatia do Brasil no comércio mundial caiu de 1,4 para 1,3% (11/4), quando era de 1,5% em 1985. Segundo alguns economistas, há produtos que o Brasil vende hoje para o exterior a preços inferiores (corrigida a inflação) aos que vigoravam antes da grande depressão da década de 1930.
Praticamente não teríamos caminhado nada, apesar dos enormes incentivos fiscais e de outros tipos. E ainda hoje estaríamos patinando sem sair do lugar, ocupando o 22.o lugar no mundo entre os países exportadores. Mesmo com a Europa em recessão (PIB de menos 0,2% no primeiro trimestre, desemprego médio de 12,2%, mas de até 27% na Grécia e perto disso na Espanha, situação brutal entre os jovens (16/5).
Não bastasse tudo isso, muitos economistas tratam, cada vez com mais freqüência, da chamada “crise da finitude de recursos”, consumo global de materiais (7 toneladas por habitante/ano) acima da capacidade de reposição do planeta. E tendendo a agravar-se, porque com o aumento já previsto de pelo 2 bilhões de pessoas até 2050 esse consumo, nos níveis atuais, chegaria a 65 bilhões de toneladas/ano. “O atual sistema no mundo está falido”, já se manifestou há uns dois ano o Blue Planet, que reúne 20 cientistas ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo. Na conferência Rio + 20, o próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, falou em “exaustão do sistema econômico e social” planetário.
E onde fica a saída ? A própria Universidade da ONU apresentou, na Rio + 20, seu estudo sobre um novo índice para calcular a situação de cada país, cada região – o Índice Inclusivo da Riqueza (IWR). Ele acrescenta aos fatores já avaliados pelo PIB e pelo Índice de Desenvolvimento Humano da própria ONU, através do PNUD – que inclui saneamento, expectativa de vida, educação e outros fatores – , a saúde, a segurança ambiental, os ganhos e perdas de recursos naturais nos ecossistemas. Por esse caminho, no estudo que foi feito pela Universidade para o período 1990/2008, a China, que teve um crescimento econômico de 422%, vê-lo-ia reduzido para 37%, com as perdas de recursos naturais; o Brasil, em vez de crescimento de 37%, teria 13% no mesmo período.
Se a questão central, como dizem economistas, está na crise de recursos materiais, o índice vem para o centro do palco.E a avaliação da situação brasileira não deve ficar restrita ao crescimento econômico. Tem de deslocar-se para uma estratégia que leve em consideração o privilégio brasileiro em matéria de insolação permanente, recursos hídricos, biodiversidade, possibilidade de matriz energética “limpa” e renovável, com energia de hidrelétricas, energias eólica, solar, de marés, geotérmica, de biomassas (cana, dendê, pinhão manso e outras). É um alto privilégio e o será cada vez mais, nos tempos difíceis em que navegamos no mundo.
Discute-se cada vez mais, entretanto, como mudar os modos de viver no mundo, torná-los compatíveis com os recursos disponíveis. E como fazer isso se cada país encara a questão de uma forma diferente, cada empresa tem sua estratégia própria e diferenciada, até cada pessoa comporta-se de forma a atender a seus interesses específicos. Como chegar a uma estratégia global adequada, sem a adesão geral ? Como observa o respeitado Edgar Morin, “há alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou são pontuais (…) O provável não é definido, permanece incerto (…) É preciso resistir e construir o improvável (…) O que é preciso reformar ? As estruturas sociais e econômicas ? Ou as pessoas e a moral ? (…) Esses processos têm de vir juntos (…) A metamorfose é possível e torna possível criar um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade, que não podemos prever, mas que ultrapassa a expectativa dos indivíduos e da sociedade atual” (Le Monde Diplomatique, dezembro de 2012). Por isso tudo, Morin recomenda a todas as pessoas, estejam onde estiverem, que lutem “pelas mutações, quer elas tenham dimensão global ou local”.
A briga não está confinada, portanto, ao crescimento econômico, ao PIB – embora suas múltiplas dimensões tenham de ser consideradas. Mas é preciso pensar muito além.
Muito bem colocada a questão: Se considerarmos os custos ambientais, o PIB diminui.
NO ENTANTO, ao custo ambiental da produção de bens e serviços, tem-se que considerar que o Brasil é o maior produtor individual do mundo de SERVIÇOS AMBIENTAIS, que não são computados no PIB. WWF (2012) relata que dez países (ali incluídos os cinco países do BRICS ) detinham, em 2008, 60% da biocapacidade do planeta. O Brasil, segundo se depreende do relatório é o país mais limpo do mundo, e possui, sozinho, 15,4% de toda a biocapacidade do planeta, apresentando uma biocapacidade per capita de 9,63 gha (hectares por habitante), para uma pegada ecológica (uso) de 2,93 gha;
Os serviços ambientais prestados pelo Brasil correspondem a 15,4% do total mundial (WWF, 2012), para uma população estimada em 3% (cerca de 200 milhões de habitantes no Brasil para um total de 7 bilhões de habitantes globais) e, se adotado o cálculo de serviços ambientais global de US$33 trilhões de Costanza et al. (1997), pode-se estimar o valor econômico dos serviços ambientais totais prestados pelo Brasil na ordem de grandeza de US$5 trilhões anuais. Com isso, a partir destes dados, o Brasil deixa de cobrar e receber o valor anual de US$ 4 trilhões (produz 15,4% e consome 3%).
COM ISTO, nosso PIB se considerados os serviços ambientais seria o dobro do atual!
O Brasil presta serviços ambientais para o mundo, sem receber remuneração por isso, ou seja, de uma certa forma como “trabalho escravo”. Os paises ricos, poluidores, se beneficiam de nossa “limpeza ambiental” mas nao pagam por isso. Não pagam por sequestro de carbono, por regulação de clima, por nada…quem suporta estas perdas são os proprietários rurais, os preservadores, e o povo brasileiro. Paradoxalmente, somos muito ricos, mas como não recebemos pelos serviços, somos país pobre.
Como escreve o articulista: “Poderemos ser a grande potência ecológica que nos vai beneficiar como país e também a inteira humanidade.”
São as considerações que submeto, para aprimorar o debate.
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Tem que se preservar, mais a questão é para quem, para o Brasileiro ou para Americano, Europeu ou Chinês, globalização com mão unica da nisto, pois a hora que a fome e a sede apertar , o mundo inteiro vem para cá pegar o que acha conveniente feito nuvem de gafanhoto.
O munda devia fazer uma reflexão profunda, do que ocorreu na Ilha de Páscoa. Estamos no mesmo caminho. Mas o brasileiro bate palmas para o atual status quo, e o energúmeno ainda é idolatrado.
É necessário pensar muito além, sim! Índices econômicos como etimologicamente se depreende são indicadores, portanto não devem ser confundidos com a realidade. Precisamos de um índice mais aproximativo da realidade sob pena de não termos tempo de mudar o curso deste desastre civilizacional e ambiental que aumenta a cada índice parcial e imediatista publicado.
Excelente artigo!
Interessante notar que até o presente momento não se tem nenhuma alternativa global de mudança – que se faz urgente – no status quo – do Sistema. É evidente que não será ele, em todas as suas vertentes, a apresenta-las; dependeria do animal humano LUTAR pela sua própria sobrevivência, lutando pela sobrevivência dos recursos naturais; entretanto, essa Civilização que deverá passar para a história como: Civilização do Consumo, não tem nem as informações necessárias da Força do Sistema e da precariedade dos recursos planetários. Não somos uma Sociedade atuante, infelizmente! Quanto a humanidade, é apenas uma palavra para definir a quantidade de animais humanos, em vivência, no Planeta Terra. Então…?!!!!!!!!!!!!!!
Artigo seminal. Aliás, algo que junte L. Boff, W. Novaes e E. Morin, merece ser lido até por quem não gosta deles. Esta semana, viajando de João Pessoa para Recife, vi geradores de energia eólica parados. Comentei o fato com meu amigo, que me disse: o custo da distribuição ainda é muito caro. O problema é este: falta visão de estratégia aos governantes, que, acuados por uma crise sistêmica, apenas olham o hoje, pondo em risco o futuro. Outra questão absolutamente essencial apontada por Morin: desenvolvimento e ética precisam caminhar juntos, senão não conseguiremos superar os desafios que já são presentes. Por isso é que ele tem razão em recomendar que: “todas as pessoas, estejam onde estiverem, que lutem pelas mutações, quer delas tenham dimensão global ou local”. Mudar o mundo, começa por mudar a si próprio e ao seu entorno. Creio nisto de coração.