ANDRÉ TRIGUEIRO é um dos jornalistas mais competentes em questões ecológicas e principalmente com seu programa na Globonews Cidades e Soluções procura dar relevância aos experimentos bem sucedidos, daqueles que vem de baixo, que podem incentivar a outros a segui-los. Este artigo é um alerta face à situação do aquecimento global que não para de crescer. Acrescento um dado da U.S.Natonal Academy of Sciences de 2002 e repetido em 2007 que afirma: pelo pouco que fazemos, podemos conhecer nos próximos tempos um Abrupt Climate Change. O clima poderá em pouco tempo subir a 4-6 graus Celsius. Com essa temperatura as formas de vida conhecidas dificilmente subsistirão e grande da humanidade poderá até desaparecer. Basicamente estamos jogando roleta-russa com a arma apontada para a cabeça de nossos filhos e netos. Isso não é terrorismo ecológico mas séria advertência. Desta vez não podemos errar ou chegar tarde demais, porque aí sim teremos um destino dramático e trágico. O artigo foi publicado no Blog Mundo Sustentável de 13/05.2013: LBoff
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Cada geração deixa para a seguinte um legado, uma herança, uma marca de sua passagem pela Terra. Quando na última quinta-feira (9), dois diferentes observatórios internacionais confirmaram a concentração recorde de 400 partes por milhão de C02 na atmosfera, materializamos um dos mais terríveis legados da nossa geração. Se for para ser assim, é bom que saibamos exatamente o que isso significa.
Apesar de todos os alertas da comunidade científica – especialmente do grupo de aproximadamente 2.500 cientistas reunidos no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU – chegamos ao patamar considerado de risco para que os fenômenos climáticos ocorram de forma minimamente previsível e não ameace a vida tal como a conhecemos. Ou seja, estaríamos maculando o software inteligente da natureza através do qual os ciclos climáticos se resolvem.
Sim, ao longo de sua história o planeta já sofreu várias glaciações e já conheceu períodos de concentrações ainda mais intensos de CO2 na atmosfera. O fato é que jamais tamanha acumulação de gases na atmosfera aconteceu tão rapidamente, determinando em um período tão curto de tempo variações tão importantes de temperatura. Em resumo: este novo ciclo de aquecimento global guarda uma forte relação com nossos hábitos, comportamentos, padrões de consumo e estilos de vida.
É como diz Nate Lewis, do Instituto de Tecnologia da Califórnia: “A composição da atmosfera terrestre tem permanecido relativamente imutável por 20 milhões de anos. Mas nos últimos 100 anos, começamos a transformar de forma drástica essa atmosfera, e a mudar o equilíbrio de calor entre a Terra e o Sol, de modo que essas mudanças poderão afetar enormemente o habitat de cada planta, animal ou ser humano neste planeta”.
A capacidade de o planeta “metabolizar” os gases-estufa através de fenômenos naturais de absorção pelos oceanos, solos e florestas é de aproximadamente 5 bilhões de toneladas por ano. Apenas no ano de 2008 (no auge da crise internacional e com as economias do mundo desaceleradas) emitiu-se 7,9 bilhões de toneladas com a queima de combustíveis fósseis e 1,5 bilhão de toneladas com os desmatamentos. Esses 4,4 bilhões de toneladas a mais vão se acumulando lenta e perigosamente na atmosfera, agravando a retenção de calor.
Os 10 anos mais quentes já registrados desde o início das medições, em 1880, ocorreram a partir de 1996. A concentração de 400 ppm de CO2 registrada dias atrás projeta um cenário de aquecimento – se nada for feito e continuarmos aumentando nesse ritmo as emissões de gases-estufa – que poderá chegar aos 6,4 ºC graus até o final do século.
Professor de Política Ambiental em Harvard e ex-presidente da Associação Americana para o Progresso da Ciência, John Holdren explica de forma bastante simples os impactos da elevação da temperatura do planeta: “A temperatura normal de seu corpo é cerca de 37 ºC. Quando sobe um pouco, até 39 ºC, isso já é uma coisa grave, e mostra que há alguma coisa errada com você”.
O degelo das calotas polares (que vem acontecendo numa velocidade superior à prevista pelos estudiosos) e a expansão volumétrica dos oceanos já determinaram a elevação do nível do mar entre 10 cm e 20 cm no século passado. Parece pouco, mas não é. Em um planeta mais quente esses processos serão intensificados e deverão modificar a geografia costeira dos continentes com impactos diretos sobre aproximadamente 600 milhões de pessoas que vivem em áreas mais vulneráveis.
Haverá também mudanças importantes nos ciclos de degelo em cordilheiras nevadas como os Andes e os Himalaias. Isso significa a interrupção do abastecimento regular de água em períodos de estiagem em países como China, índia e Peru, com graves impactos na produção de alimentos. Certas culturas agrícolas mais sensíveis já estão sendo realocadas pois não se adaptam facilmente à mudança do clima. Isso tem provocados sucessivas quebras de safra e riscos reais para a segurança alimentar em várias partes do mundo.
A acidificação dos oceanos – causada pelo acúmulo de CO2 – e a elevação da temperatura da água já estão determinando perdas importantes nos ecossistemas marinhos. A principal delas é a morte dos corais, base da cadeia alimentar de inúmeras espécies. Sem redes de corais resilientes e saudáveis, os impactos econômicos e sociais sobre quem pesca, quem processa o pescado e quem se alimenta de peixes e frutos do mar é incalculável.
São muitos os estudos revelando os impactos das mudanças climáticas sobre espécies animais e vegetais. Nos diferentes reinos da natureza, nem todos os seres vivos se adaptam a mudanças de temperatura. Considerando o nível de interdependência entre as espécies, cada perda significa um novo risco sistêmico, enfraquecendo a “teia da vida”.
A mudança do ciclo da chuva é particularmente dramática em países como o Brasil, que depende de “São Pedro” para manter uma agricultura forte e pujante e uma matriz energética fortemente baseada em hidroeletricidade. Para sustentar o nível dos rios e das represas em padrões adequados, é preciso chover no lugar certo, e de preferência, nos períodos certos.
O agravamento dos chamados eventos extremos – aumento do poder de destruição de furacões, ciclones, tornados, tufões, secas, inundações etc – tornou obrigatória a definição de novos protocolos de segurança, alertas meteorológicos, macrodrenagem urbana, contenção de encostas, remoção das áreas de risco e etc.
São muitas as mudanças necessárias e urgentes na direção da mitigação (redução das emissões de gases-estufa) e adaptação (ações que reduzam os impactos inevitáveis causados pelas mudanças climáticas). O incrível – ou melhor, o absurdo – é que a ampla maioria dos países endossa os alertas da comunidade científica, financia as pesquisas de ponta relacionadas às mudanças climáticas, assina acordos internacionais importantes como o do Clima (1992) e o Protocolo de Kyoto (1997), envia representantes para as Conferências das Partes organizadas pela ONU para debater o assunto, mas, apesar de tudo isso, não consegue praticar o que fala.
É enorme a distância que separa as “boas intenções” das medidas concretas e efetivas que reduzam os estragos das mudanças climáticas. São muitos os chefes de estado que posam com o cenho franzido na foto, declaram-se publicamente preocupados e comprometidos, mas que nada ou pouco fazem. A atual geração de líderes políticos entra para a história como os avalistas do indigesto legado de 400ppm de CO2 na atmosfera.
Esse descolamento entre o discurso engajado e as políticas públicas se materializou fortemente no ano passado durante a Rio+20 (o maior encontro internacional da História em número de países), quando a proposta de se reduzir ou eliminar os subsídios da ordem de 1 trilhão de dólares destinados anualmente à exploração de petróleo foi solenemente ignorada na Cúpula. O Brasil, por exemplo, que realiza esforços e manobras contábeis sem precedentes para financiar a exploração do petróleo na camada pré-sal, foi contra.
Trata-se do mesmo governo que ignorou o prazo estipulado pela Política Nacional de Mudança do Clima (abril do ano passado) para que fossem anunciadas as metas para a redução das emissões de gases estufa em setores específicos da nossa economia.
Fundador do World Watch Institute, atual presidente do Earth Policy Institute, o pesquisador Lester Brown, em um dos capítulos do livro “Plano B 4.0”, resumiu da seguinte maneira o tamanho do desafio que os atuais chefes de estado não parecem dispostos a enfrentar com a devida celeridade:
“Dada a necessidade de simultaneamente estabilizar o clima e a população, erradicar a pobreza e restaurar os sistemas naturais da Terra, a civilização enfrenta, neste início de século 21, desafios sem precedentes. Responder bem a pelo menos um deles já seria algo importante. Mas o grave quadro exige responder efetivamente a cada um deles ao mesmo tempo, tendo em vista a interdependência entre os problemas”.
Tal como hoje se dá na Alemanha, quando as novas gerações estudam o nazismo nas escolas e depois, em casa, os netos perguntam para os avôs: “O que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”, é bastante provável que em um futuro próximo também os nossos netos nos perguntem: “Quando se confirmou o risco do pior cenário climático, o que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”
Qual será a sua resposta?
Enquanto formos governados pelo EGO, caros Frei Leonardo e André, não haverá solução. Evoluímos mais por erro do que por acerto. O problema é que já ultrapassamos o limite para reversão do quadro. Ele aponta, infelizmente, pra uma situação de caos com guerra, fome ou epidemia, ou ainda num cenário mais severo um mix destas tragédias. Mas vamos continuar na luta por uma reforma moral e ética do ser humano. E orar tb…
Alexandre, você está coberto de razão! Até tempos atrás eu tinha, ainda, uma certa expectativa favorável em relação a profundas mudanças em paradigmas atuais relacionados ao Sistema; sinto em dizer que, dia após dia essa expectativa muda de feição; não sei, mas creio que os netos não terão tempo de fazer essa pergunta, se tudo continuar exatamente como está. Vejo também, Alexandre, que as ações que teriam maiores impactos positivos abalariam, de forma também catastrófica, o que se chama de desenvolvimento e a própria vida de cada humano. Teríamos que desacelerar tudo que diz respeito à “pilhagem” dos recursos naturais; teríamos de diminuir a menos da metade toda e qualquer produção; só isso já nos ilustra o caos social a ser enfrentado. Entretanto, provavelmente a humanidade chegará, por bem ou por mal, a essa situação e isso, se a Natureza não antecipar suas ações em defesa do Planeta, dando um basta nos animais humanos, predadores cruéis – Nós!
Maria do Rocio
Concordo plenamente com sua reflexão e com a forma que encontrou para expressá-la. Onde é grande o risco, diz o poeta, grande tambem é a chance de salvação.
lboff
Temos uma Constituição e, no entanto, não é respeitada. Não se admira que os responsáveis-classe legislativa não tome iniciativa nesse sentido de obedecer ao que foi acordado.
Mais do que uma reflexão , seu texto conta um descumprimento de obrigação. Por isso, costumo explicar os equívocos da sociedade como doença. O fator inteligência também é precário.Só nos resta precaver e, não querem.Um abraço, Isabel
SI, 1º NO FRENAMOS “LA CIVILIZACIÓN DEL AUTOMÓVIL, 2º NO DEJAMOS DE CONSUMIR CARNE Y 3º NO TERMINAMOS CON LA DE FORESTACIÓN A NIVEL GLOBAL. TODOS LOS DIAGNÓSTICOS SEGUIRÁN SIENDO MUY BUENOS, PERO LOS TRATAMIENTOS NO TENDRÁN NINGÚN RESULTADO POSITIVO….
Respeito os materialistas porque acredito que cada um tem o direito do livre pensar, também gosto de ser respeitado por acreditar que a vida é muito mais que um simples processo biológico. Depois de ler o artigo do André fiquei me perguntando o quanto da crise ambiental é devida aos materialistas e aos pseudo espiritualistas, que simplesmente utilizam os recursos disponíveis sem outras perspectivas além de viver o presente, já que segundo essa crença, tudo acaba com a morte. As bestas ferozes que se intitulam nações desenvolvidas, ou melhor dizendo, os grupos que dominam o capital internacional, são comandados por materialistas convictos, toleradas por uma humanidade com fraca orientação espiritual e grande apetite pelo prazer. Cabe a pergunta do André: “E o (a) sr.(a) o que fez para impedir isso?” Resta a convicção de que ainda assim, a vida continuará para todos, e cada um responderá por aquilo que haja ou não haja feito. Chegou a hora de descermos do muro. Um abraço fraterno para todos, materialistas, espiritualistas e para os que estão em cima do muro.
Se meu filho (se eu tiver) me perguntar o que eu fiz para mudar isso eu vou dizer: “meu filho, eu consumi apenas o necessário, quebrei meu cartão de crédito, mobiliei minha casa com móveis que achei no lixo, montei a estante da sala com caixotes de feira, plantei meus temperos em garrafa pet na janela (apesar de morar numa kitinete no centro do Rio de Janeiro, reutilizei tudo o que eu pude, mas, acima de tudo, eu me livrei do meu ego consumista e fútil que me fazia acreditar que TER é igual a SER. Aprendi a observar, respeitar e a me relacionar com a natureza”. Bom, isso foi o que fiz até agora. Meu projeto pro futuro é simplesmente ter minha casa com captação de água da chuva, horta e árvores, é claro. Esse capitalismo selvagem que está transformando o planeta só respeita o BOICOTE! Nada mais. Acredito que passaremos por períodos de muita dificuldade, mas depois as coisas se acertam. Ta chegando a hora de sair da caverna de Platão, não dá mais pra contemplar as sombras. A sustentabilidade será o movimento realmente revolucionário que começará de baixo pra cima, e não o contrário, já que governos e empresas não estão comprometidos com isso. Tenho fé!
Fernanda
Vc escolheu o certo. Precisamos de tão pouco para viver.Vc é uma semente do futuro. E como semente contem dentro de si as raizes,o tronco, a copa, as folhas, as flores e os frutos, tudo. Vamos irradiar. O caminho é esse mesmo da sobriedade compartida e da simplicidade da vida
com fraternura
lboff
Obrigado, Leonardo! É um privilégio ler essas palavras a meu respeito de mim vindo de vc! Faço o possível para me libertar e espalhar essa semente da libertação ao meu redor!
Os pais precisam ser exemplo para seus filhos… E tem a responsabilização de ajudar a compreensão dos porquês e deve ter atitudes para preservar o nosso planeta que o próprio Homem tem o poder de destruí-lo
Valeu Leonardo sua publicação. Com tantos sinais de alerta… avisos…dos cientistas da MÃE NATUREZA ainda não se vê mudanças nas políticas governamentais… medidas enérgicas…em todas as esferas…….MEDIDAS PLANETÁRIAS…. prevalece a lei do EGOÍSMO… DO TER…. é triste o futuro que aguardam nossos filhos, netos…..
Infelizmente creio que uma mudança impactante no cenário atual é pouco provável. Existem movimentações pontuais e edificantes como o Trigueirinho e o SWU, entretanto, uma mudança governamental ampla é pouquíssimo provável, pois para isso os ideais de desenvolvimento deveriam incluir a sustentabilidade, entretanto a economia global vê esse fator como inimigo.
Se nos pressupostos morais não está inclusa a preocupação com o planeta, como isso pode mudar??!
A situação do meio ambiente traz em mim a mesma angústia que o fenômeno da medicalização, fermentado pela indústria farmacêutica. Mesmo parecendo fatores tão distintos cantam no mesmo tom: o egoísmo, a ganância e o poder controlando tudo e à todos.
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