Aldo Fornazieri,doutor em ciência política e Diretor Acadêmico da Fundação de Escola de Sociologia e Política, escreveu este texto, contundente e até comovente sobre a atual situação do Brasil que nos envergonha e humilha a todos. Vale le-lo pois nos traça o cenário sombrio e desalentador que afeta a maioria da população. Saiu publicado no site de Luis Nassif GGN de 19/08;17): Lboff
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No último dia dois de agosto de 2017 assistimos, paralisados, a morte moral do Brasil. Pela primeira vez na história, um presidente da República foi flagrado cometendo crimes e os falsos representantes do povo decidiram dar-lhe aval para que ele siga impune no exercício da mas alta magistratura do país sem que a tenha recebido da vontade do povo. Pelo contrário, deixaram-no no cargo contra a vontade da esmagadora maioria do povo. De lá para cá, o país sangra sem dignidade e o pavilhão auriverde tremula com as manchas cinzentas da vergonha.
A morte moral do Brasil não foi acompanhada pelo tinir de batalhas nas ruas e nas praças, por gritos de indignação, e pelo rufar de tambores da guerra. Com exceção de uma escaramuça aqui, outra acolá, o povo assistiu cabisbaixo a morte da dignidade nacional. O que se ouviu foram lamentos de desesperança de uma sociedade fraca que se afunda em sua fraqueza, de um povo desanimado, incapaz de qualquer ato de virilidade combativa.
O que se viu foi um povo cativeiro de sua própria impotência, sequer comparável aos hebreus escravizados no Egito, porque aqui não há um Moisés libertador, capaz de conduzi-lo a uma Terra Prometida qualquer. Os nossos políticos são valentes em seus gabinetes, são combativos em sua vaidade, são espalhafatosos em suas inconsequências e são heróis de sua própria covardia. Não, aqui o povo está cativo em sua própria terra, sem um líder que o convoque para a luta, que possa servir-lhe de exemplo, de inspiração.
O assassinato moral do Brasil não deixou viúvas vingativas, filhas revoltadas, filhos, parentes e amigos desensarilhando armas para o combate. Silêncio, fastio, recolhimento, desalento e resignação são os entes que acompanham o triste féretro por onde passa o corpo insepulto deste país apunhalado em sua inglória trajetória, extraviada nos tempos.
O povo bestializado que viu nascer a República – no dizer de Aristides Logo – proclamada por um marechal monarquista, sem saber o que estava acontecendo, é o mesmo povo bestializado de hoje que viu Temer ser salvo porque a vida é assim, porque os políticos são assim, porque o Brasil é assim e porque nada importa. Tanto fez, como tanto faz. Resignação e indiferença parecem ser os melhores remédios quando não há ânimo no espírito, quando não há virtudes cívicas, quando não há coragem e disposição para a luta, quando não há líderes autênticos. Resignação e indiferença é a melhor maneira de enfrentar a trágica normalidade, porque nada muda numa realidade pacata, violentamente pacata, que sempre foi assim e sempre será assim.
Os políticos de Brasília, os operadores do mercado financeiro, os grandes capitalistas, os empresários da Fiesp que nunca pagam o pato, não choram por este Brasil moralmente decapitado. Não choram pelos 60 mil mortos anuais que acompanham esse corpo de um Brasil saqueado; não choram pelas mães e pelas viúvas de jovens assassinados; não choram pelos milhares de corpos mutilados no trânsito; não choram pelo choro das crianças baleadas no ventre das mães, da meninas abatidas pelas balas perdidas; não choram pelos doentes amontoados nos corredores dos hospitais públicos; não choram pelas crianças que não têm leite, pelo trabalhador que não dorme, pela empregada doméstica humilhada e pelas famílias que não têm lar. Os políticos choram pelo teu voto, pela propina dos empresários, pelo cargo público para os apadrinhados, pelo enriquecimento privado.
Não há sentido de grandeza nas ações dos nossos políticos, nem honra em servir o bem público, nem ambição de conquistar a glória imorredoura dos grandes feitos construídos pelo espírito heróico do desprendimento sacrificante da doação pessoal pelo país. Os nossos políticos almejam a reputação dos mesquinhos, as pequenas manobras dos espertalhões, as palavras lustrosas dos demagogos, os atos teatrais dos charlatões.
Os historiadores nos descreverão em cinza sobre cinza
Os historiadores do futuro haverão de descrever o nosso tempo em páginas cinzentas com letras cinzentas, pois nada de dignificante e glorioso há o que se relatar. Há que se relatar os andrajos morais de um país sem dignidade, uma época de covardias de gentes indisponíveis para a luta. Há que se relatar uma tenebrosa noite de incertezas, de rostos deprimidos pela desesperança. Há que se relatar um tempo de políticos que engrandeceram os bolsos para empobrecer a pátria, de empresários que compraram políticos para se apoderar dos cofres públicos, de inconfidentes contra a Constituição que deveriam ser seus próprios guardiões.
Há que se relatar um tempo em que o país foi assaltado por políticos velhacos e quadrilheiros, cuja competição não era para inscrever nas páginas da história as vitórias triunfais na construção de um país grandioso, mas para ver quem se apossava mais do botim do tesouro público, para ver quem era o melhor amigo dos empresários para solicitar-lhe a propina em troca de favores escusos.
As gerações futuras sentirão vergonha do nosso tempo, sentirão desprezo pela nossa covardia e pela nossa prostração. Serão justas se não sentirem nenhuma magnanimidade compreensiva, pois não a merecemos. Não mereceremos a benevolência do perdão porque estamos legando a elas uma herança trágica, de um país que se arraigou à sua desigualdade, à sua incultura, à sua indignidade e à sua falta de coragem.
As gerações futuras nos condenarão a nós e a nossos inimigos. A nós porque fracassamos de livrar o Brasil de seu opróbrio; não fomos capazes de enfrentar os inimigos do povo com a astúcia virtuosa do bom combate; nos enredamos nas auto-justificativas pueris dos nossos próprios fracassos; não tivemos princípios de conduta disciplinadores; não nutrimos traços de caráter intransigentes com as injustiças e com as desigualdades; não fomos inconformados com os nossos próprios erros e fracassos; não tivemos a virtù guerreira para proteger e liderar os mais fracos e arrancar dos poderosos os frutos de suas rapinas.
Os nossos inimigos serão condenados pela encarnação histórica do mal que sempre foi feito desde que o Brasil é Brasil. São a continuação dos massacres contra os índios, dos açoites e dos grilhões contra os negros, do sangue derramado dos camponeses nos campos vastos do Brasil, do cansaço, suor e lágrimas dos trabalhadores explorados. São a continuação da violência sexual, moral e laboral contra as mulheres.
Michel Temer e seu governo são uma síntese de toda essa perversidade criminosa que cobre o Brasil de sangue, de vergonha e de indignidade. Quando as forças terríveis do Hades tragarem Temer para as profundezas dos abissais, não lhes será erguida nenhuma estátua para que fique na memória do país. Essas forças o arrastarão para os campos do esquecimento eterno. E se alguém encontrar a sua sepulura em tempos remotos do futuro haverá de ler: “aqui jaz um corrupto que destruiu o Brasil para salvar o seu mandato ilegítimo”.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
Quem começou essa trajetória foi o partido que elegeu Michel Temer, como vice, e não admite… Pois apenas usou o político, como usou o povo todo para manutenção do seu projeto de poder a qualquer custo.
Amaurih Vc assume o discurso dos reacionários e direitistas que nunca se deram bem com a dmocracia e jamais quiseram fazer algo para os milhões de pobres desse pais.Vc parece que só vê, lê e escuta a Globo. Lamento.
O que fizeram pelos pobreas deste país, o bolsaa família, os milhoes que tiraram da miséria, os individando e agora voltando ao o que eram ainda pior, por puro engodo a que se prestaram acreditando que fazendo dívidas sairiam da pobreza, isto foi oque a petralhada fez com os pobres., se Boff
Vejo, leio e escuto a Globo, o suficiente para perceber que os ideais do senhor e da Globo estão sendo os mesmos. A Globo também quer antecipar a saída de Temer, como se isso resolvesse alguma coisa, e o que resolve é só a intenção dos inimigos do país que não se importam com o “quanto pior, melhor”…
A Globo mudou eu não mudei. A Globo defendia Temer. Depois mudou e começou a atacá-lo como continua.Eu sempre achei que ele deveria, num gesto de grandeza, convocar eleições gerais e renunciar. lboff
Jesus Adorado, meu Senhor,meu Deus, meu Tudo. Aumenta em nós a fé , a esperança, a caridade. A certeza do Bem que sois Vós com o Pai e com o Espírito Santo. Amém.
“Só Deus, só âncora no absoluto pode dar valor e sentido à nossa vida.” (Dom Valfredo Tepe, Ofm, bispo).
Parece que Brasília vive o mesmo clima dos morros cariocas, várias gangs disputam o comando dos pontos de venda. O presidente em exercício é apenas um dissidente que decidiu assumir o comando, contando com a compra do apoio dos demais. Não vejo um lado “bom” que possamos nos apoiar, de maneira que só nos resta esperar por uma autodestruição.
Senti um peso tão grande ao ler que as gerações futuras nos cobrarão por não termos tido atitude. Acho que são sintomas de uma nação deprimida, tão entristecida em meio à sua realidade. Fraca para se levantar sequer da cama. É uma estagnação proporcional ao choque que tanta corrupção e impunidade nos causa.
Republicou isso em Zefacilitador.
Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
Aldo Fornazieri,doutor em ciência política e Diretor Acadêmico da Fundação de Escola de Sociologia e Política, escreveu este texto, contundente e até comovente sobre a atual situação do Brasil que nos envergonha e humilha a todos. Vale lê-lo pois nos traça o cenário sombrio e desalentador que afeta a maioria da população. Saiu publicado no site de Luis Nassif GGN de 19/08;17). Leonardo Boff.
Triste !
Uma reflexão muito real.
Republicou isso em tyrsoreblog.
” Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Paulo Apóstolo).
“Toda escolha que nos faz livres, é uma ressurreição de Cristo na nossa vida”. (Thomas Merton).