Em época de austeridade fiscal e de reformas impopulares como a da Previdência, o combate à sonegação, que passa de R$ 400 bilhões ao ano no Brasil, é deixado de lado, escreve Tomás Rigoletto Pernías, doutorando em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp, em artigo publicado por Brasil Debate, 25-04-2017: “Sonegação fiscal, o esporte predileto das elites” Veja também em IHU de 26 de abril de 2017.
Eis o artigo.
Em tempos de crescente desigualdade social, desemprego, rebaixamento dos salários, corte nos benefícios sociais e precarização dos serviços públicos, é imperioso frisar que há uma alternativa para a agenda de austeridade imposta pelo governo. Repetir o mantra “não há alternativa”, TINA – “There is no alternative“, também é, por seu turno, uma escolha.
O combate à sonegação fiscal, alternativa pouco lembrada pelos parlamentares quando o assunto concerne à arrecadação fiscal, passa ao largo da agenda governamental. Cumpre lembrar que o recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ainda em 2016, procurou inviabilizar a continuidade da CPI do CARF,(Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) em clara tentativa de blindar investigações que miravam os grandes empresários e suas relações promíscuas com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
Estima-se que, somente em 2013, o valor de impostos sonegados no Brasil tenha atingido R$ 415 bilhões. No ano seguinte, em 2014, o valor sonegado chegou aos R$ 500 bilhões. Tampouco em 2015, com o ex-ministro da fazenda Joaquim Levy – mãos de tesoura – e seu suposto rigor fiscal, o assunto foi tratado de maneira diferente, uma vez que a sonegação ultrapassou os R$ 420 bilhões.
Querido pelo mercado financeiro e bem visto pelos grandes veículos de comunicação, o atual ministro da Fazenda Henrique Meirelles parece ignorar que o combate à sonegação é uma alternativa viável às práticas de austeridade econômica. Em 2016, estimou-se que, novamente, R$ 500 bi foram sonegados.
Entretanto, mesmo após as experiências fracassadas dos países que optaram pelas vias da austeridade depois da crise de 2008, os parlamentares brasileiros aprovaram a PEC 55, que congelou por 20 anos os gastos do governo federal. O descaso relacionado à cobrança de recursos públicos afeta diretamente a previdência – alvo da vez – com somas que atingem R$ 426 bilhões devidos ao INSS por diversas empresas.
Em 2017, a sangria persiste: aproximadamente 158 bilhões sonegados. Neste mesmo ano, o ministro Henrique Meirelles sinaliza uma possível elevação de impostos, ao contrariar os anseios da notória campanha realizada pela FIESP – “não vou pagar o pato”. O motivo: evitar o descumprimento da meta fiscal e contornar a frustração da receita pública. Além disto, observa-se que o sistema tributário brasileiro, que já pune desproporcionalmente a população pobre, é marcado por seu caráter regressivo e injusto – como bem observado pelo colega Juliano Gourlarti em artigo publicado no Brasil Debate.
A sonegação também é um esporte praticado em outros países. Nos EUA, o Internal Revenue Service (agência norte-americana responsável pelo recolhimento dos impostos) estima que o net tax gap médio (diferença que nunca será recuperada entre o valor que deveria ser recolhido e o valor efetivamente recolhido) anual entre 2008-2010 seja de U$406 bilhões. Neste ínterim, Donald Trump procura desmantelar iniciativas como o Obamacare, ao dificultar ainda mais o acesso da população pobre ao sistema de saúde norte-americano, caracterizado por seus custos elevados em comparação com outros sistemas de saúde de países desenvolvidos.
No Reino Unido, em 2013: £119.4 bilhões foram estimados para o tax gap – a soma dos impostos não pagos, impostos evitados e a sonegação. Autoridades oficiais apontam um valor menor, mas ainda significativo. Entrementes, o National Health Service – sistema de saúde público inglês – sofre com os cortes promovidos pela austeridade fiscal, deteriorando a qualidade da oferta de serviços de saúde.
Para além das pessoas físicas que podem contratar serviços de “planejamento tributário” para seus impostos, o que dizer de empresas como a Apple, Google e empresas farmacêuticas, que surfaram em inovações tecnológicas criadas e financiadas pelo Estado – com o dinheiro de impostos dos contribuintes norte-americanos – mas que agora abusam de créditos fiscais/tributários e procuram fugir de suas obrigações fiscais? “Stay hungry, stay foolish” ?!? Mariana Mazzucato, em seu livro O Estado Empreendedor – Desmascarando o Mito do Setor Público Vs. o Setor Privado, explora a questão e demonstra como as grandes empresas que se apoiaram em recursos públicos estão falhando em dar a devida contrapartida à sociedade.
Cabe questionar: a quem interessa a sonegação e a morosidade com a cobrança dos impostos devidos? Ao trabalhador formal, certamente que não, posto que seu imposto de renda é retido na fonte. O escândalo recente “Panamá papers”, ao flagrar graúdos da política e mundo empresarial envolvidos em “contabilidade criativa” e alocação de recursos em paraísos fiscais, prova que a sonegação favorece a classe alta – em evidente detrimento do grosso da população.
É fundamental salientar que há uma alternativa aos descaminhos da austeridade fiscal. Para além de perseguir uma estratégia que priorize o crescimento econômico – sem o qual não haverá recuperação das receitas fiscais – é urgente a criação de um sistema tributário que combata a desigualdade e a sonegação.
A mesma mão que taxa pesadamente os pobres parece acariciar o bolso dos ricos. Essa mão não é invisível.
Afinal de contas, existe (ou não) almoço grátis?
http://www.14ymedio.com/nacional/Sentencian-Dama-Blanco-presunto-atentado_0_2206579330.html
Uma Dama de Branco de 53 anos está sendo acusada de atentado, porque caiu junto com o policial que tentava subjugá-la. Algum comentário?
Sou uma senhora viúva, sem filhos. Pago religiosamente o imposto de “renda”, sou pensionista. Quanto aos magnatas sonegadores , é bom lembrar que: caixão não tem gaveta e mortalha não tem bolso!
Como esse é um assunto que desconheço, quase que por completo, gostaria de uma explicação bem clara de COMO É POSSÍVEL SONEGAR UM MONTANTE DESSA ORDEM; Qual ou quais organismos permitem isso?
Maria, entre no site dos auditores fiscais, veja pelo Google aí terá dados e explicações.Ai se diz mais que 900 bilhões de dólares sonegados pelo capital ilícito vão para fora, nos offshores e bancos estrangeiros. É próprio do sistema do capital selvagem que só pensa em acumular mais e mais se utilizar em todos os países, desta mesma lógica. Esse sistema brutal e desumano tem que ser superado, caso contrário vai pôr em xeque a vida na Terra pelo uso total de seus bens e serviços cada vez mais escassos. lboff
Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
Em época de austeridade fiscal e de reformas impopulares como a da Previdência, o combate à sonegação, que passa de R$ 400 bilhões ao ano no Brasil, é deixado de lado, escreve Tomás Rigoletto Pernías, doutorando em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp, em artigo publicado por Brasil Debate, 25-04-2017: “Sonegação fiscal, o esporte predileto das elites” Veja também em IHU de 26 de abril de 2017.
Eis o artigo. (clique no linque)
Mas, e esse governo golpista, vai ou não vai dar em cima dos sonegadores? Como é que pretendem arrochar ainda mais os/as trabalhadores/as, fazendo vistas grossas com relação a sonegadores e apaniguados! Esse (des)governo não deveria estar cobrando os/as devedores/as, ao invés de tirar nossos parcos direitos? Vamos lá, senhores/as golpistas; cobrar o devido pelos/as sonegadores/as!
Sou viúva e pensionista há 17 anos e 8 meses. Pago segundo a lei o Imposto de Renda . É vergonhoso que brasileiros deixem de pagar e que o Governo do Brasil não faça a cobrança. Infelizmente são falsos brasileiros e governo ! Estou orando pela conversão da Humanidade e pela santificação da mesma! “Orai sem cessar!”. Marízia Lippi.