ROSEMARIE MURARO foi das primeiras mulheres a introduzir ainda nos anos 60 do século passado a questão do feminino e de gênero no Brasil. Com ela trabalhei por 22 anos na Editora Vozes, ela coordenando o editorial leigo e eu o religioso até que ambos fomos desfrenestrados pela ala conservadora do Vaticano que nada queria ouvir de libertação seja dos pobres seja das mulheres.
ROSEMARIE é formada em física e matemática. Mas foi além destes campos. Hoje é uma das intelectuais brasileiras que melhor pensa os destinos da humanidade na era da tecno-ciência. É notável e altamente instrutivo seu livro OS AVANÇOS TECONOLÓGICOS E O FUTURO DA HUMANIDADE: QUERENDO SER DEUS? (Vozes 2009).
Agora, no dia 11 de maio, sexta-feira, lança na livraria da Travessa dentro do Shoping Leblon (Rua Afrânio de Melo Franco,290), a partir das 19.00 horas seu mais recente livro: REIVENTENDO O CAPITAL/DINHEIRO (Editora Idéias e Letras 2012 que pode ser adquirido ainda pelo número 0800 160 004). O livro é atualíssimo pois à luz da atual crise financeira mundial propõe alternativas já ensaidas pela humanidade que são as moedas sociais e complementares. Já existem mais de dez mil no mundo e dezenas no Brasil. Um resumo de suas teses foram apresentadas numa revista econômica norteamericana, via internet, e teve mais de um milhão de acessos.
Elas atendem principalmente os pobres e lhes permite acesso aos bens essenciais sem passar pelo sistema bancário e financeiro articulado ao sistema perverso da acumulação atual.
Haverá um debate no qual eu mesmo participarei.
Não faremos como os G-20 que quando se reúnem é para discutir dinheiros, taxas de juros e mercados. Aqui disutiremos o sentido de nossas vidas, o destino de nossa civiliazação e a esperança que podemos justamente alimentar face à crise que assola a humandidade inteira.
Todos os que puderem vir e participar serão ben-vindos.
Permito-me republicar um artigo que lancei sobre o livro REINVENTANDO O CAPITAL/DINHEIRO no inícios deste ano. Para os que não o leram terão aqui um pequeno resumo.
LBoff
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Atualmente grande parte da economia é regida pelo capital financeiro, quer dizer, por aqueles papéis e derivativos que circulam no mercado de capitais e que são negociados nas bolsas do mundo inteiro. Trata-se de um capital virtual que não está no processo produtivo, este que gera aquilo que pode ser consumido. No financeiro, reina a especulação, dinheiro fazendo dinheiro, sem passar pela produção. Vigora um perverso descompasso entre o capital real e o financeiro. Ninguém sabe exatamente as cifras, mas calcula-se que o capital financeiro soma cerca de 600 trilhões de dólares enquanto o capital produtivo, do conjunto de todos os paises, alcança cerca 580 trilhões. Logicamente, chega o momento em que, invertendo a frase de Marx do Manifesto, “tudo o que não é sólido se desmancha no ar”.
Foi o que ocorreu em 2007/2008 com o estouro da bolha financeira ligada aos imóveis nos EUA que representava um tal volume de dívidas que nenhum capital real, via sistema bancário, podia saldar. Havia o risco da quebra em cadeia de todo o sistema econômico real. Se não tivesse havido o socorro aos bancos, feito pelos Estados, injetando capital real dos contribuintes, assistiríamos a uma derrocada generalizada.
Esta crise não foi superada e possivelmente não o será enquanto prevalecer o dogma econômico, crido religiosamente pela maioria dos economistas e pelo sistema com um todo, segundo o qual as crises econômicas se resolvem por mecanismos econômicos. A heresia desta crença reside na visão reducionista de que a economia é tudo, pode tudo e que dela depende o bem-estar de um pais e de um povo. Ocorre que os valores que sustentam uma vida humana com sentido não passa pela economia. Ela garante apenas a sua infra-estrutura. Os valores resultam de outras fontes e dimensões. Se assim não fosse, a felicidade e o amor estariam à venda nos bancos.
Com lucidez observou o grande especulador George Soros em seu livro ON GLOBALIZATION:’O comércio internacional e os mercados globais são bons para gerar riqueza mas não podem nem se propõem cuidar de outras necessidades sociais tais como a manutenção da paz, a proteção do meio ambiente, as condições laborais e os direitos humanos – o que se chama de bens públicos”.
É neste transfundo que se situa o livro de alta divulgação Reinventando o capital/dinheiro de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012). Rose é uma conhecida escritora com mais de 35 livros publicados e uma diligente editora com cerca de 1600 títulos lançados. Num intenso diálogo, juntos trabalhamos, por 22 anos, na Editora Vozes. Dois temas ocupam sempre sua agenda: a questão feminina e a questão da cultura tecnológica. Foi ela quem inaugurou oficialmente o discurso feminino no Brasil escrevendo livro com um método inovador: A sexualidade da mulher brasileira (Vozes 1993). Com um olhar perspicaz denunciou o poder destruidor e até suicida da tecno-ciência, especialmente, em seu livro: Querendo ser Deus? Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade (Vozes 2009).
Neste livro Reinventando o capital/dinheiro faz um histórico do dinheiro desde a mais remota antiguidade, seguindo um esquema esclarecedor: o ganha/ganha, o ganha/perde, o perde/perde e a necessária volta ao ganha/ganha se quisermos salvar nossa civilização, ameaçada pela ganância capitalística.
Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e os níveis de juros compostos. Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza.
Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos. Mas devido ao controle do capital, o ganha/ganha não consegue se impor. Mas sua força interna irá inaugurar uma nova era, quem sabe, até com uma moeda universal, sugerida pelo economista brasileiro Geraldo Ferreira de Araujo Filho, cujo valor não incluirá apenas a economia mas valores como a educação, a igualdade social e de gênero e o respeito da natureza e outros.
Rose aposta nesta lógica do ganha/ganha, a única que poderá salvar a natureza e nossa civilização.
“Ocorre que os valores que sustentam uma vida humana com sentido não passa pela economia. Ela garante apenas a sua infra-estrutura. Os valores resultam de outras fontes e dimensões. Se assim não fosse, a felicidade e o amor estariam à venda nos bancos.”
Querido Leonardo, sua bênção.
Sobre economia não consigo assimilar muita coisa. Leio artigos e notícias que a ela se referem como o analfabeto que vê as letras sem contudo decifrar o código da palavra que elas formam.
Agora, porém, lendo o que o sr. escreveu, alguma coisa a mais despertou-me porque há uma abrangência no sentido de que abordar o tema econômico não se restringe apenas a “discutir dinheiros, taxas de juros e mercados. Mas o sentido de nossas vidas, o destino de nossa civiliazação e a esperança que podemos justamente alimentar face à crise que assola a humanidade inteira’.
Também o trocadilho “ganha/ganha”, “perde/ganha”, “perde/perde”, situando desde o período pré-histórico, ajudou-me a dilatar um pouco a minha exígua mente neste sentido.
Percebo que em todo e qualquer assunto, o sr. consegue destilar a mística. Uma vez Frei, sempre Frei…
Bendito seja Deus nos seus dons!
O sr. disse que aqui é só um resumo. Poderia enviar-me por e-mail o artigo na íntegra? Desde já, sou-lhe muitíssimo grata.
Um abraço com carinho e a certeza da presença espiritual, por meio da orações, no lançamento do livro de Rosemarie.
É incrível como a história é cíclica. Caminhamos rumo à época do escambo num futuro não muito distante e espero que ainda tenhamos o que trocar. Se continuarmos destruindo as riquezas naturais será difícil.
Frei Leonardo, não haverá lançamento em São Paulo?
Rose Marie Muraro
Há uns cinco anos que me dedico com O FIM DO DINHEIRO, A METAFÍSICA DO DINHEIRO. Este último publicado na página de Leonardo Boff. Se quiser um link, acesse ao Google Pesquisa e encontrará com mais facilidade os meus artigos de Filosofia. Acesse o aplicativo externo PHILOSOPHERS + PHILOSOPHY, na minha página inicial – feed de notícias.
Procure, também, “A Nova Política” e “O Reino da Liberdade”, são artigos baseados nos GRUNDRISSE de Karl Marx (1857-8) e em Enrique Dussel “20 Teses de Política. Espero muito sucesso no mais recente livro REINVENTANDO O CAPITAL/DINHEIRO. Espero lê-lo com muita atenção.
Um abraço, amigo
odeciomendesrocha philosopher (coloque deste modo no Google Pesquisa).
E-mail: [email protected]
Site: Facebook.com
Lí uma entrevista do ano passado falando sobre o seu livro Reinventando o Capital/Dinheiro, ela falou que aqui em Fortaleza-Ceará-Brasil, existe um bairro que de favela tornou-se Classe Média através da moeda complementar. Conheço este bairro. É o Conjunto Palmeira. O Joaquim, meu amigão, implantou, como banqueiro-mor uma moeda complementar – O Palma -. O Conjunto Palmeiras ainda não deixou de ser favela. Este bairro não se tornou bairro de classe média. Vive na mais extrema miséria, com a moeda PALMA. Este dinheiro só é válido dentro do bairro. Ainda não li o livro de Rose, mas pelo que já lí de resenhas na Internet, dá para ter uma noção. Ela quer fundar uma economia femista em confronto com a nossa Economia machista e dominadora. Por que não pensar numa economia Andrógina ? Outra: Desprezar o avanço da tecnologia da informação, é um absurdo histórico e social . Ela parece que não está levando em consideração que, com o fim da Mais-Valia, o produção tornou-se zero valor. E voltar para a Economia do Escambo é outro absurdo. Subestimar a Mecatrônica ou querer quebrar todas as máquinas da revolução eletrônica, isto já fez o movimento luddista, na Inglaterra. Não podemos mais voltar atrás. Escambo ?… Deus nos acuda.
Espero que este artigo sirva de lição. Não deletem, como o fizeram com o meu artigo de ontem, enderaçado a Rose M. Muraro.
odeciomendesrocha
POR UMA ECONOMIA ANDRÓGINA
Rose Marie Muraro lançou o livro Reinventando o Capital/Dinheiro. Ela pretende fundar uma economia feminina em contraponto a nossa atual economia machista e dominadora.
Por que não uma economia Andrógina (totalidade masculina e feminina)?
odécio mendes rocha