Referimo-nos anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova era geológica – o antropoceno – era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada cem milhões de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.
Até agora todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sexta está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Standford calcula em 250.000 espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais baixos, entre 27.000 e 100.000 espécies por ano (R. Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).
O ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana, escreveu:”Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio”(Our Way into the Future, 1990 p.104).
Podemos desacelerar a sexta extinção em massa já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar enquanto há tempo.
O primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas ecocidas e biocidas.
O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos ecossistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhes a vitalidade e garantindo-lhes sustentabilidade. Para isso necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.
O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos mas para com todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida.
No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o ecológico no centro de nosas atenções. Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.
Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação, Vozes 2011.
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de acordo que imos deica a extinción,mais como facer que os homens muden?
Caro Frei, estamos já em uma era de destruição, escravidão, uma pena, seu livro, A ÁGUIA E A GALINHA, deveria ser direcionado como leitura e trabalhos obrigatórios nas escolas, mas, temos de fato, bons educadores? Eu, em particular, acho que não, mas essa falta de cultura ambiental, em minha humilde opinão, se deve a esses.
O nosso nível espiritual e mental (humanos da superfície), não deixa qualquer dúvida: a colisão com os efeitos da nossa ignorância, estupidez e incompreensão, está bem próxima!
Tão importante quanto nos importarmos com o meio ambiente é controlarmos a nossa população, a população de humanos no planeta. Já somos oficialmente 7 bilhões desde outubro de 2011 e o planeta não suporta mais gente. Claro, poderemos ser até o dobro e continuaremos respirando, mas isto não basta; precisamos nos alimentar com dignidade e não uma minoria, enquanto que outra quase passa fome ou morre de fome. Precisamos ter água potável em abundância e não rios e mares poluídos, precisamos reciclar todo o nosso lixo, senão o planeta finito não aguenta. Essas são as 3 condições fundamentais para termos uma vida de qualidade e sem as doenças derivadas do excessos, do desequilíbrio ambiental.
Claro, ciência e a tecnologia avançam e podem suprir parte dessa demanda, mas, para isso precisamos urgentemente refrear o nosso crescimento, para dar tempo ao tempo.
Que a quantidade de pessoas que nascem seja igual à quantidade das que morrem para termos o equilíbrio necessário e abaixo preconceitos milenares e imbecilizantes, amém.
Acontece que até o momento em que a população da Terra era de 3 bilhões, os ecossistemas tinham chance de se recuperarem. A partir dai a coisa começo a piorar mesmo. Previsões reais estimam que chegaremos em 205o com 10 bilhões. Ainda be que não vou estar vivo para ver..
Meu caro João, empurrar o abacaxi com a barriga para os netos é o que você está fazendo…
O paradigma é que até certo tempo ou atualmente, evoluímos darwinianamente e o que ser necessita hoje é a Evolução Consciente, o homem deve decidir qual o melhor caminho a seguir para si e considerando o resto da humanidade como preconizado no livro de Robert Ornstein – A Evolução da Consciência.
A questão está bem mais além da superpopulação! Temos 7 bilhões de indivíduos vivendo em nosso planeta, sim isso é fato. No entanto tais catástrofes e fatos deploráveis que presenciamos (degradação do meio ambiente, desigualdades sociais, etc.) podem ser melhor explicados pela falta de bom senso, coragem e solidariedade dos próprios indivíduos. O nosso planeta suporta bem mais que 7 bilhões de habitantes, sabendo que o mesmo produz uma quantidade de alimentos que é capaz de alimentar 3 planetas com a mesma proporção. Então, como podemos explicar a fome no mundo?!
E. D. U. C. A. Ç. Ã O. – SEM CONSCIENTIZAR TODOS OS CIDADÃOS VIVOS AQUI NO PLANETA DE QUE TODA FONTE DE MATÉRIA E ENERGIA É FINITA E HÁ NECESSIDADE DE RECICLAR, NOS ESTAMOS FADADOS À EXTINÇÃO.
TRANSFORMAR UM ÍNDIA, BANGLADESH, PAÍSES AFRICANOS E LATINOS AMERICANOS EM VÁRIAS NOROEGAS, CADA QUAL ADAPTADA ÀS SUAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS, É UM DESAFIO IMENSURÁVEL. EU DIRIA IMPOSSÍVEL
O SER HUMANO NÃO É SOLIDÁRIO….
O homem não é o principal causador da sexta extinção em massa, é apenas um auxiliar que desempenha com eficiência sua função letal. Há vários eventos astronômicos que a estão desencadeando e sobre o qual as elites mundiais e a mídia global estão em silêncio. Basta estudar um pouco e articular as informações.
Vejam isso aqui:
http://fundacion-eticotaku.org/2012/11/05/descubren-que-la-proliferacion-de-varias-especies-de-hongos-y-la-presencia-de-capas-de-iridio-estuvieron-involucrados-en-las-extinciones-masivas-del-pasado-otra-prueba-mas-del-cambio-climatico-ciclic/
Há muito mais coisas do que as que contam a vocês. Acordem!
Sla acho tudo uma tremenda bosta sabe, tipo vamo se fude igual tamo tudo cagado!! mais é isso ai galera.
Maicon
Este espaço não é a sua caixa de lixo. Seu lixo coloque-o onde vc quiser mas não se torne torpe e ridículo usando o espaço dos outros para jogar seu lixo. Isso é até anti-ecológico.A maioria aprendeu a separar o lixo e colocá-lo em seu lugar adequado. E há lixo reciclável.O seiu é tão lixo que só pode ser jogado fora mesmo.
Não faça mais isso, pelo menos,por sinal de alguma educação e civilidade.
lboff
Evolução – O Homem está em fase de Evolução?
Breve Resenha sobre Evolução no Planeta.
Um rápido resumo da evolução da vida no planeta, desconsiderando “Eras”, “Períodos” e “Épocas”, por não serem de interesse nesta análise, pode-se sequenciar na forma seguinte:
– Idade da Terra: 4,6 bilhões de anos.
– Primeiros seres unicelulares aquáticos (anaeróbios): após 1bilhão de anos (há 3,6 bi)
– Primeiros seres unicelulares aquáticos e terrestres (aeróbios): após mais 1.5 bilhão de anos (há 2,1 bi)
– Seres policelulares mais complexos (explosão cambriana): após mais 1,6 bilhões de anos (há 0,5 bi ou 500 MM).
– Inicio do desenvolvimento dos grandes répteis: após 250 milhões de anos (há 250 MM).
– Fim dos dinossauros e desenvolvimento dos mamíferos: após 185 milhões de anos com o evento K-T (há 65 MM).
– O Homo sapiens surgiu na África há 200.000 anos.
– O homem deixou de ser caçador-coletor, com o advento da agricultura, para tornar-se civilizado há 10.000 anos.
– A Revolução Industrial teve inicio há 200 anos.
Observações:
– A existência do Homo sapiens é 0,004 % idade do planeta e 0,1 % da existência dos dinossauros (estes viveram 1000 vezes o que viveu o homem até hoje)
– A existência do homem civilizado é 5 % da do Homo sapiens.
– A Revolução Industrial aconteceu no último 0,1 % da existência do Homo Sapiens e 2 % homem civilizado.
Eras geológicas:
http://youtu.be/r7XM0e6xILo
Extinções em massa
Houve cinco extinções em massa nos últimos 500 milhões de anos:
1a – A extinção Ordoviciana aconteceu há 500 milhões de anos. A formação de geleiras e a diminuição dos níveis do mar (e/ou do seu oxigênio) levaram à extinção de cerca de metade de todas as famílias de animais.
2a – A extinção no fim do período Devoniano há cerca de 360 milhões de anos ainda está em debate (provável impacto de asteroide). Por causa dela, cerca de 1/4 das famílias marinhas e mais da metade dos gêneros marinhos foram extintos.
3a – A extinção Permiana-Triássica (provavelmente causada por gigantesca e prolongada erupção vulcânica na Sibéria) foi a maior extinção em massa que houve. Cerca de 85% dos gêneros marinhos e 70% das espécies terrestres foram extintos. Essa extinção aconteceu há 250 milhões de anos. Inicio do desenvolvimento dos dinossauros.
4a- Os vulcões foram os prováveis culpados da extinção final Triássica que matou cerca de 20% das famílias marinhas e metade dos gêneros marinhos há 200 milhões de anos. Os dinossauros foram poupados.
5a – A extinção em massa mais famosa é a Cretáceo-Terciária, também conhecida como o evento K-T. Essa é a extinção que levou ao fim dos dinossauros há 65 milhões de anos. A hipótese (atualmente consenso) é que o impacto de um asteroide, ao largo da costa do que agora é o México, causou ou contribuiu fortemente para o evento K-T. Permitiu o desenvolvimento dos mamíferos (já existentes, embora pequenos).
Atual Extinção em Massa (do Holoceno). Diversos pesquisadores sugerem que a Terra está passando por uma sexta extinção em massa. E isso está ocorrendo por causa da perda de habitat das espécies para cidades, agricultura e pecuária; pela poluição da água (afluentes domésticos e industriais), do solo (agrotóxicos) e do ar (fumaças de queimadas e combustão de carros e indústrias); mudanças climáticas, entre outros.
Observação:
As extinções em massa passadas ocorreram por causa de fenômenos naturais. Porém são os humanos que estão causando a extinção em massa atual. Se as tendência atuais continuarem, a metade de todas as espécies de vida da Terra se extinguirão em menos de 100 anos. A velocidade em que as espécies estão sendo perdidas é mais alta do que em algumas das anteriores.
Perpetuação das Espécies
Desde o inicio da vida no planeta, nos reinos animal (incluídos os insetos) e vegetal, todas as espécies evoluíram de maneira a se perpetuarem. Aqueles extintos, sempre o foram por causas naturais (geralmente extinções em massa), nunca por causa de outras espécies (sendo a biodiversidade quem garante o equilíbrio dos ecossistemas), nem se extinguiram a si mesmos.
É o Homem um Animal Racional?
O Homo sapiens é a única espécie animal de primata bípede do gênero Homo ainda viva. Ele não só volta-se contra sua própria sobrevivência, senão que também destrói o equilíbrio dos ecossistemas e, portanto, a biodiversidade do Planeta, provocando a extinção de outras espécies.
Tempo de Evolução de Diversas Espécies:
Animais Perfeitamente Evoluídos (anos de evolução)
– Tubarão (400.000.000 anos)
A natureza aperfeiçoou a vida oceânica. O tubarão possui zero predador natural, exceto, talvez, tubarões maiores.
Todos os tubarões apresentam olfato extremamente apurado, para compensar a péssima visão. Qualquer espécie é capaz de perceber, pelo olfato, uma gota de sangue numa piscina olímpica. Podem detectar um nadador sangrando a cinco milhas, e com uma simples mordida abocanhar 14 quilos de carne.
A mais incrível habilidade de um tubarão chama-se eletrorrecepção. Eles possuem órgãos sensores especiais na cabeça, chamados Ampullae of Lorenzini, que formam uma rede de poros recheados de uma substância gelatinosa. Toda vez que qualquer animal se mexe, ele gera um campo elétrico muito leve, e os tubarões são capazes de detectar essa eletricidade.
– Crocodilos (250.000.000 anos)
Esta mecânica rústica e preguiçosa nunca mata por prazer. A natureza produziu um animal blindado, anfíbio, sofisticado e perigoso predador. Tudo neles é previsto para ser ofensivo, não importa a situação em que se encontrem.
– Tartarugas (200.000.000 anos)
A carapaça óssea ou casco, protege seu corpo em forma excepcional.
– Aves – Aves de Rapina – Águia Harpia (150.000.000 anos)
Evoluíram de dinossauros que adquiriram a habilidade de voar. Há hoje evidências de que os dinossauros teriam sido animais endotérmicos (sangue quente).
A águia é a mais implacável e a mais suntuosa máquina voadora concebida para a caça.
– Canídeos – Lobos – Cães (35.000.000 anos)
Seus sentidos olfato e audição estão entre os mais desenvolvidos do reino animal.
Nossos Ancestrais (anos de evolução)
– Separação entre chimpanzés (gênero Pan) e humanos (gênero Homo sub-tribo Hominina) (6.000.000 anos).
– Homo sapiens arcaico (Homo neanderthalensis entre outros) (600.000 anos).
– Homo sapiens – Pre-moderno ou morfologicamente moderno (150.000 anos).
– Homem sapiens Comportamento Moderno (Europa: 40.000 / África: 70.000 anos).
– Homo sapiens sapiens = Homem de Cro-Magnon = Home Atual (40.000 anos).
Conclusão:
Numa análise comparativa dos períodos de evolução, adaptação ao meio ambiente, nível de aperfeiçoamento fisiológico para proteção e alimentação (condições básicas para perpetuação das espécies), podemos afirmar que a evolução humana não atingiu sua maturidade. Todas as espécies mostram claramente um equilíbrio somente ameaçado pelo homem.
Consequentemente, o homem continuará destruindo a biodiversidade do planeta e a si mesmo, provocando sucessivas extinções (em massa ou não). Nos processos de recuperação irá evoluindo e se aperfeiçoando, atingindo finalmente o nível de maturação que vemos hoje nas outras espécies.
Osvaldo
Agradeço esta contribuição boa para mim e para tantos leitores
abraço
lboff
Sou eu que agradeço Professor. Desejo-lhe muita sorte na sua luta.
Abraço
Osvaldo
Só que existe uma diferença muito grande, para não dizer brutal, entre o homem e os outros animais do planeta, que é a auto consciência nítida. Esta leva automaticamente ao livre arbítrio e, portanto, temos possibilidade de escolher o nosso destino. Então, só depende de nós daqui para frente, das nossas escolhas e estas serão mais corretas à medida que mais soubermos, ou seja, que mais evoluirmos. Sim, nosso planeta aguenta bem mais que 7 bilhões de habitantes, mas a que preço e a que custo? Milhões de pessoas já vivem na miséria e mal têm água potável e o que comer. Podemos sim superlotar o planeta com até, digamos, uns 10 bilhões de habitantes, mas teremos qualidade de vida? Isso me lembra alguns filmes de ficção futuristas, onde parte da população era induzida a se suicidar com pílulas num cinema e a outra sobrevivia como podia. Não é bem isso que queremos e que Deus quer de nós.
Ora, Alexandre, as nossas escolhas serão mais corretas à medida que mais soubermos?
Seguem dois trechos da resposta de S. Freud a A. Einstein (1932) na qual este o questiona: Por que há guerras? Como evitá-las? Recomendo sua leitura:
http://areas.fba.ul.pt/jpeneda/FreudEinstein.htm
De forma que, quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos para se deixarem levar — uns nobres, outros vis, alguns francamente declarados, outros jamais mencionados. Não há por que enumerá-los todos. Entre eles está certamente o desejo da agressão e destruição: as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e a sua força. A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza erótica e idealista. Quando lemos sobre as atrocidades do passado, amiúde é como se os motivos idealistas servissem apenas de escusa para os desejos destrutivos; e, às vezes — por exemplo, no caso das crueldades da Inquisição — é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um primeiro plano na consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço inconsciente. Ambos podem ser verdadeiros.
Sem dúvida, isto exige alguma explicação. Creio que se trata do seguinte. Durante períodos de tempo incalculáveis, a humanidade tem passado por um processo de evolução cultural. (Sei que alguns preferem empregar o termo ‘civilização’). É a esse processo que devemos o melhor daquilo em que nos tornamos, bem como uma boa parte daquilo de que padecemos. Embora suas causas e seus começos sejam obscuros e incertos o seu resultado, algumas de suas características são de fácil percepção. Talvez esse processo esteja levando à extinção a raça humana, pois em mais de um sentido ele prejudica a função sexual; povos incultos e camadas atrasadas da população já se multiplicam mais rapidamente do que as camadas superiormente instruídas. Talvez se possa comparar o processo à domesticação de determinadas espécies animais, e ele se acompanha, indubitavelmente, de modificações físicas; mas ainda não nos familiarizamos com a idéia de que a evolução da civilização é um processo orgânico dessa ordem. As modificações psíquicas que acompanham o processo de civilização são notórias e inequívocas. Consistem num progressivo deslocamento dos fins instintuais e numa limitação imposta aos impulsos instintuais. Sensações que para os nossos ancestrais eram agradáveis, tornaram-se indiferentes ou até mesmo intoleráveis para nós; há motivos orgânicos para as modificações em nossos ideais éticos e estéticos. Dentre as características psicológicas da civilização, duas aparecem como as mais importantes: o fortalecimento do intelecto, que está começando a governar a vida instintual, e a internalização dos impulsos agressivos com todas as suas conseqüentes vantagens e perigos. Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela. Isto não é apenas um repúdio intelectual e emocional; nós, os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau. Realmente, parece que o rebaixamento dos padrões estéticos na guerra desempenha um papel dificilmente menor em nossa revolta do que as suas crueldades.
Hobsbawn qualificou o século XX de Idade da Loucura. Nada mais apropriado. Mas, por que enlouquecemos? O que é esta loucura? De onde vem?
Na minha humilde opinião, todo império prescinde de sanidade. E sua força é proporcional ao seu nível de loucura. A globalização, como instrumento a serviço de um império levou a insanidade ao limite de paradigma, alimentando ao sistema, concentrando forças e excluindo uma imensa maioria de seres humanos, mas, sobretudo em escala muito maior, de seres vivos em geral.. Não há espaço saudável entre o homem e a natureza nos dias atuais. Urge promover a destruição se quisermos saciar nosso apetite por futilidades, e atender a demandas sociais e culturais que nos são inculcadas diuturnamente. Para mim, não tem mais volta. A vida vai vencer. Ela vence sempre. Mas, a sociedade, enquanto amálgama de uma mesma massa, carente de diversidade de comportamentos, ideias e alternativas, vai sucumbir. E isto, já dizem alguns, será mais rápido do que nossa capacidade de reagir. Ironicamente, nos tornamos reféns de metáforas ao estilo “Animal Planet”: somos presas, predadores, membros de uma grande colmeia de vespas invasoras, uma única colônia de parasitas que sucumbirá juntamente com seu hospedeiro. No caso, o hospedeiro é a vida em sociedade. Nos animalizamos como resposta às exigências da grande selva capitalista. Nos esquecemos que uma prerrogativa da condição humana é o afeto em relação ao mundo natural, a proximidade que nos permite observar, interagir e descobrir as relações de causa e efeito. Ao destruirmos o mundo natural, também nos tornamos seus reféns. É curiosos este processo. Teremos, de acordo com alguns especialistas, apenas mais 100 anos pra assistirmos os efeitos da sociedade de consumo. Nosso formigueiro vai colapsar. E descobriremos que, assim como os Rapa-Nui, os Maias e tantos outros já esquecidos, não nascemos pra ser feras, nem para ter poder, seja ele o do homem sobre o homem, ou do homem sobre a natureza. Só nos resta assistir. Não creio mais em salvação da sociedade em que vivemos. Mas, isto não é desesperança, é só uma certeza: a de que os mansos sempre herdam a Terra em qualquer Era. A de Aquário está chegando. Paz aos mansos! Que venha a lama, pois é dela que surge o dom da Vida.
Sr. Leonardo Boff,
Caso tenha ocorrido algum problema técnico com a internet, não vejo razão para não se publicar meu ponto de vista sobre um tema que de interesse tão amplo e que suscita posições diversas. Em resumo, minha certeza quanto a irreversibilidade deste triste processo pelo qual somos absolutamente responsáveis, com o fim inexorável da sociedade humana como a conhecemos, termina, para mim como um chamado a esperança. Uma esperança que não se firma pela sobrevivência de sistemas ou da própria humanidade predatória da qual fazemos parte. Minha esperança é de que, assim como no passado, aqueles poucos capazes de sobreviver a um período de crise profunda, a saber, os mansos, os pobres os humilhados, herdem o muito que lhes restará. Muito mesmo, já que aos que sempre tiveram pouco, viverão com o suficiente apenas. Minha esperança é de que termine logo este sofrimento auto infringido e irradiador de destruição e indiferença a tudo que não nos seja conveniente ou imediatamente útil. Eu detesto viver neste ritmo! E acho que muitos também.
Se quiser saber o que é pessimismo pra mim, imagine um mundo em que, os detentores do saber e do poder decidam salvar a própria pele, apelando a políticas maltusianas de capazes de lhes garantir uma sobrevida nestes tempos bicudos que se descortinam. Isto sim, é ser pessimista. Haverá muitos que hoje se autodefinem como solidários, tentando salvar a farinha de seu pirão, lamentando, não mais que lamentando, ter de fazer o que deve ser feito para salvar o mundo, julgando-se no direito de sobreviver a este “realismo”, a este “pragmatismo” que se fortalece a cada dia. Queria muito participar desta discussão e, se possível ver meu primeiro comentário publicado aqui.
No mais, meus respeitos.
Edgar,
abordei o tema do eventual fim da espécie humana já muitas vezes e me utilizando da melhor bibliografia. Ela não é impossível mas creio que não é provável.Eu creio,como o Papa em sua enciclica no poder criador do ser humano e na sua capacidade de dar a volta por cima, além da fé que nos afirma ser Deus “o soberano amante da vida”(Sab 11,26). Como diria Saramago: eu não sou pessimista. A realidade é que é péssima.
abraço fraterno
lboff
Sr. Leonardo,
Assim como o senhor também não creio no fim da espécie humana, mas sim, no fim da sociedade que a pretende levar ao ocaso. Quanto às bibliografias as quais o senhor menciona, entendi sua referência a elas como um respeitoso puxão de orelhas. Talvez pelo fato de eu ter citado o termo “Era de Aquário” ou mencionar o fatalismo de autores menos otimistas. Autores estes tão renomados e cientificistas quanto todos que os que negam, por exemplo, o aquecimento global. Mas, este não é o centro de meu raciocínio, senão, um paralelo estabelecido pela eterna esperança de renovação, entre o pensamento científico e o religioso. O Cristo, ao que sei, também conhecia o conceito de eras e dele lançou mão para reacender a esperança nos corações. Não creio que seja misticismo de minha parte. Não me fio por autores ao estilo Eric Von Daniken, se é isto que imaginou.
Quanto às minhas próprias referências, tenho seus livros em grande conta (A Águia e a galinha, Ecologia e Libertação), além de teus textos e reflexões. Também gosto muito de Saramago, assim como o senhor. São muitas as outras referências que formam minha opinião atualmente, me esforçando pra manter o espírito crítico e entender os princípios éticos e ideológicos que as sustentam.
Agradeço por ter pubicado meu ponto de vista e tê-lo respondido. Falta diálogo atualmente. Uma das coisas que me incomodam é o autocentralismo de quem se propõe a analisar questões complexas, apresentando ideias, mas ignorando questionamentos. Com todo o respeito, este vício estratégico, este proselitismo muitas vezes disfarçado permeia todos os círculos intelectuais, sejam eles autodenominados de esquerda ou de direita. Desta forma, sua resposta me vale como um bálsamo.
Contudo, se me permite fazer outro questionamento, e este o já tenho consciente de que se trata de mera pergunta retórica, com minha opinião já inclusa na pergunta, queria apenas fazer-lhe uma saudável provocação e deixar aqui, se conveniente for, um contraponto. Tua resposta me seria muito importante.
A pergunta que faço é: até quando viveremos às custas de reformar o antigo, temerosos da violenta resposta que por ventura receberíamos, caso nosso posicionamento fosse de fato assertivo, mesmo sabendo que nada de fato foi conquistado, não mais que concedido como migalhas? E esta questão pode ser aplicada tanto à ecologia quanto à política.
Enfim, continuaremos fazendo como alguns dos antigos padres, ex-adeptos da teologia da libertação, convertidos ao pragmatismo carismático que permite afastar os que lutam em troca das benesses mas fáceis de “lideranças locais”? Continuaremos a edificar templos ao Divino sob a condição de se colocar a placa de “agradecimento ao vereador fulano de tal” pela graça recebida?
A opinião a qual me referi antes de perguntar é esta: não acredito ser possível desejar mudanças jogando com as regras vigentes. Ao invés de mudarmos o mundo, nos contaminamos por ele, e ele é quem nos muda.
Meus respeitos.