Já disse neste espaço que as contribuições semanais do jornalista Washington Novaes de O Estado de São Paulo estão entre as melhores que se publicam na grande imprensa brasileira. Sempre atualizado, pertinente e com o enfoque nas mudanças necessárias. Este artigo é importante porque vários nomes da economia brasileira ou comentaristas econômicos estão despertando para a gravidade da crise ecológica e dos limites físicos do planeta Terra como André Lara Resende, Delfim Neto, Luiz Gonzaga Beluzzo e Miriam Leitão entre outros.Quando os economistas falam nestes assuntos é sinal de que a crise deve ser levada a sério, pois são eles que, por profissão, pensam a lógica e o destino do processo econômico, especialmente, o vigente, de viés capitalista em plena crise de seus fundamentos.
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É curioso e inquietante. À medida em que se vai o tempo e se aproxima o momento da realização da conferência Rio + 20 (que será em junho, no Rio de Janeiro), mais freqüentes se tornam as manifestações de dúvidas quanto à possibilidade de a discussão avançar em direção a formatos concretos de “governança planetária sustentável” e “economia verde” no plano global – seus temas centrais. Por que caminhos práticos e viáveis se chegaria aí, quando, neste momento de crise universal, nenhum país parece disposto a abrir mão de suas regras internas nem abandonar os tradicionais caminhos de aumentar a demanda, sobrecarregar o consumo de recursos naturais, para favorecer o crescimento econômico ? Como deixar de lado as fórmulas repisadas, do monetarismo absoluto ao keynesianismo e vizinhanças?
E, no entanto, lentamente a discussão e o noticiário parecem aproximar-se de um limite indesejado e execrado até em palavras – o da finitude dos recursos físicos, num momento em que o consumo global já está mais de 30% além da possibilidade de reposição planetária; em que já se perdeu também mais de 30% da biodiversidade total; e ainda é preciso avaliar as conseqüências de a população mundial caminhar dos 7 bilhões de indivíduos de hoje para 9 bilhões, pelo menos, até 2050. E isso obrigará só a produção de alimentos – para ficar em um único item – a aumentar 70%. Sem falar no bilhão de pessoas que passam fome, nos 40% da humanidade que vivem abaixo da linha da pobreza.
Bem ou mal, entretanto, o tema vai chegando à comunicação, com a força de diagnósticos e opiniões de economistas e outros intelectuais conceituados. Um deles (Os novos limites do possível) é do ex-presidente do BNDES e um dos autores do bem-sucedido Plano Real, André Lara Resende, que há poucos dias o publicou no jornal Valor (20/1/12 e ver O Globo de 5/2/12). Ali, entre muitas coisas, afirma ele que “não há mais como pretender que a economia mundial poderá continuar a crescer (…) Não há mais como contar com o crescimento da demanda de bens materiais para crescer. O crescimento pode não ser mais a opção de saída para a crise (…) Não há como viabilizar sete bilhões de pessoas com o padrão de consumo e as aspirações do mundo contemporâneo, nos limites físicos da Terra (…) O crescimento baseado na expansão do consumo de bens materiais está no seu capítulo final”. Subscrevendo a tese do economista Paul Gilding, da Universidade de Cambridge, pensa ele que “seremos obrigados a enfrentar uma parada brusca profundamente traumática”. E a reorganização da economia é “questão de, no máximo, uma década”.
Parece curiosa a evolução do pensamento do ex-presidente do BNDES. Porque no livro O Rio é tão longe” (Companhia das Letras, 2011), que traz a correspondência de décadas entre Otto Lara Resende e Fernando Sabino, o pai de André, numa carta de 1959, conta que o filho, então com oito anos de idade, perguntou à mãe: “Se Adão e Eva não tivessem pecado, ninguém morria. Então, como é que ia caber tanta gente na Terra e como é que ia todo mundo comer ?” Observava Otto que “esse menino vai longe, acaba na Cofap.” Foi muito além,chegou à autoria, com outros economistas, dos planos Cruzado e Real, à presidência do BNDES, muitos caminhos. Mas agora, meio século depois, continua preocupado com a finitude de recursos.
Essa inquietação já estava presente no livro O que os economistas pensam da sustentabilidade (Editora 34 – 2010), já comentado neste espaço, onde André Lara Resende afirma que “estamos ameaçando perigosamente o sistema ecológico”; essa idéia “é absolutamente verdadeira e tem de ser enfrentada (…) Mais crescimento pode se tornar menos bem-estar (…) A restrição ecológica, sobre a qual não se prestava atenção porque parecia distante, hoje é premente”. E, pesando sobre tudo, a frase que se torna um desafio para os economistas e todos os que pensam: “O Estado-Nação se tornou uma coisa anacrônica (…) Você tem de ter um governo central, é óbvio, mas o mundo ficou pequeno (…) Quem está ameaçada é a humanidade, não o ecossistema”. Desafios gigantescos, compartilhados – em parte ou não – no livro com professores como Ricardo Abramovay, Edmar Bacha, Eduardo Giannetti, José Eli da Veiga, Besserman Vianna e vários outros. Abramovay chega a dizer que “o que está em jogo, hoje, em torno de uma questão de sobrevivência da espécie humana, não apenas da sobrevivência do sistema capitalista, mas da democracia e da civilização contemporânea, é a capacidade das economias descentralizadas de responder ao desafio da sustentabilidade”.
Sempre surgem vozes que colocam em dúvida diagnósticos com os do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Organização para a Alimentação e a Agricultura (ONU), Worldwatch Institute, WWF e muitos outros, que apontam para a inviabilidade dos caminhos que estão levando à exaustão de recursos – e à impossibilidade de, nos atuais padrões de produção, atender ao consumo futuro.Mas basta relembrar o estudo publicado já em 2007 pela revista New Scientist, comentado aqui (27/7/2007), mostrando que em pouco tempo de esgotarão as reservas conhecidas de vários dos minérios mais utilizados, inclusive em setores estratégicos, como chips de computadores, telefones celulares, catalisadores de veículos, células d combustível. Eles dependem de platina, índio, háfnio, térbio, tântalo, antimônio, zinco, cobre, níquel, fósforo e outros, todos com horizonte curto.
Ainda uma vez, é preciso pensar na situação privilegiada do Brasil em várias áreas – háfnio, níquel, tântalo, alumínio, estanho. E conceber estratégias adequadas, não apenas em termos econômicos, de crescimento de mercados, projeções de demandas etc. – mas de sustentabilidade. E não apenas em termos nacionais, mas globais. Os tempos que estão chegando são outros. É preciso ter competência e urgência.
Publicado em O Estado em 10/2/12 sob o titulo: Os economistas dizem o que está em jogo.
Bom dia,
Já fui preocupado com os destinos da humanidade, quando era mais novo e inocente. Hoje, no entanto, percebo que essa preocupação é caduca e absurda: se queremos um futuro melhor para nosso planeta, é bastante razoável desejar a extinção da espécie humana, da PRAGA humana, e que isso aconteça o quanto antes. Sendo otimista, o vírus que corrói o planeta vai criar as condições de sua própria aniquilação, e cedo vai se consumir até que não reste mais qualquer sintoma da contaminação humana no planeta.
Duda,
Não penso que é o desígnio do universo que nós desapareçamos nas próximas gerações. Podemos passar por crises que nos acrisolam e purificam, mas temos muito que aprender ainda para sermos plenamente humanos e ocupar com dignidade e responsabilidade o nosso lugar no conjunto dos seres como aqueles chamados a ser cuidadores e guardiães da Terra e seus ecossisemas. Penso tambem no que diz o livro da Sabedoria que fala que Deus mantem sempre vivos os seres que criou, que cuida deles porque “Ele é o soberano amante da vida”(Sab 11,26). Esse designio é mais forte que nossas perversidades.
Um enfermo numa clínica psiquiátrica que visitei me deu uma pirografia onde escreveu e isso vale para mim e para você:”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita na humanidade”. Vamos acreditar que a vida é mais forte que os mecanismos de morte.
abraço
lboff
Mas bah, falou pouco mas falou TUDO
Martírio e Profecia na Igreja
“Ninguém tem maior amor do aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Dar a vida se pode traduzir por generosidade, renúncia, doação e testemunho. No amor a Deus e ao próximo está o eixo central do cristianismo; tudo a partir do coração, por ser o centro da personalidade, onde se encontra seu fundamento, na busca da dignidade, da justiça e da solidariedade.
Neste sentido, já se passaram sete anos do assassinato da Irmã Dorothy Stang. Temos consciência de que o testemunho profético e a mística dessa fiel e corajosa discípula de Jesus de Nazaré, com seu sangue derramado na floresta amazônica, ainda irá produzir frutos, muitos bons frutos.
Irmã Dorothy afirmou, no momento em que foi imolada: “Eis a minha alma” e mostrou a Bíblia Sagrada. Leu ainda alguns trechos das Sagradas Escrituras para aquele que, logo em seguida, iria assassiná-la. Morta com sete tiros, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, em Anapu, no Estado do Pará, Brasil.
Diante do contexto da morte brutal da irmã Dorothy, fica muito presente a frase de Tertuliano, dita no século terceiro: “Sangue de mártires é sementes de cristãos”. “Evangelizar constitui, com efeito, o destino e a vocação própria da Igreja, sua identidade mais profunda. Ela existe para Evangelizar” (Evangelli Nuntiandi, 14), não fugindo da profecia e do testemunho, se for o caso, do martírio.
O modelo capitalista no Brasil, marcado pela desigualdade social e estrutural entrou com toda sua força também na Amazônia. Para a floresta amazônica, foi por opção de vida, a inesquecível Irmã Dorothy. Lá ela abraçou a proposta do Evangelho, vivido na simplicidade, mas com grande e profunda coerência. Uma mulher forte e determinada, no seu estilo de vida e com uma mística a causar medo e contrariar os que desejavam outro projeto para floresta, longe e distante do projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso mesmo tramaram: “Vamos matá-la”.
Irmã Dorothy está viva e presente da vida do seu povo, com sua vida oferecida em sacrifício, num verdadeiro hino de louvor a Deus, com sua coragem profética. Ela continua mais amada e admirada, tornando-se referência, símbolo e patrimônio do povo brasileiro, que sonha com uma nova realidade, aos olhos da fé.
Vivemos uma fé em que se afirma muito a dimensão do louvor e somos inteiramente favoráveis e temos plena convicção de que o nosso Deus é Senhor da vida e da história. Agora viver o mandamento maior: “Amarás o Senhor teu Deus de todo coração e a teu próximo como a ti mesmo” (MT 22, 37), significa ser uma Igreja pascal, na generosidade, na renúncia, na doação, no testemunho e na profecia, a exemplo de irmã Dorothy, no seu desejo de assemelhar-se ao Filho de Deus, ao doar sua própria vida pela floresta amazônica. Fica a pergunta: quando é que teremos uma Igreja verdadeiramente pascal, testemunhando sua fé no Senhor ressuscitado, segundo o pensamento de Tertuliano?
Pe Geovane Saraiva, Pároco de Santo Afonso
http://WWW.paroquiasantoafonso.org.br
http://blogsantoafonsoce.blogspot.com/
Nossa progranação para o dia 12/02:
Para celebrar o 7º aniversário da sua partida para o Pai, convidamos os amigos que alimentam no íntimo do coração os mesmos sonhos da querida Religiosa, Irmã Dotohhy Stang.
Local: Paróquia de Santo Afonso (Igreja Redonda).
Av. Jovita Feitosa, 2733 – Parquelândia – Fortaleza – CE.
Data: 12 de fevereiro de 2012
Horário: 18 horas
Celebrante principal: Dom Edmilson da Cruz
Presença das Irmãs de Notre Dame – sua Congregação Religiosa (Norte Americanas).
Grupo de Teatro Dom Helder – da Paróquia de Santo Afonso fará uma apresentação no final.
Pastores según el corazón de Dios
En este articulo queremos hablar (escribir sobre) de dos grandes pastores, figuras humanas que edificaron la casa de Dios, la Iglesia, poniendo como cimiento sólido el bien e la justicia, sin ceder a los ataques de los injustos y poderosos: Don Helder Pessoa Câamara e Don Aloísio Cardenal Lorscheider, que nuestra generación de hoy debe conocer más todavía, por lo que ellos representan.
En ellos se realizo la profecía de Jeremías: “Yo os daré pastores según mi corazón, que os conduzcan con sabiduría e inteligencia” (Jr 3, 15). Anunciaron la buena noticia de la Salvación en toda su plenitud, a partir del dolor y el sufrimiento de una multitud de hermanos y hermanas. El entusiasmo y la mística de estos grandes sacerdotes causaron y continúan causando (dejando) profundas marcas de generosidad, siempre creciente, en las personas que ejercieron y ejercen sus funciones en los más diversificados sectores de nuestra sociedad.
Guardemos en lo profundo (íntimo) del corazón el mensaje de optimismo e esperanza dejado por don Helder Cámara, el artesano de la paz y el ciudadano del mundo, el obispo brasileño más influyente en el Concilio Vaticano II, al abrir el camino para la renovación, en su más profunda y autentica coherencia a favor de los pobres: “Si no miento, nosotros, los hombres de la Iglesia, deberíamos realizar dentro de ella los cambios que exigimos de la sociedad”.
Habló también con extraordinaria pasión que Dios es amor, en el estilo que le era muy peculiar, la poesía: “Fuimos nosotros, tus criaturas, que inventamos tu nombre! El nombre no es, no debe ser, un rotulo colocado sobre las personas y sobre las cosas… el nombre viene de dentro de las cosas e las personas, y no debe ser falso, tiene que exprimir lo más intimo de lo íntimo, la propia razón de ser y existir de la cosa o persona nombrada… Tu nombre es y sólo podría ser amor”.
Al asumir la Arquidiócesis de Olinda y Recife, en abril de 1964, afirmó: “Nadie se escandalice cuando me vea junto a criaturas humanas tenidas como indignas o pecadoras (…) Quien esté sufriendo, en el cuerpo o en la alma, quien, pobre o rico, esté desesperado, tendrá lugar especial en el corazón del obispo”. Don Helder, además de dejar una gigantesca obra escrita, con grande sabiduría supo unir, en una síntesis rarísima y feliz, lo místico y el hombre de acción, que contemplaba y escribía al mismo tiempo durante las madrugadas y trabajaba por la mañana, tarde y noche. Fue un articulador de la mejor cualidad; dotado de una fe clamorosa, de una enorme capacidad de comunicación, fuerza y convicción inquebrantables, salía del pecho flaco de aquel hombre frágil y bajo de estatura, que parecía el retirante de Portinari.
El fue profeta de los pobres, artesano de la paz, ciudadano del mundo, el hombre de los grandes sueños y de las altas utopias, señalando una verdadera conversión, en el cambio de costumbres, en una mejor comprensión de la Iglesia, en la búsqueda de su renovación, de su rejuvenecimiento al verdadero “aggiornamento”, al mismo tiempo que anunciaba la persona de Jesucristo, delante del clamor de los empobrecidos, de los “sin voz y sin vez”.
El grande ardor y entusiasmo de este hombre en todo su trabajo bien articulado, en el amor a la Iglesia pobre y servidora, nunca podemos negar ni olvidar. “Soy de aquellos que tienen la convicción de que los escritos de Don Helder todavía serán fuente de inspiración en la América Latina, de aquí a mil años”.
Don Aloísio, en su amor a la verdad y en el apego al Evangelio como criterio de vida y de pastoreo, también en su capacidad de dialogar con las clases sociales y en su amor a los empobrecidos, permaneció humilde y servicial, siendo un hermano entre hermanos.
Dulzura y ternura en persona, alegría constante, posiciones corajosas y determinadas, al mismo tiempo predicaba y anunciaba el Evangelio con coraje profética y grande sabiduría. El cargó siempre en su grande corazón las alegrías, las esperanzas, las tristezas, las angustias e los sufrimientos de su querida gente (GS 200), además de trabar sin descanso una lucha por la democracia, la libertad de expresión, la dignidad de la persona huma e por el final de la tortura en nuestro Brasil.
Don Aloisio, al ser nombrado Arzobispo de Fortaleza (1973-1995), ya al principio afirmó: “La comunidad eclesial no es un feudo del obispo, mas él es el servidor de una Iglesia que se entiende a sí misma como sacramento del Reino, esto es, de la presencia de la verdad y del amor infinito de Dios para con toda criatura humana”. De ahí que no comprendiese como normal convivir con la miseria e con el acentuado empobrecimiento del pueblo, que traía como consecuencia el éxodo, el azote y la muerte de muchos hermanos, levantando su voz de profeta para decir que no era voluntad de Dios la realidad aquí encontrada; al mismo tiempo, usó de todos los medios, con una enorme voluntad de transformar esa realidad, marcando profundamente la historia de nuestro Ceará.
“En pleno régimen de excepción, la sociedad cearense rápidamente sintió los efectos de esa mudanza repentina. Las clases sociales desfavorecidas o marginalizadas, los sin-tierra, sin-techo, los presos políticos, los presidiarios comunes, los trabajadores en huelga, ganaban aliados de peso” (Fernando Ximenes).
Don Aloisio fue el grande teólogo que sabia comprender la realidad coyuntural e, con sus posturas bien claras y definidas en los análisis y en las conclusiones teológicas pastorales, pasó para el pueblo un clima que favorecía y generaba confianza en todos. De ahí que fue el Cardenal que más destacó en los Conclaves y Sínodos que participó, generando para el mundo entero, y especialmente para la presa, una grande expectativa. Su palabra valiente y profética era acogida por todos como una buena noticia.
“[…] su voz, naturalmente dulce, se alternaba cuando era preciso enfrentarse a los vendedores ambulantes de la justicia, cuando todos los jardines de la democracia corrían el riesgo de ser el punto de mira de las bombas, lanzadas por las miradas fijas de la represión. Su voz resonó por los corredores de las prisiones […]” (Pedro Simón).
Cuando se tornó obispo emérito de Aparecida, vino la pregunta: qué va a hacer su Señoría? – Respondió: “Soy un simple fraile menor y voy hacer lo que mi provincial me mande, porque la obediencia me torna libre”.
No olvidamos, también, su palabra lúcida y segura, advirtiendo ‘oportuna e inoportunamente’ (2Tim 4,2), así como su voz mansa y valiente al denunciar las injusticias, y sobre todo, su ternura franciscana, que nos lleva a afirmar que Dom Aloisio mora verdaderamente en nuestros corazones.
Pidamos, pues, a Dios, que en su infinita e inagotable bondad, llamó a Don Helder y a Don Aloísio, para la misión de profetizar, que siempre los tengamos como referencia, iluminándonos y haciéndonos comprender mejor la indispensable fuerza de su gracia, con el deseo de tornarnos capaces de fermentar este mundo que vivimos, en su realidad cultural, económica y social, que tanto desafía la humanidad.
Traducción Frei Jesús María Mauleón, OAR
Pe Geovane Saraiva, Pároco de Santo Afonso
http://WWW.paroquiasantoafonso.org.br
http://blogsantoafonsoce.blogspot.com/
((85)3223-8785
Pe. Geovane
Considero a Don Helder Camara y Don Aloysio Lorscheider dos grandes profetas de la Iglesia de los pobres. Em primero con la palabra fuere y a la vez tierna y el segudo, Don Aloysio por su inmensa bondad y amor a los más pequeños. Ambos decian la verdad y vivian desde la verdad. Siguen como nuestros maestros y personas-referenciales.
Un abrazo fraterno
lboff
Belo artigo. Falar bem de Delfim Neto e Míriam Leitão é o máximo… rsrs. Tudo bem que é uma estratégia, afinal, com vinagre não se pegam moscas, mas eu não tenho esta santidade e por isso não seria tão cara de pau.
Abs.
Mestre: tenho aprendido muito contigo!
Fabuloso! Obrigado por compartilhar. Abraços
Excelente artigo, mas só uma colocação que não consegui entender e gostaria de saber a explicação: porquê um aumento de 28,5% na população mundial (7bilhões para 9 bilhões em 2050) sozinho obrigará um aumento de 70% na produção mundial de alimentos?
E, aparte dessa dúvida, creio q houve um engano de siglas, a Organização para a Alimentação e a Agricultura é a FAO, integrante da ONU.
Saudações
Já que está mencionando tantos economistas, mencione o que deu origem à série:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus
Acho, Leonardo Boff, que antes mesmo que aconteça esta tão badalada catástrofe ecológica, o mundo econômico irá parar muito mais cedo que pensamos. Os grandes proprietário abandonarão seus patrimônios, poque só lhes darão prejuízos, à medida que a produção
não dê mais lucros. A China será a última bolha especulativa a estourar, levando o mundo à bancarrota. A análise é sempre como se o mundo econômico, continuasse sempre em pé. A espécie humana não irá desaparecer, porque muito brevemente teremos uma nova Utopia. Leia my virtual book: THE NEW ADDRESS OF IDEAS – El Rescue of Utopia or
mendesrochalenitivo.blogspot.com (em postagens antigas).
odeciomendesrocha philosopher
Penso e sinto igual. Já escrevi várias vezes sobre esta visão distorcida, “salvadorista”, como se ainda pudéssemos “salvar” Gaia dos estragos que impetramos. Tenho de sorrir sempre que alguém fala “Ações para Salvar o Planeta”… nós, carrapatos agarrados à crosta terrestre é quem vamos desaparecer. O planeta se reinventa perfeitamente sem nós, tola espécie humana! Viva Boff, gosto muito do que escreve!
Organização para a Alimentação e a Agricultura (ONU)*,
onde lê-se ONU, leia-se FAO
A economia mundial poderá crescer dez vezes mais, não terá nenhuma importância.
Se dermos um sopro na nossa sociedade mundial, ela virará pó de cinzas.
O mundo perdeu a sua dimensão ontológica. “Será que aquele velho não sabe que a nossa civilização morreu”?, parafraseando Nietzsche. Nós, filósofos, estamos de acordo com uma ruptura ontológica para a Humanidade. Partiremos para uma sociedade planetária. Mas que deixemos para trás O Capital de Marx. Consultemos os GRUNDRISSE, onde Marx vislumbrava uma sociedade toda automatizada, onde o trabalho na seria a fonte de riqueza (vide p. 22 da tradução brasileira). Obra inspirada no filósofo Aristóteles, quando diz: “Se o tear trabalhasse sozinho, não precisaríamos nem de senhor nem de escravos”.
odeciomendesrocha philosopher
Erro: Leia-se, acima: …onde o trabalho NÃO seria a fonte de riqueza.
odeciomendesrocha philosopher
Eloquente, racional, suas observações são preciosas para quem tem um mínimo de civismo e civilidade, e muito aquém da áurea de politicamente correcto que envolve as pessoas com elevado interesse em ecologia e auto sustentabilidade o senhor deixa claro que estas questões são, acima de tudo, inerentes à um instinto básico e vital que nos é conferido à todos. Somos seres humanos e para ser HUMANO é preciso antes ser VIVO.
Sobrevivência , auto preservação, a básica necessidade de existir e prolongar essa existência ao máximo é algo comum entre todos e também o é a necessidade de estender essa existência, mas creio que não podemos deixar de lado também o carácter evolutivo intrínseco no ‘existir’. Nossa evolução científica e tecnológica simplificou abissalmente nossos dilemas cotidianos e por simplificá-los ampliou o leque de cidadãos capazes de fazer parte e de poder usufruir dessa nova era. É obvia a ambivalência do dilema que é a tentativa de prorrogar a nossa existência. Quantos somos e quanto necessitamos para continuarmos a ser.
O senhor diz em seu texto, e cito ‘ainda é preciso avaliar as consequências de a população mundial caminhar dos 7 bilhões de indivíduos de hoje para 9 bilhões, pelo menos, até 2050. E isso obrigará só a produção de alimentos – para ficar em um único item – a aumentar 70%’. Para que a preservação de nossa espécie deixe de ser algo tão complexo talvez seja preciso focarmos nos no fundamental. O fundamental são as pessoas mas os números contam e o senhor os tem como demonstrado acima. O controle da natalidade nas populações de baixa renda não é algo que ‘’ainda ‘‘teria que ser visto, mas algo que urge como qualquer outra medida de auto preservação e auto sustentabilidade.
Claro que não vale a pena trabalhar esta ideia em sociedades que já sofrem de miséria extrema por que há aí outras prioridades, a fome não pede ideias, pede comida. Cerca de 15% da população mundial passa fome. De um lado do planeta as pessoas têm tanto que o atiram ao lixo muitíssimas vezes sem remorso, já por outro lado se fores à qualquer comunidade no chamado ‘Chifre de África’ realizarás que é exactamente a falta disso que aqui nos sobra que provoca a morte na maioria dos que ali vivem.
Mas nas sociedades ocidentais, que como o Brasil estão em pleno desenvolvimento económico, o planejamento familiar e maior controle da taxa de natalidade deve ser levado tão em consideração como o controle dos recursos não renováveis.
Sou ‘Keynesiana’ em economia e acredito na evolução tecnológica como caminho para alcançarmos desenvolvimento pessoal e social desde é claro que princípios como solidariedade, justiça social e civilidade estejam incluídos.
Da leitura se extrai o óbvio, então, qual o motivo da inércia ? Concordamos, mas não passa disto.
O fato é que, a meu ver, ninguém sabe o que fazer e ainda há os que duvidam de que algo deve ser feito.
O novo conhecimento se constrói coletivamente em processos que estão se dando, por meio de mobilizações, por meio de redes sociais fora e dentro da internet, por eventos, conferências e, o mais importante, talvez, ações pessoais.
É uma questão humana e social e não exata, portanto, não há uma resposta X correta e outra errada. Tudo é caminho…
Dom Helder nasceu há 103 anos
A vida do Dom Helder é como uma mina de ouro que precisa ser sempre e cada vez mais explorada, com um dom maravilhoso de Deus. Vida de uma beleza, que podemos dizer, diferenciada, nos seus gestos raríssimos em favor da vida dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”. Ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife em abril de 1964, disse: “Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar no coração do bispo”.
Dom Helder, pequeno na estatura, mas grande nos sonhos, nos ideais e na santidade, colocou sua vida nas mãos do Pai, com a firme convicção e com aquela confiança inabalável, que a pessoa humana é o que existe mais sagrado na face da terra porque é imagem e semelhança de Deus, tomando para si as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo, dos que mais sofrem (cf. GS 200).
O sonho carregado ao longo da vida e acalentado no seu coração foi o de colocar a criatura humana em um lugar de destaque, também num lugar bem elevado. Marcou profundamente uma época e nos deixou um grande legado e lição. A lição de que o deserto da nossa vida tem que ser fertilizado pela Palavra de Deus e que a vida está acima de tudo, que ela é mais forte do que tudo, mais forte do que a morte.
Dom Helder, com sua inteligência privilegiada, sempre demonstrou firmeza nas atitudes e coerência nas ideias, que podemos perceber através dos seus pensamentos: “Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino de que o mundo não começa nem acaba em ti”. “Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra”.
A vida de Dom Helder, com aquele corpo franzino, que se agigantava na pregação da fé e da justiça e daquela voz inconfundível e extraordinária, que se transmutava em possantes amplificadores na defesa da vida fraterna e da paz, ficou o exemplo de dignidade e marcou em profundidade a história da humanidade. Ele queria ser
lembrado com esta frase: “A imagem que gostaria que ficasse de mim é a imagem de um irmão”.
É maravilhoso saber que Deus se revelou e se manifestou, em toda sua plenitude em Dom Helder Câmara, que viveu não só para si, mas para a humanidade. Nossa intenção é fazer com que sua vida de homem de Deus, sensibilize a nossa geração, de modo especial a juventude, que mais do que nunca necessita de referenciais.
O Rosto Pascal da Igreja
Páscoa é a vitória da vida sobre a morte, trazendo a esperança e a grande oportunidade para a criatura humana assumir uma vida nova, uma vida diferente. Na Igreja, “memória”, “presença” e “profecia” é um trinômio que só se compreende a partir da Páscoa, tendo o Senhor Ressuscitado como o centro.
Nós cristãos, que moramos nesta cidade de Fortaleza, devemos ter uma ação concreta, que responda aos anseios de todos os que aqui vivem. Dom Aloísio, na carta pastoral sobre o uso e a posse do solo urbano de 31.05.1989, afirmava: “A cidade deve ser para o homem e não o homem para a cidade. Deve ser um espaço de convivência solidária para todos os que nela moram, convivência que seja resultante da convergência de esforços para tornar a cidade mais humana e também cristã” – uma cidade, de verdade, mais pascal.
A Páscoa deve ser um processo que se realiza e que acontece, através do compromisso ético, na ação pastoral, no trabalho, no convívio social e nas mais diferenciadas atividades das pessoas que t6em fé e que acreditam no futuro da humanidade e que “O Cristo, Nossa Páscoa”, com toda sua força, renova e deixa repleta de graça a face da terra, concretamente na nossa cidade de Fortaleza.
Em 1968, os bispos da América Latina, reunidos na 2ª Conferência de Medellín, Colômbia que, na abertura, contou com a presença do Papa Paulo VI, comprometeu-se que mostrariam ao mundo o rosto de uma Igreja pascal, querendo dizer ao mundo que ela era capaz de caminhar com a humanidade, peregrina e missionária na história, querendo concretamente libertar o seu povo e ser sinal do Reino de Deus e do seu projeto de amor (cf. Medellín, 5, 15).
Em Medellín, “libertação” era a palavra chave e a mais importante. O grande desafio de todos nós é apresentar ao mundo hodierno, sinais de que somos cristãos apaixonados pelo projeto pascal de Jesus, e que “não se constrói sem sacrifício, sem renúncia de si mesmo, sem cruz” (Cardeal Lorscheider).
A liturgia da Páscoa (Vigília Pascal), no dizer de Santo Agostinho, é a “Mãe de todas as celebrações” que, com seus ritos antigos, com toda sua beleza, sua profundidade poética e ao mesmo tempo profética, deve nos estimular e desafiar. Ficar só no rito, seria muito triste ao coração de Deus.
A Páscoa deve ser um grito, um clamor, um anúncio e a proclamação, numa só fé, da busca de um mundo novo que tem seu início na esperança e no amor de Deus, que quer a pessoa humana realizada e de bem com a vida. Quando é que teremos uma Igreja verdadeiramente pascal? Somos desafiados a construir essa Igreja, pela força e graça, que nasce da Páscoa.
Feliz Páscoa!
Pe Geovane Saraiva, Pároco de Santo Afonso
[email protected]
http://blogsantoafonsoce.blogspot.com/
Paulo Evaristo Arns – Lucidez e moderação
“A visão de Dom Paulo é visão ativa de paz, paz dinâmica, paz a ser construída a cada momento, buscada, conquistada na paciência e na perseverança”
Aloísio Cardeal Lorscheider
Consciencioso e de grande capacidade científica, sua tese, na Sorbonne, foi sobre A Técnica do Livro em São Jerônimo. Por Dom Aloísio Cardeal Lorscheider.
Dom Paulo Evaristo Arns completará neste ano 2000 setenta e nove anos de idade, tendo nascido aos 14 de setembro de 1921, em Forquilhinha (Santa Catarina). São setenta e nove anos vividos como Franciscano e Padre, como Bispo Auxiliar de São Paulo (Capital) e depois como Arcebispo Metropolitano, e, finalmente, Cardeal. A raiz sólida da personalidade extraordinária de Dom Paulo encontra-se na história de sua família. Pais profundamente cristãos e comunitariamente engajados. Família onde a oração, a seriedade de vida, o amor ao trabalho, a fé e confiança em Deus, a solidariedade com os demais marcavam presença.
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Postado por Paróquia de Santo Afonso às 11:35:00 AM 0 comentários
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Pe. Geovane Saraiva*
Evitar nossa própria autodestruição
Somos convidados cada ano, por ocasião da quaresma, a aproveitar como um tempo forte e sagrado, como uma grande graça de Deus, numa atitude de escuta da Palavra de Deus, de oração e ainda nos são oferecidos o jejum e a prática da caridade. A Igreja Católica no Brasil lançou a Campanha da Fraternidade no ano de 2011, antecipando-se a Conferência da Rio+20, propondo um olhar de misericórdia para com natureza, no sentido perceber como a humanidade contribui para o fenômeno do aquecimento global e da mudança do clima, ameaçando a vida em geral e de modo especial, a vida humana. Com o tema: “Fraternidade e a vida no planeta”, e o lema: “A criação geme em dores de parto”.
Sabemos que obra de Deus é uma “casa” maravilhosa, cheia de beleza e providência, prodígio divino, que devemos contemplar e louvar. “E Deus viu que tudo que tinha feito era muito bom” (Gn 1,10). Em face à gravidade de toda realidade ecológica, na sua crescente devastação, nasce uma indignação ética, que tem sua origem na luta contra a poluição do ar e da água. Urge pensar na criação, com uma nova mentalidade espiritual, que se segure e tenha seu fundamento no Evangelho e na pessoa de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo em que estamos abertos ao diálogo, indo ao encontro do Sagrado, em todas as suas expressões ou confissões que revelam e manifestam o sentido da transcendência, na religiosidade de todas as raças e de todos os povos da terra. Temos consciência que nos dias de hoje, o nosso modo de evangelizar deve ser o do consenso, de que todas as raças, culturas e religiões devem ser respeitadas e valorizadas. Eis que somos chamados a responder esses grandes desafios através da nossa fé no Deus único e verdadeiro.
O mundo deveria ser uma casa pródiga, a oferecer a criatura humana, e aos demais seres vivos da terra, todas as condições: crescimento, sobrevivência e plena realização. Um mundo harmonioso, em que todos vivessem de acordo com a vontade do seu Criador e Pai. Para nós que temos fé, a Sagrada Escritura, nos leva a louvar a grandeza e a bondade de Deus, Senhor de um mundo tão rico, vasto e belo. Os livros dos Provérbios e da Sabedoria exaltam grandeza do próprio Deus, presente e oculto nas maravilhas da natureza (cf. Pr 8, 22-31; Sb 13, 1-3). Mas a exploração desenfreada e gananciosa que o homem realiza, nas suas ações, no que diz respeito às madeireiras, mineradoras, fazendas e grandes empresas transnacionais, é de fato para destruir todo esse patrimônio, que é de toda humanidade, que é desafiada a proteger e conservar.
Hoje, mais do que nunca, temos que reconhecer a forte presença de Deus, na vida existente no planeta, vida muitas vezes não valorizada e mal cuidada, extremamente comprometida. Deus quer abrir a nossa mente e coração diante dos gritos, dores e gemidos da terra, grande casa e mãe, onde se encontram: “rios e mares, antes gigantescos úteros de vida, que vêm sendo esterilizados pela poluição industrial, esgotos, sujeira produzida pelo ser humano. Esquece-se que a água, fonte de vida, transforma-se facilmente em uma das piores fontes de morte, ao transmitir doença. Por ela navegam germes de morte até os confins da terra” (Pe. J. B. Libânio).
Não é tão somente uma moda do momento ou uma moda teológica e espiritual, o tema da ecologia e da vida que se sustenta no planeta. É um tema presente, que se manifesta e se encarna no dia a dia das pessoas, não deixando dúvida, que é uma preocupação crucial para o nosso destino, o destino da humanidade. De tal modo que é preciso enfrentá-lo com segurança e convicção, com paixão e fé, desenvolvendo a espiritualidade da confiança e coragem, ao mesmo tempo em que não se afaste de um Francisco de Assis, homem cheio de ternura, compassivo e humilde, entrando, a seu exemplo, em comunhão e diálogo com as realidades existentes na criação, começando com a própria natureza.
Temos o orgulho de possuir, no nosso querido Brasil, a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do mundo. Entretanto, toda essa riqueza está ameaçada pela destruição da floresta e de outros ecossistemas, por grandes projetos, pela expansão de monoculturas da soja e da cana de açúcar e pelo crescimento da agro-indústria ou agro-nogócio, de um modo pedratório.
É o nosso bom Deus e Pai que nos faz o convite para participar desse processo, bebendo da mesma água que bebeu a mulher samaritana. A água que nos é oferecida é o Verbo Encarnado, agindo dentro de nós, a nos dizer que somos sujeitos da nossa própria história. Somos chamados a coibir os efeitos devastadores que nos envolve, evidenciado nas mudanças climáticas, que é o ponto chave para o futuro da humanidade. “Quem beber da água que lhe darei nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água, jorrando para a vida eterna (Jo 4, 14-15). Acreditamos, que pela força do nosso compromisso, podemos olhar para um Brasil que se transforma em um ator de grande importância na construção do novo acordo planetário, para conter os nocivos e devastadores efeitos desse fenômeno, no contexto planetário.
Vivemos em uma terra, com tudo que ela contém, ainda marcada pelo sofrimento, gemendo com as dores do parto (cf. Rm 8, 22), pela destruição e saque, fruto do capricho, da ação fútil e inconsequente do homem. Daí o desafio de não só pensar e refletir sobre essa triste realidade, mas decididamente em nome de Deus, a descruzar os braços e fazer a nossa parte.
Portanto, observar o convite do Criador e Pai é imprescindível, consciente de que a única alternativa, no sentido de evitar nossa própria autodestruição. É Deus mesmo, diante da grande Conferência, “A Cúpula dos povos” – Rio+20, que quer ver-nos totalmente convertidos e sensibilizados a essa realidade ecológica, conscientes da nossa responsabilidade ética para com o planeta, profundamente contaminado e enfermo, com doenças de toda natureza.
* Pe. Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
Pe. Geovane Saraiva*
Por um mundo mais franciscano
Toda civilização precisa figuras exemplares e de referenciais, que mostrem concretamente ao mundo, os grandes sonhos e utopias, numa palavra, mostrem os valores últimos, no sentido de sustentar as motivações dos seres humanos, na sua relação e ação com seus semelhantes, com a natureza e o meio ambiente.
Hartmut Koschyk, Vice-ministro da Economia Alemã, em visita à Basílica de São Francisco de Assis – Itália, pronunciou as seguintes palavras: “Seria melhor uma Europa mais franciscana”. Segundo aparece no site http://www.sanfrancesco.org, o Vice-ministro alemão teria afirmado que “o pensamento franciscano é caracterizado pela fraternidade, bondade e solidariedade, virtudes que podem contribuir para uma nova ordem ética e econômica”.
A vida do pobrezinho de Assis não significou um abandono do mundo, do seu mundo de então, nas relações entre as pessoas, ao contrário, podemos ver na sua radical opção de vida, de um modo claro e explícito, uma dura crítica às forças dominantes do tempo por ele vivido, apontando para uma nova sociedade, baseada na solidariedade, com oportunidade para todos.
Francisco de Assis, na sua “loucura” por Deus e suas criaturas, iniciava uma nova forma de convívio humano, fazendo entender que qualquer privilégio em relação aos bens deste mundo, que são dons de Deus, só se justifica, quando o destino é o de favorecer os empobrecidos, indefesos e fracos.
O dia mundial do meio ambiente, comemorado neste dia 05 de junho, no mundo inteiro, nos faz pensar em um Francisco de Assis, que “chamava irmãos e irmãs as criaturas, mesmo as últimas, sabendo com clareza que todas e todos procediam de uma mesma e única fonte” – Deus. Daí na sua primeira ralação com a natureza, ser não de domínio e posse, mas de fraterno e terno convívio.
Que Deus nos dê a graça de sempre e cada vez mais compreender a vida humana na face da terra, aqui posta em questão no seu sentido último, a partir de Francisco de Assis, a nos dizer que temos que ter força, no sentido colocar nossos valores e projeto de vida como um todo, acima dos nossos interesses, num grande mutirão de solidariedade em favor do planeta.
Portanto, diante do clamor e de gemido da natureza, á beira do abismo, a humanidade é chamada e não tem alternativa para evitar sua própria autodestruição, a não ser fazer sua parte, tendo na mente, nos olhos e no coração, a vida do planeta como algo sagrado, inspirados nos sonhos e na força desta figura humana, que abraçou o projeto de Deus com uma comovedora ternura, tornando-se fascinado por Deus e por suas criaturas e foi exatamente este fascínio que o tornou extremamente humano.
* Pe. Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
Dom Helder: sonhos e utopias
Padre Geovane Saraiva*
“Quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade”; “Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante… Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do mundo (…)”.
“Eu sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina daqui a mil anos. Pois, ele lançou sementes destinadas a produzir uma messe abundante nesta nova época do cristianismo que esta começando agora. As suas sucessivas conversões sinalizam de certa maneira a futura trajetória da Igreja nesta nova época da história da humanidade” (Teólogo José Comblin).
E é por isso mesmo que não nos cansamos de dizer que a vida do Dom Helder é como uma mina de ouro que precisa ser sempre e cada vez mais explorada, com um dom maravilhoso de Deus. Vida de uma beleza, que podemos dizer, diferenciada, nos seus gestos raríssimos em favor da vida dos empobrecidos, dos “sem voz e sem vez”.
Ao assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife, em abril de 1964, afirmou: “Ninguém se escandalize quando me vir ao lado de criaturas humanas tidas como indignas e pecadoras (…). Disse também, com ternura e paixão: “Quem estiver sofrendo, no corpo ou na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar no coração do bispo”.
Dom Helder, pastor da paz e da ternura, sentia-se honrado quando seus inimigos o acusavam de utópico e sonhador, porque se aproximava do “cavaleiro andante”. Dom Helder dizia-lhes: “Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota depreciativa” e acrescentava: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”.
Guardemos no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança, deixada por Dom Helder Câmara, o artesão da paz e cidadão do mundo, o bispo brasileiro mais influente no Concílio Vaticano II, ao abrir o caminho para a renovação, na sua mais profunda e autêntica coerência em favor dos empobrecidos: “Se não engano, nós, os homens da Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da sociedade”.
Falou também com extraordinária paixão que falou que Deus é amor, em tom daquilo que lhe era muito peculiar, a poesia: “Fomos nós, as tuas criaturas que inventamos teu nome!? O nome não é, não deve ser um rótulo colado sobre as pessoas e sobre as coisas… O nome vem de dentro das coisas e pessoas, e não deve ser falso… Tem que exprimir o mais íntimo do íntimo, a própria razão de ser e existir da coisa ou da pessoa nomeada… Teu nome é e só podia ser amor”.
*Pe. Geovane Saraiva, sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
Pároco de Santo Afonso
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Dom Helder livre: rêves et des utopies
Padre Geovane Saraiva* Tradução: Hervé Tassigni
Quand nous rêvons seul, ce n’est qu’un rêve, mais quand nous rêvons ensemble, c’est le début d’une nouvelle réalité », “se surpasser chaque jour,á chaque instant … Non par vanité, mais pour correspondre á l’obligation sacrée de contribuer plus et toujours mieux á construire le monde (…) “.
«Je suis de ceux qui sont convaincus que les écrits de Dom Helder seront toujours une source d’inspiration en Amérique latine encore dans mille ans. Car, il a jeté les semences destinées à produire une moisson abondante dans cette nouvelle ère du christianisme qui est en train de commencer. Ses conversions successives indiquent en quelque sorte la trajectoire future de l’Église dans cette nouvelle ère de l’histoire de l´humanité “(théologien Joseph Comblin).
Et c’est pourquoi, nous ne nous lassons pas de dire que la vie de Dom Helder est comme une mine d’or qui doit être toujours et de plus en plus exploré, comme um don merveilleux de Dieu. Une vie d’une beauté, que l´on peu dire différente em ses gestes rares en faveur de la vie des pauvres, le «sans voix et sans chance.”
En assumant l’archidiocèse d’Olinda et de Recife, en Avril 1964, a déclaré: «Personne n’est choqué quand on me voit au côté des êtres humains considérés comme indignes et coupables (…). Il a également dit, avec tendresse et passion, «Qui souffre dans son corps ou dans son âme, qui, riche ou pauvre, est désespéré, aura sa place dans le cœur de l’évêque.”
Dom Helder, pasteur de la paix et de tendresse, se sentait honoré quand ses ennemis l’ont accusé d’utopique et de rêveur,car il s´ approchait du «chevalier errant». Dom Helder leur a dit: “me comparer à Don Quichotte, est loin d’être une déclaration dérogatoire” et a ajouté: “. que serait-ce du monde sans utopie et sans rêveurs”
Gardons dans lê fond du cœur ce message d’optimisme et d’espoir, laissé par Dom Helder Camara, l’artisan de la paix et citoyen du monde, l’évêque le plus influent du Brésil lors du conseil Vatican II, ouvrant la voie à un renouvellement dans sa plus profonde autentique cohérence en faveur de la pauvreté, «Si je ne me trompe, nous, les hommes de l’Église, nous devons faire au sein de l’Eglise les changements que nous exigeons de la société.”
Il a également parlé avec une extraordinaire passion que Dieu est amour, em utilisant son ton favorit : la poésie: «C’est nous, vos créatures qui ont inventé votre nom!? Le nom n’est pás et ne doit pas être une étiquette collée sur les personnes et sur les choses … Le nom vient de l’intérieur des choses et des gens, et ne doit pas être faux … il faut exprimer lê plus intime de l’intime, raison d’être et l’existence de la chose ou de la personne nommée … Votre nom est et ne pouvait être qu´amour “.
*Pároco de Santo Afonso
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Dom Helder – dreams and utopies
Father Geovane Saraiva*
“When we dream alone is only a dream, but when we dream together is the beginning of a new reality,” “Overcome yourself to yourself every day, every moment … Not for vanity, but for correspond the sacred obligation to contribute more and always better, to build the world (…) “.
“I am of those who is convinced that the writings of Dom Helder will still be a source of inspiration in Latin America to thousand years. Well, he threw seeds designed to produce an abundant harvest in this new age of Christianity that is starting now. His successive conversions indicate in some way the future trajectory of the Church in this new era of human history “(Theologian Joseph Comblin).
And that is why even if we get tired of saying that the life of Dom Helder is like a gold mine that needs to be always and increasingly explored, with a wonderful gift from God. Life of a beauty, we can say, differentiated in their rare gesture in favor of life of the impoverished, the “without voice and without time.”
By taking the Archdiocese of Olinda and Recife, in April 1964, said: “No one is offended when I come to the side of human beings seen as unworthy and sinful (…). He also said, with tenderness and passion, “Who are suffering in body or soul, who, rich or poor, you’re desperate, will take place in the heart of the bishop.”
Dom Helder, pastor of peace and tenderness felt honored when his enemies accused him of utopian and dreamy, as he approached the “knight-errantry”. Dom Helder told them: “Compare me to Don Quixote, is far from being a derogatory statement”. And added: “Woe to the world if there were no utopy, if there were no dreamers.”
Let us hold on the heart the message of optimism and hope, left by Dom Helder Camara, the artisan of peace and world citizen, the most influential Brazilian bishop at Vatican II, opening the path to renewal in its deepest and real coherence in favor of the impoverished, “If not mistaken, we men of the Church, we should make changes within the Church that we demand of society.”
He also spoke with extraordinary passion who God is love, what tone was very peculiar, poetic. “We, your creatures have invented your name? The name should not be a label pasted on people and on things … The name comes from the inside of things and people, and should not be fake … Have to express the depths of intimate, the very reason for being and existence of the thing or person named … Your name is and could only be love. ”
* Fr Geovane Saraiva, priest of the Archdiocese of Fortaleza, Writer, Member of the Academy of Letters of Municipalities of Ceará State (ALMECE), and the Metropolitan Academy of Arts in Fortaleza
Vicar of St. Alphonsus
Transl: Rhubens Levy
Morte por causa do Evangelho
Padre Geovane Saraiva*
A brutalidade e a crueldade do crime, de uma pessoa que morreu por dar testemunho de sua fé, ao denunciar mentiras e injustiças, de São João Batista, nos faz lembrar todas as pessoas que perderam a vida, numa confiança inabalável, pela causa do Evangelho, mesmo consciente de suas conseqüências (cf. Mc 6, 17-29).
João, filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, conhecido como o Precursor de Cristo pela palavra e pela vida (cf. Mc 17, 29), tendo nascido seis meses antes do Messias de Deus, não exerceu função sacerdotal, a exemplo do seu pai Zacarias, mas foi mostrado ao mundo como pregador; como um homem que desempenhou bem sua função, anunciando um batismo de penitência para o perdão dos pecados. Seu grande triunfo encontrava-se na vinda do Salvador da humanidade. Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de algo extraordinário, repleto de júbilo messiânico ao preparar o nascimento do Salvador da humanidade.
Um homem foi enviado por Deus, e o seu nome se chamava João. O Evangelho de São João, logo no início, depois do prólogo, trata do batismo realizado por João no Rio Jordão, batizando o autor do batismo, tendo como ponto alto o seu encontro com Jesus, que ao ver passar, reconhece-o e expressa deste modo: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
Para vivermos bem e realizados, é necessário que se faça o seguimento de Jesus de Nazaré, a partir da exigência, que tem origem no seu projeto de seu amor para conosco, realizada através da experiência central e decisiva, na obediência ao projeto do Pai em favor da humanidade, a exemplo de João Batista, que recebeu a indispensável missão de testemunhá-lo como luz e assim preparar um povo bem disposto a acolhê-lo.
É neste sentido que olhamos com amor e carinho para a figura de João Batista, o maior de todos os profetas, que foi imolado sem alarde e sem julgamento, vítima de maldades e intrigas na Corte Real. Sua morte brutal e violenta nos faz pensar na nossa missão de batizados, anunciadores de novos tempos, numa mística que deveria ser profundamente marcada de coragem e esperança, personificada nos seres humanos, na aspiração e no compromisso com um mundo verdadeiramente de irmãos, numa Igreja com rosto pascal. O batismo de penitência que o acompanhou no anúncio, prefigura o batismo segundo Espírito, no sentido de que as pessoas abracem a fé, transformando-se em criaturas novas.
Jesus nos indica o caminho da verdade e da vida, através dele mesmo, ao se encarnar e entrar no mundo, realizando a vontade do Pai. Daí a importância de olhar para a grandeza do homem que se alimentava de gafanhotos e mel da selva, figura humana e divina, que recebeu o maior do todos os elogios do seu Mestre e Senhor, ao afirmar: “Dos nascidos de mulher, ninguém é maior que João Batista” (MT, 11, 11). É por isso mesmo que somos convidados a falar bem alto, com palavras e com a própria vida, da renúncia, da doação e da generosidade, tendo diante dos olhos e na mente o maior de todos os profetas, que mostrou ao mundo a salvação que chegou para todos.
Foi ele que preparou o povo para o início da missão pública de Jesus, dizendo com todas as letras que ele mesmo caminharia à frente do Cristo Jesus, anunciando que os sinais dos tempos chegaram e as promessas anunciadas por Zacarias estavam para se realizar. O seu vibrante convite foi o de acordar o povo do sono, muitas vezes profundo, para reconhecer o Salvador, como o sol que veio nos visitar.
Festejar o nascimento de João Batista para a glória, significa para nós acolher e aceitar a luz revelada por ele, voz que clama no deserto: O Cristo Senhor! É proclamar bem alto, com palavras e com a própria vida, que a salvação chegou e que é uma realidade concreta para todos. É Deus mesmo a confortar, encorajar e alegrar a humanidade através desta pessoa querida. O nascimento deste menino alegrou o mundo, trazendo tempos novos e messiânicos. É a esterilidade de seu Pai, Zacarias, que se transformou em fecundidade e o homem mudo se tornou um profeta corajoso e exuberante (cf. Lc 1, 57s).
Ele é lembrado como uma pessoa que viveu com muita seriedade e com muito rigor, na austeridade e na penitência, anunciador da verdade e da justiça, prometendo tempos bons e o futuro tão esperado pela humanidade. “Consagrado de tal modo, que ainda no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da humanidade e seu nascimento trouxe grande alegria” (Missal Romano, p. 601).
* Pe. Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso
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Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara).
“A Ternura de um Pastor”, já 2ª edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider)
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso)
“Dom Helder: Sonhos e Utopias” (o pastor dos empobrecidos)
O Cardeal Lorscheider e o Vaticano II
Padre Geovane Saraiva*
Dom Aloísio Cardeal Lorscheider (1924-2007), foi quem melhor compreendeu o Concílio Vaticano II, num esforço de vivê-lo, na profunda coerência, destacando-se como defensor destemido da criatura humana em toda sua plenitude. Daí sua corajosa e profética sabedoria, ao afirmar: “O vaticano II faz-nos passar de uma Igreja-Instituição por uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora, ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda missionária”.
Jamais podemos esquecê-lo, na sua doçura e ternura em pessoa, alegria constante, posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo, pregava e anunciava o Evangelho com coragem profética e grande sabedoria, ao mesmo tempo em que carregou sempre no seu grande coração as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil.
Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília, fala assim: “como foi preciosa sua participação no Concílio Vaticano II, no início do seu episcopado. Entretanto, o significado de sua figura e o alcance de sua atuação vão muito além do interior da Igreja, repercutindo na sociedade brasileira e no mundo. Homem de diálogo, conforme o espírito do mesmo Vaticano II, empreendendo esforços para a edificação de uma sociedade justa, solidária e fraterna, querida pelo Criador e Pai”.
Seu esforço foi constante, no sentido de tornar a Igreja no século XX mais apta para anunciar o Evangelho à humanidade, especialmente quando o Vaticano II fala do dever e do direito do apostolado dos cristãos leigos, fazendo entender com todas as letras que ele vive no coração do mundo, e ao mesmo tempo são convocados a ser sal, luz e fermento, nas mais diversificadas realidades em que estão inseridos e desempenham suas funções, individual ou coletivamente, sempre em comunhão com a Igreja, através dos pastores (bispos, padres e diáconos).
Na Arquidiocese de Fortaleza, nos seus 22 anos à frente da mesma, seu modo de proceder foi como que, sine qua non, no sentido de que o povo de Deus compreendesse o seu chamado na grande tarefa de evangelizar a realidade do mundo por ele vivida. Quis ele mostrar, através de sinais e gestos concretos, que toda Igreja é missionária, no âmbito da economia, da política e, sobretudo, da promoção da justiça e da paz, sem jamais esquecer a realidade do trabalho, saúde e educação.
Dizia o Cardeal Lorscheider: “Enquanto tivermos o povo à margem, excluído do processo econômico, social e cultural, nós não podemos nos iludir que vamos resolver os problemas do Brasil”. Padre Manfredo Araújo de Oliveira interpretou com muito rigor e sabedoria esse pensamento do nosso terno e eterno pastor: “Dom Aloísio Lorscheider, com muita ternura, mas com firmeza profética, levantou sua voz em nome de Deus para denunciar as injustiças gritantes, presentes na vida dos cearenses, frente a uma sociedade que, tendo se acostumado com a miséria como algo natural, se tornava insensível aos sofrimentos humanos”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso
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Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” – 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
“Dom Helder: sonhos e utopias” (o pastor dos empobrecidos).
Cinco anos sem Dom Aloísio Lorscheider
“[…] para aprofundar e anunciar os mistérios
da nossa fé é preciso entrar no silêncio de Deus”
Dom Aloísio Lorscheider
Padre Geovane Saraiva*
Há cinco partiu para o seio do Pai o grande homem de Deus, que se fez discípulo de São Francisco de Assis, Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. De São Francisco ele afirmou: “Um homem livre, amarrado a ninguém, levando-o a redescobrir a pureza original das criaturas. Indubitavelmente, o Cântico das Criaturas expressa esta liberdade interior e exterior conseguida pelo Santo de Assis. Só uma vida inteiramente aberta a Deus e ao Irmão é capaz de dar à criatura humana o gozo da libertação, que conduz à liberdade pura e santa com que Deus nos criou”.
Um Deus que amou tanto o mundo, a nos presentear com seu Filho único neste Natal (cf. Jo 3,16), deu-nos também um amigo, um pastor, um teólogo e um Cardeal, que sabia compreender a realidade na sua conjuntura e, com suas posições bem claras e definidas, nas análises e nas conclusões teológicas pastorais, ao passar para as pessoas de boa vontade, um clima que favorecia e gerava uma confiança generalizada. Dom Aloísio nos faz pensar que o consumismo, o egoísmo e o individualismo não podem ofuscar o florescimento da alegria e da esperança dos irmãos e irmãs, ávidos a sempre mais descobrir, numa bela e maravilhosa aventura, que Deus é amor.
E foi exatamente a virtude da simplicidade e da humildade que o transformou no Cardeal que mais se destacou em todos os Conclaves e Sínodos de que participou, gerando para o mundo inteiro e, especialmente para a imprensa, uma grande expectativa. Sua palavra corajosa e profética era acolhida por todos como uma boa notícia, como algo que descia do céu! Eis o que disse Senador Pedro Simon a respeito de Dom Aloísio: “[…] sua voz, naturalmente doce, alternava-se quando era preciso confrontar os vendilhões da justiça, quando todos os jardins da democracia corriam o risco de ser alvo de bombas atiradas pelos olhares fixos da repressão. Sua voz ecoou pelos corredores das prisões […]”.
A espiritualidade franciscana foi imprescindível em todo seu trabalho e na sua caridade pastoral para com os empobrecidos chegando a se pronunciar, num artigo publicado em 1982, na Revista Grande Sinal: “À medida que passam os anos, São Francisco merece maior atenção. Em nossos dias, sobretudo, com a redescoberta do lugar social do pobre na Igreja e no mundo, o interesse pelos ideais de São Francisco faz-se mais vivo” […].
Em Francisco de Assis Dom Aloísio descobriu a verdadeira face de Deus, traçando seus passos a partir dessa realidade misteriosa: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.
Dom Aloísio, ao se tornar Arcebispo de Fortaleza (1973-1995), logo de início afirmou: “A comunidade eclesial não é feudo do bispo, mas ele é o servidor de uma Igreja que se entende a si mesma como sacramento do Reino, isto é, da presença da verdade e do amor infinito de Deus para com cada criatura humana”. Daí ele não compreender como algo natural e normal se conviver com a miséria e o acentuado empobrecimento do povo, que tinha como consequência o êxodo, o flagelo e a morte de muitos irmãos, levantando sua voz de profeta para dizer que não era vontade de Deus a realidade aqui encontrada e, ao mesmo tempo, usou de todos os meios, com uma enorme vontade de transformar essa mesma realidade, marcando profundamente a história do nosso querido Ceará. No dizer do Desembargador Fernado Ximenes, “Em pleno regime de exceção, a sociedade cearense logo sentiu os efeitos dessa guinada. As camadas desfavorecidas ou marginalizadas, os sem-terra, os sem-teto, os presos políticos, os presidiários comuns, os trabalhadores em greve – ganharam aliado de peso”.
Quando ele se tornou bispo emérito de Aparecida, veio a seguinte pergunta: O que o senhor vai fazer? Respondeu: “Sou um simples frade menor e vou fazer o que o meu provincial mandar, porque a obediência me torna livre”. Jamais podemos esquecer a chama luminosa de um coração amável e cheio de bondade, de uma pessoa humana, dotada de grandes virtudes e qualidades, de um “bispo completo”, segundo o grande teólogo Alberto Antoniazzi e nas palavras do então Senador Tasso Jereissati, “do homem mais ilustre da nossa geração, no Ceará, com a sua vida de dedicação à causa dos excluídos”, do maior benfeitor e patrimônio do povo cearense, que partiu há cinco anos, no dia 23/12/2007, deixando-nos enorme saudade.
Que a mística franciscana tão presente na vida de Dom Aloísio, ao mergulhar no Mistério da Encarnação, sobretudo, neste tempo forte do advento, que precede o Natal; também na Paixão do Senhor, ofertando ao Ceará (Arquidiocese de Fortaleza) um rosto de uma Igreja verdadeiramente pascal, na mais profunda liberdade e perfeita alegria, nos proporcione gestos concretos, no sentido de desmanchar a montanha do orgulho e do egoísmo, amparados pela simbologia do manto da paz, da justiça e da solidariedade.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.
Pároco de Santo Afonso
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Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” – 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
“Dom Helder: sonhos e utopias” (o pastor dos empobrecidos).
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A restauração da Igreja com Francisco
Padre Geovane Saraiva*
Estamos orgulhos e satisfeitos com o Papa Francisco, sem jamais esquecer o Papa Emérito Bento XVI, nos seus quase oito anos à frente da Sé de Pedro e, sobretudo, seu gesto que surpreendeu o mundo, revelando-nos o sopro do Espírito Santo, humildemente acolhido por todos os católicos no mundo inteiro, na sua renúncia, que durante seis séculos, foi tida como um sinal de fraqueza, mas que agora se transformou num gesto e atitude de extraordinária grandeza, na eleição do novo representante de Cristo da Terra, no nosso querido Jorge Mário Bergoglio.
Somos tocados e sensibilizados pela graça de Deus, através do novo Vigário de Cristo, homem convicto e corajoso, que não tem medo de dialogar com o mundo contemporâneo, nas questões internas da Igreja e nos desafios, dores e angústias do planeta, onde percebemos sua maestria e disposição, como o apanágio espiritual.
A nova fase inaugurada no dia 13 de março de 2013, com a eleição do Sucessor de Pedro, requer e clama por novos agentes e missionários, com propostas bem diretas, à luz do Evangelho, numa mensagem de alegria e esperança, no reavivamento da proposta de Francisco de Assis, onde no cântico das criaturas, Deus é louvado de modo integral, na clara afirmação da fraternidade universal.
Aquela voz que inspirou o Santo de Assis, de ir e restaurar a Igreja, está muito clara no nosso Sumo Pontífice, nos seus generosos gestos de humildade, sem esquecer na sua palavra profética, sempre causando impacto como uma boa notícia… A capela de São Damião, a Igreja Porcíúncula e Igreja de São Pedro, restauradas pelo pobrezinho de Assis, representa a Igreja inteira e a própria humanidade que precisa mais do que nunca ser restaurada.
Restaurar a Igreja de Nosso senhor Jesus Cristo hoje é tarefa nossa, dizendo não a busca do poder, do ter e do prazer, quando percebemos uma acentuada tendência de se retornar ao luxo e à glória do mundo, mesmo dentro da Igreja. É neste sentido que o Papa Francisco surpreende, impressiona e causa admiração, quando anuncia ao mundo a importância da simplicidade, do despojamento e da proximidade com as pessoas, também quebra protocolos e dispensa honrarias.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso
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