Repito o que já escrevi aqui: o jornalista e especialista em questões ecológicas, Washington Novaes nos tem alertado, com dados seguros, dos riscos que passamos, caso não tomarmos mais a sério as mudanças que estão ocorrendo no estado do planeta Terra. Tudo isso será agravado,se o atual Código Florestal for aprovado. Parece que o Estado brasileiro não gosta da naturez, nem se preocupa com o futuro da Terra e da humanidade. Veja quanto destina para o Ministério do Meio Ambiente e com ele ao IBAMA? Apenas 0,5% do orçamento.Isso é fazer-nos ridículos face ao mundo e revelar o farisaismo de nossos discursos oficiais sobre preservação ambiental. O artigo de Novaes foi publicado no dia 4/11/2011 no Estado de São Paulo: lB
O CÓDIGO FLORESTAL NO MUNDO DA ESCASSEZ
Washington Novaes
Aproxima-se a hora de votações decisivas no Senado do controvertido projeto de lei sobre um novo Código Florestal. E crescem as preocupações, tantos são os pontos problemáticos que vêm sendo apontados por instituições respeitáveis como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Academia Brasileira de Ciência, o Ministério Público Federal, o Instituto de Pesquisas da Amazônia, o Museu da Amazônia, os Comitês de Bacias Hidrográficas e numerosas entidades que trabalham na área, entre elas o Instituto SocioAmbiental e a SOS Mata Atlântica.
Não faltam motivos para preocupações graves. Entre elas: a possibilidade de transferir licenciamentos ambientais para as esferas estadual/municipal, mais suscetíveis a pressões políticas e econômicas; a anistia para ocupações ilegais, até 2008, de áreas de proteção permanente (reconhecidas desde 1998 como crime ambiental); a redução, de 30 para 15 metros, das áreas obrigatórias de preservação às margens de rios com até 10 metros de largura ( a proposta atinge mais de 50% da malha hídrica, segundo a SBPC); a isenção da obrigação de recompor a reserva legal desmatada em todas as propriedades com até 4 módulos fiscais (estas são cerca de 4,8 milhões num total de 5,2 milhões; em alguns lugares o módulo pode chegar a 400 hectares); a possibilidade de recompor com espécies exóticas e não do próprio bioma desmatado; nova definição para “topo de morro” que pode reduzir em 90% o que é considerado área de preservação permanente.
São apenas alguns exemplos. Há muitos. Para que se tenha idéia da abrangência dos problemas: o prof. Ennio Candotti (ex-presidente da SBPC), o Museu da Amazônia e outros cientistas lembram que naquele bioma há uma grande variedade de áreas úmidas, áreas alagadas, de diferentes qualidades (pretas, claras, brancas), baixios ao longo de igarapés, áreas úmidas de estuários etc.; cerca de 30% da Amazônia pode ser incluído entre as áreas úmidas e cada tipo exige uma regulamentação específica, não a regra proposta no projeto. No Pantanal, são 160 mil quilômetros quadrados.
Mas não bastassem todas essas questões, recentes portarias ministeriais (ESTADO, 29!10) e do Ministério do Meio Ambiente mudaram – para facilitar – os procedimentos obrigatórios para licenciamento de obras de infra-estrutura e logística, com o argumento de que há 55 mil quilômetros de rodovias, 35 portos e 12 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia sem licenciamento – como se o problema estivesse nos órgãos ambientais, e não nos empreendedores/construtores.
E tudo isso acontece no momento em que as últimas estatísticas dizem que o desmatamento na Amazônia permanece em níveis inaceitáveis: em sete meses deste ano foram mais de 1.800 quilômetros quadrados, número quase idêntico ao de igual período do ano passado (Folha de S. Paulo, 1/11). E no momento em que se reduz a área de vários parques nacionais na Amazônia para facilitar a implantação de hidrelétricas questionáveis. Esquecendo a advertência do consagrado biólogo Thomas Lovejoy: o desmatamento no bioma já chegou a 18%; se for a 20%, poderá atingir o “turning point” irreversível, com conseqüências muito graves na temperatura e nos recursos hídricos, ali e estendidas para quase todo o país. É uma advertência reforçada por estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Escritório Meteorológico do Hadley Centre, da Grã-Bretanha. Já o prof. Gerd Sparoveck, da USP (ESTADO, 26/10) adverte: o passivo com o desmatamento no país já é de 870 mil quilômetros quadrados.
E ainda se pode perguntar: mesmo admitindo a hipótese otimista de o Congresso rejeitar todas as mudanças indesejáveis – hipótese difícil, dado o desejo de grande parte dos congressistas de “agradar” o eleitorado ruralista e parte do amazônico (que vê no desmatamento oportunidade de empregos e renda) -, mudará o quadro, lembrando que o Ministério do Meio Ambiente (e, por decorrência, o Ibama) tem apenas cerca de meio por cento do orçamento da União ? Não esquecendo que o Ibama só tem conseguido receber cerca de um por cento das multas que aplica a desmatadores ?
Estamos numa encruzilhada histórica, reforçada pelo fato de a população do planeta haver chegado a 7 bilhões de pessoas e caminhar para pelo menos 9 bilhões neste século – o que exigirá o aumento da oferta de alimentos em 70%, quando o desperdício, hoje, nos países industrializados, chega a um terço dos produtos disponibilizados; quando nas discussões do ano passado na Convenção da Diversidade Biológica se demonstrou que o mundo perde entre US$2,5 trilhões e US$4,5 trilhões anuais com a “destruição de ecossistemas vitais”; quando a “pegada ecológica” da humanidade, medida pela ONU, indica que estamos consumindo mais de 30% além do que a biosfera planetária pode repor.
Nessa hora, em que o até ex-ministro Delfim Netto, que admite nunca haver se preocupado antes com a questão, manifesta (no livro O que os economistas pensam da sustentabilidade, de Ricardo Arnt) seu desassossego com a escassez de recursos naturais no mundo e a possibilidade de esgotamento, é preciso mudar nossas visões. Admitir que tudo terá de mudar – matrizes energética, de transportes, de construção, de urbanização, nível de uso de terra, água, minérios, tudo. Relembrar o que diz há décadas o PNUD: se todas as pessoas tiverem o nível de consumo do mundo industrializado, precisaremos de mais dois ou três planetas para supri-lo. A atual crise econômico-financeira está mostrando o quanto nos descolamos da realidade, com um giro financeiro anual (em torno de US$600 trilhões) dez vezes maior que todo o produto bruto no mundo no mesmo espaço de tempo (pouco mais de US$60 trilhões).
Se não nos dermos conta dessa insustentabilidade, razão terá o índio Marcos Terena, quando diz que “vocês (não-índios) são uma cultura que não deu certo”.
Perfeito meu amigo, como tudo que escreves. Estou relendo seu “Vida para Além da morte”, acho sua obra monumental. Andei escrevendo umas coisinhas e ficaria muito grato se pudesse ler algo. Estou lançando meu primeiro livro agora em dezembro: CRÔNICAS HISTÓRICAS. Algumas estão disponíveis em http://www.recantodasletras.com.br/autores/lucasferreiramg no filtro “Crônicas”
Abraços
Certa vez vi o Ricardo Young, em uma entrevista dizer o seguinte; “falar sobre escassez com nossa sociedade é a mesma coisa q falar com um peixe fora da água.” Pura verdade, nós fomos condicionados a ser supremos senhores das coisas, mas são as coisas q são nossos senhores, e isso ninguém entende, mexe no bolso, no habito acomodado dos muitos, é motivo de guerra e retaliações, fico perplexo qndo tento explicar a importância do CF, tem gente q nem entende nem o minimo, só qndo se fala dos possiveis ganhos econômicos, dai até se abrem a dialogo… mas pelo andar da carruagem o índio tem plena razão, a longo prazo a cultura materialista não deu certo…
Existe também um artigo muito interessante que desmantela todos os argumentos a favor do novo código florestal do ponto de vista econômico. O texto escrito por Carlos Eduardo Frickmann Young do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresenta uma série de dados que mostram que o paradigma: “desmatar para desenvolver” não passa de uma falaciosa realidade que foi maquiada para favorecer a expansão das fronteiras agrícolas pelos latifundiários a custos elevadíssimos que são externalizados. Segue o link abaixo do artigo:
http://www.ie.ufrj.br/gema/pdfs/Desenvolvimento%20e%20meio%20ambiente%20uma%20falsa%20incompatibilidade.pdf
Olá Rafael, muito bom o texto, perfeito… até compartilhei nas redes… um abraço fraterno a vc meu caro…
Infelizmente essa é a lógica pervesa capitalista. O lucro de poucos ou melhor a ganância desenfreada de megaprodutores rurais que estão se lixando para o que possa acontecer com o planeta e por consequência com a camada social mais pobre. Em que pese a insensibilidade e a miopia política de nosso governo para questões ambientais chegará um tempo em que Gaia cobrará a fatura. Pagaremos a conta, isso se sobrevivermos ao que virá.
Em tempo: Como diz o dito popular: Ministério do Meio Ambiente no Brasil é mesmo só para Inglês ver. Infelizmente!!
Abraços
Compartilhando, eu bato nessa tecla mas vou aproveitar-me de sua autoridade, fazer ecoar este post!!!!!!!
Olá Sr. Boff, a quanto tempo, andei perdendo seu e-mail, mas o que mais me preocupa e que somos 7 bilhões de bocas que carecem de alimentos, a biodiversidade em um país de dimensões como o nosso não pode ser analisada de uma maneira global, pois 10 metros de area de encosta em Santa Catarina é uma coisa no Mato Grosso é outra bem diferente…Precisamos pensar na viabilidade de se produzir alimentos, acho que a discussão é ampla.
Sérgio Ildefonso
O que dizer? Bem, com perdão do trocadilho, se eu for “especular”, eu diria que o problema ambiental – e no qual está incluído o próprio Código Florestal que se tenta aprovar – não é de ordem econômica, mas sim de ordem essencialmente moral. Haja visto a difusão e o amplo conhecimento das informações sobre a questão ambiental planetária e sobre os riscos do nosso modelo de desenvolvimento. Isso sem falar na cara-de-pau de políticos e empresários que evocam aumento de produção e de emprego quando, na verdade, querem cada vez mais gozar suas insanidades com mais poder e dinheiro…Puxa, se nós não tivéssemos uma Europa ou um EUA com seus fracassos sócio-ambientais para nos alertar, eu até diria que poderíamos nos iludir com o discurso e errar por ignorância. Mas como esquecer a destruição de florestas, o genocídio de indígenas, a poluição de mares e rios? Como não considerar as guerras, os acidentes nucleares, e as crises “naturalmente cíclicas”? A despeito de todos os indicadores – ah! esses números que polulam nas bocas dos tolos -, temos que apurar a nossa sensibilidade e nosso poder de reflexão, pois não é a Economia que nos livrará do caos, é o senso de humanidade (e este passa bem longe das regras de mercado).
“E tudo isso acontece no momento em que as últimas estatísticas dizem que o desmatamento na Amazônia permanece em níveis inaceitáveis: em sete meses deste ano foram mais de 1.800 quilômetros quadrados, número quase idêntico ao de igual período do ano passado” (Folha de S. Paulo, 1/11). É, a questão é profundamente ambígua. A população precisa sentir-se incluída nessa verdadeira “batalha”. É preciso iniciar e retomar e recomeçar iniciativas nos bairros e nas comunidades. Vamos em frente, divulgando os blogs e todos e todas que compartilham desse sonho inadiável. defender a patchamama!
Soares
Aracaju
brillante Leonardo….: No todo lo que brilla es oro en Brasil. No solo en Argentina (Ley de bosques, Ley de Minas, Hielos continentales, etc…….)se cuecen habas…
VAMOS HERMANOS LATINOAMERICANOS!!!! PECHEMOS JUNTOS. Un abrazo biocéntrico: Luis (Pichi)
Brillante Leonardo…!!! No todo lo que brilla es oro en Brasil. No solo en Argentina (Ley de bosques, Ley de Minas, Hielos continentales, etc….), se cuecen habas….
VAMOS HERMANOS LATINOAMERICANOS!!! PECHEMOS JUNTOS. Un abrazo biocéntrico: Luis (Pichi)
Caríssimo Leonardo Boff, o que tem me deixado doente, literalmente, é o quanto temos sido impotentes em relação a lutar pela preservação. Em qualquer nível, seja ambiental, social, cultural, etc.
Se nos voltarmos para o micro (considerando a Terra como o macro) que são as cidades de pequeno e médio porte,(até mesmo vilarejos) também veremos que a economia, numa visão equivocada do que seja desenvlvimento, tem sido a grande vilã.
Iludidos pelos falsos ideais de desenvolvimento que lhes trazem aqueles que desejam enriquecer a custo da destruição e insustentabilidade, seus representantes cedem espaço para a destruição de tudo aquilo que é precioso. Muitas vezes tendo como referência de desenvolvimento os modelos de grandes cidades que quase sempre só conhecem via rede Globo, onde a maquiagem do desenvolvimento e fartura se traduz em dinheiro, dinheiro, dinheiro e muitos valores questionáveis, eles se encantam com a possibilidade de trazer para o “seu povo” aquilo que pensam ser o crescimento, o desenvolvimento. Ledo engano.
Vivemos aqui em minha cidade uma situação absurda, e não fosse o nosso amigo comum, Durval, já teríamos perdido muito mais do que perdemos. Uma cidade com um solo frágil, representante mundial da civilização pois foi encontrado aqui um dos fósseis mais antigos já registrados, cidade onde nasceu a Ecologia Vegetal, de uma beleza natural inquestionável, vem sido destruída a uma velocidade absurda sem que consigamos acompanhar o ritmo nas nossas ações para impedir que isso seja feito. Desamata-se e muda-se a lei como se estivéssemos assistindo a um filme, tão absurdas são as ações.
Porém, não culpo somente a administração pública que peca pela falta de responsabilidade e decência na preservação com o tesouro natural, ambiental e arqueológico. Culpo aqueles que compram imóveis em empreendimentos onde lagoas são aterradas, riachos são desviados ou transformados em lagoas para embelezamento e lazer de condomínios; aqueles que passam por cima de qualquer coisa para instalar suas indústrias e negócios. Enquanto houver mercado para a destruição os destruidores continuarão agindo.
E nós, o que vestimos a roupagem de “ambientalistas”, de defensores da cultura e da natureza, o que se tornou um excludente social, somos achacados, ameaçados e o que é lastimável, muitas vezes até evitados por aqueles que têm nas mãos as ferramentas e poder para nos ajudar.
É muito triste assistir isso.
Ao mesmo tempo, revigorante pensar que não estamos sozinhos nessa luta.
Ainda semana passada o senado aprovou o PL que altera o artigo 23 da Constituição Federal, restringindo a atuação da Fiscalização do IBAMA aos empreendimentos por ele licenciados, ou seja, caberá aos Estados da União a fiscalização do desmatamento. Cabem ainda os vetos da Presidente.
E cadê aquele grupo de notáveis que fez aquele ato de apoio à Dilma antes da eleição e que apostava nela como pessoa capaz de governar o país e lidar com questões emblemáticas como é o caso do meio ambiente? Será que essas pessoas não tem como cobrar da presidenta ações firmes capaz de ajudar àqueles que querem defender nossas florestas? Os poucos que trabalham em órgãos ambientais do governo que tem coragem de se indignar com atrocidades são ameaçados de morte constantemente. Sem fiscalização de modo PERMANENTE os vagabundos vão aos poucos detonando nossas florestas e dizimando várias espécies de animais, pois para eles somente o dinheiro e sua ganância desmedida é que contam. Absurdos atrás de absurdos. Grupos estrangeiros se instalam no Brasil, compram áreas e áreas de fazendas e a desmatam para exportar para a Europa e EUA. Grupos estrangeiros compram áreas para pesquisarem princípios ativos de nossas riquezas biológicas e patenteiam lá fora. Grileiros que se apossam de terras e conseguem registrar tais áreas de florestas como fazendas em cartórios Brasil afora. E o que dizer da tal de Belo Monte? Ou seria “Belomorte”? Um projeto cheio de irregularidades onde impera a covardia contra os ribeirinhos, populações indígenas, quilombolas e contra nossa riquíssima biodiversidade que terá milhares de espécies dizimadas. Uma hidrelétrica de altíssimo custo para pouca produtividade e impactos irreversíveis sem precedentes. Certamente “Belomorte” interessa à grupos políticos e financeiros, que não estão interessados em alternativas como Usina Termo Solar, que poderia se utilizar do tão castigado sertão nordestino e sua abundância solar o ano todo e levar melhores condições de vida para aquele povo tão desassistido.
Do jeito que a coisa vai daqui a algumas décadas terão que alterar o hino brasileiro, suprimindo dele a frase “Nossos bosques têm mais vida”.
Abs.
Escrevi de dizer, fui eleitor de Lula e também de Dilma.
Abs.
Só o anarco-primitivismo é capaz de salvar a espécie, meu xará.
Leonardo vc é maravilhoso! muitas vezes os amigos me chamamp/ sair digo não posso to aproveitando a companhia do Leonardo Boff.
Assisti palestras suas ainda adolecente e as pessoas,não tinham noção de que o que voce falava era baseado em estudos fundamentados.
Que DEUS continue te abençoando!
Olá meu caro Leo!
então, na minha humilde insignificância cultural, eu sinto muita tristeza pelas condições, em q se encontra nosso querido pedaço de solo neste mundo imensurável… A destruição é geral, á educação é zero, e o amor ao semelhante inexistente…(sem generalizar é claro)
TUDO SE GASTA, E NADA SE CONSTROI, BELEZA , SOMENTE PARA OS PREVILEGIADOS…SE CADA UM DE NÓS, PEGÁSSEMOS UMA PAZINHA OU UM SAQUINHO, E COMEÇASSEMOS A CATAR O LIXO DAS RUAS, ACHO Q O PLANETA RESPIRARIA MELHOR.
Á SIM, como sou decendente indigena, e respeitos minhas raízes, e conservo meus princípios, aja paciência, para aturar ESSES DIÁLOGOS, ESSES CÓDIGOS, ESSES PROJETOS, Q FICAM SOMENTE DA boca pra fora, aff! quanta falta de educação…DESCULPEM!
Hello there! Would you mind if I share your blog
with my zynga group? There’s a lot of folks that I think would really appreciate your content. Please let me know. Thanks