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Transcrevemos aqui o comovente relato da visita que o bispo auxiliar de Belo Horizonte-Brumadinho, Dom Vicente Ferreira, do Padre Júlio e da assistente pastoral Marina Paula Oliveira ao Quilombo Campo Grande  em Campo do Meio-MG, vítima da truculência da polícia militar do Governador Zema do Estado, a ponto de arrancar da escola as crianças, agarradas a seus cadernos e com uma retroescavadeira derrubar a sua escola, crime contra as crianças, à comunidade e ao saber. Sem piedade e misericórdia,a determinação do Governador, seguidor do Presidente Bolsonaro e imitador de seus exemplos, foi implacável, expondo as mais de 400 famílias ao risco da contaminação pelo Covid-19. A lei escrita em papel não está acima da terra produtiva  e da vida sagradas das pessoas. A indignação de muitas pessoas, de várias partes do país e até do exterior não comoveram o coração do Governador, duro como o do faraó do Egito. Esse clamor chegou ao coração de Deus, do Deus da justiça dos humildes e o “apaixonado amante da vida”(Sab 11,24).O apelo do bispo Dom Vicente vai na linha do Papa Francisco e do evangelho de Jesus: não pagar violência com violência, mas permanecer  firme confiança de que a verdade e a justiça prevalecerão sobre os interesses meramente materiais dos que reclam e defendem a terra, abandona, ocupada pelo MST e feita um jardim de produtos agroecológicos, oferecidos a toda a região: Lboff
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Visita solidária ao acampamento quilombo campo grande

Dom Vicente de Paula Ferreira

Padre Júlio César Amaral

Marina Paula Oliveira

       Nesta última semana, acompanhamos o despejo ilegal e irresponsável no Acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais. Apesar de inúmeras reuniões, ligações, denúncias e manifestações públicas, inclusive por parte da Arquidiocese de Belo Horizonte, a ação violenta da polícia militar e do governo Zema prosseguiu, ainda que com violações de direitos humanos. A operação, em meio à pandemia, colocou em risco não só as 450 famílias do acampamento, como também as centenas de apoiadores e policiais envolvidos.

Diante da injustiça e do sentimento de frustração por não conseguir fazer valer a Constituição Brasileira – que garante o direito à terra e moradia – resta apenas uma saída: colocar o corpo físico do lado daqueles em situação de maior vulnerabilidade social.

A Comissão enviada por Dom Walmor, com a missão de prestar solidariedade às famílias acampadas, uniu-se à presença de Dom Pedro Cunha, bispo da Campanha, e ao pároco local. Pensamos que encontraríamos um povo cansado, desanimado e exausto, pelos 3 dias consecutivos de resistência e violações de direitos. Pelo contrário, encontramos um povo forte e aguerrido, unido e disposto para reconstruir tudo aquilo que foi destruído pelas mãos daqueles que teriam o dever de protegê-los.

Tivemos a oportunidade de caminhar e conhecer as plantações de café, camomila, plantas medicinais, viveiros e animais de criação. É triste perceber que num período onde o povo brasileiro passa fome, o governo despeja quem produz.

Fomos acolhidos por mulheres que estavam na linha de frente dos três últimos dias de resistência. Mulheres que cuidaram de crianças, idosos, grávidas, pessoas que passaram mal e que foram feridas. Os feridos foram cuidados com as plantas que o próprio acampamento cultivou, uma vez que foi negado o atendimento médico pelos policiais.

A alimentação foi preparada com alimentos de produção do próprio acampamento e doações de parceiros, uma vez que os policiais não permitiram a entrada de produtos externos.

A mesma razão que o governo Zema utilizou para suspender as buscas das 11 joias ainda não encontradas em Brumadinho – pandemia -, não foi uma razão suficiente para impedir que centenas de vidas fossem colocadas em risco.

O povo, por sua vez, segue firme e inabalável. Fomos acolhidos por uma das famílias que foi despejada. Eles sorriram para nós. Disseram que só suportaram por causa da solidariedade vinda de todo canto do Brasil. Vão reconstruir cada tijolo. Replantar cada muda.

Se os poderosos vão conseguir dormir em paz, ainda não sabemos. Mas sabemos que as centenas de famílias e apoiadores que resistiram, dormirão na certeza de que estavam do lado certo da história, ainda que este caminho exija a resiliência incansável, própria da fé, da esperança e da caridade que brotam do reinado de Deus, em nossa história, inaugurado por Nosso Senhor Jesus Cristo.

fotos: Agatha Azevedo fotos: Agatha Azevedo

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A Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (RENSER), Em sintonia com o Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra,  responde aos apelos de uma Igreja em saída, comprometida com os mais pobres, envolvendo ministros ordenados, religiosos e leigos no anúncio do Evangelho, sobretudo na formação e no fortalecimento das comunidades eclesiais, promovendo um diálogo constante entre fé cristã e a defesa de uma Ecologia Integral.

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