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Nota de apoio ao Padre Edson Adélio Tagliaferro contra o projeto de morte de Bolsonaro

08/07/2020

Nota de apoio ao Padre Edson Adélio Tagliaferro. Mais de cem padres já assinaram

“Nós, que nos denominamos ‘Padres da Caminhada‘, articulados em nível de Brasil, viemos nos solidarizar com você, nosso irmão, Padre Edson Adélio Tagliaferro. Nós nos alegramos com sua voz profética que se levanta para denunciar todo esse projeto de morte que vem sendo implantado! Saiba que você não está sozinho. Conte sempre conosco e com nossa solidariedade. E agradecemos ao bom Deus que não deixa morrer a profecia. Continua a suscitar homens de coragem e de compromisso. Continue sendo essa voz que denuncia tudo o que diminui ou mata a vida de nosso povo“, escrevem os Padres da Caminhada, de todo o Brasil, em apoio ao Padre Edson Tagliaferro.
Eis a nota.

“Se calarem a voz dos profetas
As pedras falarão
Se fecharem os poucos caminhos
Mil trilhas nascerão”
(Pão de Igualdade, de Cecília Vaz Castilho)

O texto bíblico que inspirou esta música de Cecília Vaz Castilho está no contexto da entrada de Jesus em Jerusalém. Os fariseus, neste momento, pedem que Jesus mande as multidões se calarem! Logo depois Jesus chora sobre Jerusalém, por causa da falta de acolhida à sua proposta de vida e liberdade. A seguir Jesus entra no Templo e expulsa de lá os comerciantes, acusando-os de desvirtuarem a religião, que manipula Deus e a fé do povo em vista de seus interesses (cf. Lc 19,39-40). Alguns teólogos afirmam que aqui está o motivo pelo qual Jesus foi condenado, pois mexeu no coração do sistema político-religioso-financeiro.

Frei Betto constantemente nos lembra que somos seguidores de um perseguido político, que foi assassinado pelo centro do poder de sua época. Jesus não se dobrou nem compactuou com os poderes de sua época. Permaneceu firme à missão que Deus lhe confiou, instaurou o Reino com seu jeito de ser e de viver. Pautou sua vida pelo carinho e acolhida. Mas, nem por isso, foi conivente com as injustiças e tantos desmandos de sua época. Jesus, neste sentido, foi verdadeiramente Profeta. Não se calou nem permitiu que calassem a voz dos pequenos e humildes, das mulheres e dos pecadores, dos marginalizados e tantos intocáveis de seu tempo. Pela fidelidade a Deus e ao Povo levou até o fim a sua missão profética, sem pedir licença nem perdão aos poderosos.

Em sintonia com o Mestre, Profeta e Mártir Jesus, não podemos nos calar diante de tanta injustiça e de tantos desmandos. Um projeto de morte vem sendo instalado em nosso País. Este projeto de morte congelou os investimentos no campo social por 20 anos, cortou direitos trabalhistas, deu um golpe terrível na Previdência; ainda temos muitos outros sinais desta necropolítica. Além disso, está avançando numa política econômica ultraliberal que tem como horizonte a privatização de empresas estatais importantes e abre mão da soberania, submetendo-se a uma subserviência ao poder imperial e econômico estadunidense. Este projeto não leva em conta a vida dos pobres e descartáveis da sociedade.

Se não bastasse isso, ainda encontramos “cães de guarda” do capital e desta necropolítica. São pessoas que se empenham diuturnamente a fazer linchamentos de pessoas pelas redes sociais. Seus instrumentos são largamente conhecidos e estão sob investigação. Disseminam notícias mentirosas e destroem a vida dos que se opõem a este projeto de morte. Qualquer um que se atreva a discordar ou levantar sua voz contra este projeto e seus executores sofrem ataques sem dó nem piedade, chegando ao ponto de sofrerem também ameaças e pressões.

Mas a profecia na Igreja, embora não seja a maioria, resiste! Ela não está adormecida! Temos muitas comunidades e pessoas que mesmo diante das perseguições e tribulações mantêm-se fiéis no seguimento do Morto-Ressuscitado, anunciando o Reino e denunciando as mazelas dos poderes deste mundo. Queremos trazer presente e agradecer a Deus por uma voz que não se calou! Ousou levantar sua voz profética diante desse projeto de morte, para anunciar o projeto de Jesus, pois “quem comunga o seu Evangelho não pode se associar ao reino da morte” (Padre Edson Adélio Tagliaferro). No dia 02 de julho, quinta-feira, Padre Edson refletiu sobre as leituras e sobre a realidade em que nos encontramos. Não foi discurso de político! Foi discurso teológico! Assim como os profetas e Jesus, Padre Edson denunciou a opressão e o descaso que nosso povo brasileiro está submetido. Não é possível ficar impassível, indiferente diante de tantas mortes, de maneira especial dos empobrecidos e dos esquecidos.

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Dante Alighieri retrata o futuro dos indiferentes, ou no dizer de Jesus, daqueles que são mornos, nem frios nem quentes, que ocuparão o vestíbulo (ante-inferno) aqueles que não se rebelaram nem foram fiéis a Deus (Inferno, Canto III, 61-63), o qual John F. Kennedy interpretou da seguinte forma: “No inferno os lugares mais quentes são aqueles reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise”. Não existe neutralidade quando o povo, principalmente, os empobrecidos são solapados em seus direitos e em sua justiça. Por emprestar sua voz à voz dos empobrecidos, Padre Edson teve um gesto de pai e de profeta. E agora, por tal atitude, ele tem sido vítima de ataques e manipulações de grupos que estimulam o ódio, a mentira e o linchamento virtual. Tais práticas são próprias de quem está distante do Deus do Reino, pois “o Diabo é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44).

Por isso, nós, que nos denominamos “Padres da Caminhada”, articulados em nível de Brasil, viemos nos solidarizar com você, nosso irmão, Padre Edson Adélio Tagliaferro. Nós nos alegramos com sua voz profética que se levanta para denunciar todo esse projeto de morte que vem sendo implantado! Saiba que você não está sozinho. Conte sempre conosco e com nossa solidariedade. E agradecemos ao bom Deus que não deixa morrer a profecia. Continua a suscitar homens de coragem e de compromisso. Continue sendo essa voz que denuncia tudo o que diminui ou mata a vida de nosso povo. As palavras do profeta continuam a ecoar em nossas mentes e em nossos corações: contra uma religião refém das conveniências e dos intimismos, “que o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso” (cf. Am 5,21-27). Vale também lembrar o Papa Francisco, na Exortação Evangelii Gaudium: “A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente pelo seu povo” (268) e de seu chamado a cada um de nós que é a de “que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (270). Somente quem tem amor a Deus e ao povo é capaz de não se conformar e calar. Quem tem a capacidade de se sensibilizar pelas chagas do povo precisa gritar para que toda essa morte cesse! “Se eles calarem, as pedras gritarão!”.

Conte sempre com nosso apoio neste momento e em toda a sua caminhada. Não estamos sós! Estamos distantes, mas unidos num mesmo sonho, num mesmo projeto. Continue sendo sempre este grande profeta e conte sempre com nossas orações.

Padres da Caminhada

Assinam essa Nota de Solidariedade, em 07 de julho de 2020.

1. Pe. Alex José Kloppenburg – Diocese de Bagé – RS
2. Pe. Altair Manieri – Arquidiocese de Londrina – PR
3. Pe. Antônio Carlos Fernandes, SDN – Diocese de Caratinga – MG
4. Pe. Antonio Manzatto – Arquidiocese de São Paulo – SP
5. Pe Antônio de Jesus Sardinha – Diocese de Jales – SP
6. Pe. Adeventino Alves de Oliveira – Diocese de Apucarana – PR
7. Pe. Antonio Lopes de Lima – Diocese de Limoeiro do Norte – CE
8. Pe. Francisco de Aquino Júnior – Diocese de Limoeiro do Norte – CE
9. Pe. José Amaro Lopes de Sousa – Diocese de Xingú-Altamira – PA
10. Pe. Bruno Steim – Diocese de Limeira – SP
11. Pe. Celso Carlos Puttkammer dos Santos – Prelazia do Marajó – PA
12. Pe. José Cristiano Bento dos Santos – Arquidiocese de Londrina – PR
13. Pe. Danilo Pena – Diocese de Jacarezinho – PR
14. Pe. Dennis Koltz, PIME – Macapá – AP
15. Pe. Diego Giuseppe Pelizzari – Conselho Indigenista Missionário – CIMI
16. Pe. Domingos Rodrigues – Diocese de Bagé – RS
17. Pe. Dirceu Luiz Fumagalli – Arquidiocese de Londrina – PR
18. Pe. Edegard Silva Júnior, ms – Diocese de Pemba – Moçambique
19. Pe. Edson André Cunha Thomassim – Diocese Novo Hamburgo – RS
20. Pe. Edson Zamiro da Silva – Diocese de Apucarana – PR
21. Pe. Eduardo Milaré – Diocese de Limeira – SP
22. Pe. Ezael Juliatto – Arquidiocese de São Paulo – SP
23. Pe. Ferdinand Doren, SVD – Diocese de Campo Limpo – SP
24. Pe. Flávio Corrêa de Lima – Diocese de Novo Hamburgo – RS
25. Pe. Francisco Gecivam Garcia – Arquidiocese de Maringá – PR
26. Pe. Genivaldo Ubinge – Arquidiocese Maringá – PR
27. Pe. Geraldino Rodrigues de Proença – Diocese de Apucarana – PR
28. Pe. Gilberto Tomasi – Diocese de Caçador – SC
29. Pe. Hermes Antonio Tonini – Diocese de Lages – SC
30. Pe. Ivanil Pereira da Silva – Diocese de Umuarama – PR
31. Diac. Jorge Luiz A. Souza – Arquidiocese de São Paulo – SP
32. Pe. Jorge Pereira de Melo – Arquidiocese de Londrina – PR
33. Pe. José Amaro Lopes de Sousa – Diocese de Xingú-Altamira – PA
34. Dom José Mário Stroeher – Bispo Emérito do Rio Grande – RS
35. Pe. José Roberto Moreira – Diocese de Lages – SC
36. Pe. Júlio R. Lancellotti – Pastoral Povo de Rua – Arquidiocese de São Paulo – SP
37. Pe. Leandro de Mello – Diocese de Passo Fundo – RS
38. Pe. Leomar Antonio Montagna – Arquidiocese de Maringá – PR
39. Pe. Lino Batista de Oliveira – Diocese de Apucarana – PR
40. Pe. Lino Mayer – Diocese de Rio Grande – RS
41. Pe. Luis Miguel Modino – Miss. Fidei Donum – Arquidiocese de Manaus – AM
42. Pe. Luiz Carlos Palhares – Diocese de Apucarana – PR
43. Pe. Frei Luiz Favaron, OFM – Diocese de Santo André – SP
44. Pe. Luiz Roberto Sandini – Diocese de Chapecó – SC
45. Dom Manoel João Francisco – Diocese de Cornélio Procópio – PR
46. Pe. Manoel José de Godoy – Arquidiocese de Belo Horizonte – MG
47. Pe. Marcelo de Oliveira – Arquidiocese de Campinas – SP
48. Pe. Marcos Roberto Almeida dos Santos – Arquidiocese de Maringá – PR
49. Pe. Mauro Batista Pedrinelli – Arquidiocese de Londrina – PR
50. Pe. Mauro Sérgio Souza Nunes – Diocese de Nova Friburgo – RJ
51. Pe. Medoro de Oliveira – Diocese de Valença – RJ
52. Pe. Nelson Muchenski – Diocese de Apucarana – PR
53. Pe. Paulo Sérgio Bezerra – Diocese de São Miguel Paulista – SP
54. Pe. Paulo Joanil da Silva, OMI – Belém – PA
55. Pe. Raimundo Vanthuy Neto – Diocese de Roraima – RR
56. Pe. Ramiro Mincato – Diocese de Novo Hamburgo – RS
57. Pe. Ricardo Aguiar de Araújo – Diocese de Limeira – SP
58. Pe. Rui Fernando de Oliveira Santos –Diocese de Apucarana – PR
59. Pe. Sebastião Rodrigues da Silva – Diocese de Cornélio Procópio – PR
60. Pe. Severino Leite Diniz – Diocese de Lins – SP
61. Pe. Sisto Magro, PIME – Macapá – AP
62. Pe. Vileci Basílio Vidal – Diocese de Crato – CE
63. Pe. Vilmar Gazaniga – CEBs Regional Sul IV – Diocese de Caçador – SC
64. Pe. Vilson Groh – Arquidiocese de Florianópolis – SC
65. Pe. Frei Wilmar Villalba Ortiz, OFM – Diocese de Ubatuba – SP
66. Pe. Sérgio Eduardo Mariucci, SJ – Unisinos – Diocese de Novo Hamburgo – RS
67. Pe. Sérgio Silva – Diocese de Novo Hamburgo – RS

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